Vivemos uma crise financeira e económica global sem precedentes. O turismo não é excepção. Nunca é.
Nem os mais importantes gurus da economia mundial foram capazes de a prever e, muito menos, encontrar as soluções para a resolver e ultrapassar.
A “Tempestade”, desta vez mais destruidora que nunca, deixou o barco a navegar à deriva, sem leme nem mastro, comandante e tripulação sem alento, orando aos santos da sua devoção, pedindo uma qualquer salvação milagrosa, eterna ou outra.
Caracterizada por investimentos de capital intensivo e rendibilidade a longo prazo, a actividade hoteleira e turística só agora começa a interiorizar a gravidade da crise em que se encontra mergulhada. Não, não é pessimismo. É realismo. O nosso turismo tem sofrido de uma anestesia permanente, demorando demasiado tempo a despertar da longa letargia e hibernação onde tem estado comodamente arrumado.
É tempo de arregaçar as mangas e trabalhar. Trabalhar muito, e bem. (…) Principalmente, aprendam a comunicar nos media. Por favor, façam isso. O Turismo e o Algarve agradecem
Desiludam-se todos aqueles que, por razões de profissão ou cargo político, estão obrigados a apressar anúncios de bons augúrios que, não haja dúvidas, tardarão muito a chegar.
Em nome de outros interesses, conhecimentos inexistentes, maus aconselhamentos e outros, desperdiçaram-se meios, tempo e energias, sem contrapartidas visíveis, ao serviço de “arrogâncias” mal contidas e nada disfarçadas.
É preciso reinventar as competências e atribuições dos organismos responsáveis, cansados e esgotados na sua acção, capacidade criativa e promocional.
Problemas novos exigem soluções novas. Porém, e embora devidamente informados e avisados sobre o fenómeno, recuperaram-se receitas antigas, algo rebuscadas, ignorando as vozes discordantes, derramando dinheiro aos milhões em cima dos problemas, pasmando os mais crédulos e, por mais incrível que pareça, sem resultados aparentes.
Por favor, não desmintam. Fica mal, é deselegante, e sabe a desculpa de mau pagador. Assumam e partam para outra. Precisamos ser, de uma vez por todas, capazes de aceitar os erros cometidos, ser humildes na acção e simples na colaboração e cooperação. Mais que o interesse do turismo está em causa o interesse geral e colectivo.
Para contornar esta situação, persiste-se em optimismos invisíveis, ignoram-se os problemas, propagandeiam-se sucessos a partir de insucessos. Confunde-se a árvore com a floresta.
O discurso do melhor ano turístico de sempre, induz em erro agentes do sector e consumidores. Os primeiros, perante perspectivas tão animadoras, aumentam preços, enquanto os segundos, confrontados com preços mais altos e capacidades esgotadas, optam por outros destinos.
Este discurso conduz, inevitavelmente, a uma diminuição da procura, enquanto a oferta concorrente agradece e regista aumentos superiores a dois dígitos.
Os dirigentes políticos e privados do sector não têm estratégias de comunicação coerentes, não sabem que os media constituem, na actualidade, um importante factor de produção empresarial e, sobretudo, utilizam mal a disponibilidade dos media para promover os seus negócios colectivos e individuais.
Os custos, prejuízos e implicações negativas desta estratégia, profundamente errada, consubstanciados numa diminuição da procura aí estão para confirmar estes princípios. Ofertas promocionais de última hora em plena época alta não só não resolvem o problema como sabem a desculpas de mau pagador.
O que não pode continuar a acontecer é anunciar num dia o melhor ano turístico de sempre e, no seguinte, reivindicar apoios estatais e a redução dos impostos para viabilizar as empresas.
Os resultados empresariais não podem continuar a ser medidos apenas pelas taxas de ocupação e receitas, mas antes pelos lucros obtidos, caso contrário não bate a bota com a perdigota.
Os problemas só se resolvem se forem assumidos, diagnosticados e tratados convenientemente. Ignorá-los é o primeiro passo para agravar ainda mais a doença e, por essa via, a cura definitiva.
Por tudo isto, mais do que carpir mágoas, é tempo de arregaçar as mangas e trabalhar. Trabalhar muito, e bem. Reinventem a promoção interna e externa. Reinventem os organismos públicos do Estado com a tutela do turismo quer eles sejam centrais, locais ou regionais. Gastem o que deve ser gasto e onde deve. Esqueçam rivalidades, políticas ou outras. Ponham os interesses do turismo acima de outros, por mais legítimos que estes sejam ou possam parecer e, muito principalmente, aprendam a comunicar nos media.
Por favor, façam isso. O Turismo e o Algarve agradecem.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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