O “crescimento acentuado” do consumo privado e a “forte recuperação” da atividade turística impulsionaram a economia portuguesa para um crescimento de 11,9% em termos homólogos no primeiro trimestre deste ano, indicam os dados publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
É preciso, contudo, ter em atenção que este número conta com o impulso de um forte efeito de base, já que no primeiro trimestre do ano passado o país esteve em confinamento, por causa da pandemia de covid-19, o que penalizou em força a atividade económica.
Mas a economia portuguesa regista também um crescimento expressivo em cadeia, isto é, na comparação com os três meses anteriores, com o Produto Interno Bruto (PIB) a avançar 2,6%.
São números que vêm confirmar a estimativa rápida avançada há um mês pelo INE, no final de abril, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros três meses do ano a superar as melhores expetativas dos economistas.
Significam também que o PIB superou no primeiro trimestre o nível pré-pandemia, registado no quarto trimestre de 2019.
Um dos pilares da expansão da economia portuguesa no primeiro trimestre deste ano foi o consumo privado.
O INE salienta que “o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou significativamente no primeiro trimestre, destacando-se o crescimento acentuado do consumo privado”.
Os dados da autoridade estatística nacional mostram que o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB em volume passou de 5,2 pontos percentuais (p.p.) no 4º trimestre de 2021 para 10,1 p.p. nos primeiros três meses de 2022.
Por componentes da procura interna, O INE destaca o crescimento do consumo privado (agregado que inclui despesa final das Instituições Sem Fim Lucrativo ao Serviço das Famílias), com uma variação homóloga de 12,6% no primeiro trimestre em termos reais (5,4% no trimestre anterior). Muito por causa do crescimento da despesa em diversas atividades de serviços, após o levantamento da generalidade das restrições à atividade económica no contexto da pandemia de covid-19.
Ao mesmo tempo, o consumo público aumentou 4,8% em termos homólogos, mais 2,8 p.p. que no trimestre anterior, “refletindo igualmente um efeito de base associado às restrições impostas em janeiro e fevereiro de 2021 no contexto da pandemia”, explica o INE.
Já o investimento abrandou, passando de um crescimento de 7,1% no quarto trimestre de 2021, para 5,4% no primeiro trimestre de 2022.
Um abrandamento explicado pela variação de existências (variável que mede os stocks das empresas), que passou de um contributo de 0,2 p.p. para a variação homóloga do PIB no quarto trimestre de 2021, para um contributo de -0,1 p.p. no primeiro trimestre de 2022.
Quanto à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – a variável chave para analisar o comportamento do investimento – aumentou 5,8% em termos homólogos nos primeiros três meses do ano, taxa idêntica à observada no quarto trimestre de 2021.
A RETOMA DO TURISMO
Outra das alavancas do crescimento no primeiro trimestre deste ano passa pela a recuperação do turismo. Tal como o Expresso já avançou, a retoma no sector está a ‘salvar’ o crescimento económico em Portugal este ano. E é um dos principais fatores que levou Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional a reverem em alta os seus cenários para a expansão do PIB português este ano, apesar da guerra na Ucrânia e da escalada da inflação.
O INE salienta que “o contributo positivo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB também aumentou, verificando-se um ligeiro abrandamento das Importações de Bens e Serviços em volume e uma aceleração das Exportações de Bens e Serviços, refletindo a forte recuperação da atividade turística”.
Assim, nos primeiros três meses deste ano, o contributo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB aumentou para 1,7 p.p. (0,7 p.p. no trimestre precedente).
Foi o resultado da aceleração das exportações de bens e serviços, passando de uma variação homóloga de 16,1% no 4º trimestre para 18,3%, enquanto as importações de bens e serviços em volume aumentaram 13,1% em termos homólogos no primeiro trimestre, uma taxa ligeiramente inferior à observada no trimestre anterior (13,6%).
O INE aponta que esta evolução das exportações “deveu-se ao comportamento das exportações de serviços, que continuaram a aumentar de forma significativa, passando de uma variação homóloga de 52% no quarto trimestre para 67,2%, refletindo efeitos de base pronunciados, associados ao contexto pandémico”.
E explica que “efetivamente, o resultado do primeiro trimestre de 2022 está fundamentalmente associado à dinâmica de recuperação da componente do turismo, que cresceu 206,7% em termos homólogos (-121,5% no trimestre anterior e -62,9% no 1º trimestre de 2021)”.
Em sentido contrário, as exportações de bens abrandaram no primeiro trimestre do ano, para uma variação homóloga de 3,7% (4,6% no 4º trimestre).
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL