Alterações climáticas: Verdade ou Ficção Ao longo dos anos já ninguém parece questionar que têm sido cada vez mais frequentes as ondas de calor que secam tudo no Verão e que, associadas ao vento, tendem a provocar uma forte probabilidade de descontrolo dos incêndios florestais. Este aumento da temperatura global atinge-nos fortemente, sobretudo num país, impreparado, pobre de meios, e que não tem um Estado coordenado e de rápida reação.
O fogo de Monchique, o maior da Europa este ano, provocou um enorme prejuízo nas populações e no património natural único que aquele local representa. O fogo que alastrou sem tréguas, atingindo povoações, e espaços urbanos, pareceu ser uma força incontrolável, para a qual o Estado não teve uma resposta à altura das expectativas da população.
As alterações climáticas são uma razão, sem dúvida alguma, que justifica a agressividade destes fogos florestais. Porém, quais os planos de adaptação às alterações climáticas que estão elaborados ou implementados? Qual o valor que tais medidas previstas possuem nos orçamentos camarários ou do Estado?
Em Faro, na qualidade de vereadora do executivo passado, procurei dar o exemplo e aderir a um plano de alterações climáticas para o concelho, de forma até precoce, que iria produzir dentro das suas medidas, algumas sessões de formação às pessoas, assim como discussões e debates para que todos em conjunto, como coletivo, pensemos de que forma nos devemos adaptar.
O litoral, com a subida das águas do mar e o aumento das tempestades, irá corresponder a uma zona vulnerável que urge também intervir, e para a qual não tem existido meios. Será fundamental perceber as adequadas formas de adaptação e explicar à população.
Planos que ficam na gaveta
Todos sabiam que Monchique corria um risco muito elevado de incêndio, tendo sido produzidos diversos planos: o municipal de defesa da floresta contra incêndios, realizado pela autarquia, e o plano de intervenção para a constituição de uma ZIF justamente para o local onde ardeu, realizado por uma Associação de Produtores Florestais. Porém, nenhum teve uma execução no terreno, porque, por um lado, o último não foi aprovado em tempo útil, e por outro, a Câmara Municipal provavelmente não tem meios e orçamentos suficientes para, em tempo útil, implementar as medidas. É o nosso destino, realizar planos do ponto de vista teórico perfeitos, mas de difícil execução e tantas vezes parados nas entidades, ou deslocados da realidade da propriedade atual.
Algumas medidas de minimização de impactes
Em Portugal, as nossas cidades são quentes e secas, com pouca vegetação, pouca relação entre a área verde e a população vigente. Será fácil entender que uma das medidas de minimização das alterações climáticas será o aumento das coberturas verdes, dos espaços verdes, das árvores, da relação entre o construído e o vazio/ permeável.
A água, como elemento fundamental de combate ao calor, poderá ser melhor utilizada, existindo hoje técnicas de aproveitamento adequadas para as nossas cidades. As fontes quando mantidas, assim como jogos de água, sejam estes no próprio pavimento ou de outros suportes, devem ser reinventadas. Já, desde tempos ancestrais, da época muçulmana, que a água faz parte da nossa arquitetura e das nossas cidades, pelo que, a adaptação das nossas cidades deverá ir buscar as nossas origens.
As zonas de ensombramento, como velas, pérgulas em madeira, nas zonas do litoral, estruturas em rede metálica em praças abertas, serão cada vez mais necessárias, embora, por vezes, mal compreendidas. Os equilíbrios são necessários, ao aumento dos efeitos das alterações climáticas é necessária capacidade de adaptação e minimização destes impactes. A reação eficaz, tanto ao nível do território como no desenho urbano das nossas cidades, só é possível se compreendermos o que nos rodeia, e sejamos rápidos a executar os nossos planos.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Agosto)