O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Hélder Martins, disse ao POSTAL lamentar que a orgânica do novo Governo, anunciada esta quarta-feira, junte o Turismo com o Comércio e Serviços na mesma secretaria de Estado.
“Embora ainda não se conheça nome do novo secretário de Estado, o ideal seria um Ministério do Turismo, pela importância do setor”, salienta Hélder Martins que realça que “o mínimo que se esperava era a existência de uma secretaria de Estado só para o Turismo, como vem acontecendo há muitos anos”.
Para o presidente da AHETA, a secretaria de Estado do Turismo, Comércio e Serviços agora criada é, em termos orgânicos, uma clara forma de não reconhecer a importância desta atividade. Por isso a AHETA vê esta decisão com muita tristeza!”.
Sobre o novo ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, ministério que vai tutelar o Turismo, Hélder Martins dá o benefício da dúvida: “é um bom académico, mas tem o benefício da dúvida até provas dadas. Há que fazer uma boa referência ao ex-ministro Siza Vieira, um profundo conhecedor das empresas e que lamentavelmente não continua”.
O ROSTO DO PRR ASSUME A PASTA DA ECONOMIA
António Costa Silva, que em junho de 2020 dizia que integrar o Governo não fazia parte das suas “ambições”, nem do seu “ADN”, vai assumir o Ministério da Economia e do Mar, depois de uma carreira ligada ao setor do petróleo.
“Estar no Governo não faz parte das minhas ambições e não faz parte do meu ADN”, afirmou em entrevista à Lusa o então presidente executivo (CEO) da Partex, cargo que, entretanto, deixou, depois da dissolução da empresa, e que desde maio de 2020 esteve à frente elaboração do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O EPISÓDIO QUE O MARCOU PARA SEMPRE
O gestor nasceu em 23 de novembro de 1952 em Catabola, no planalto central do Bié, de uma família já enraizada em Angola. Na mesma entrevista, contou um episódio da sua vida neste país, que o condicionou “para sempre”: foi preso e colocado frente a um pelotão de fuzilamento.
“A minha vida depois disso é uma espécie de bónus, poderia praticamente ter ficado ali, há coisas que nos condicionam para sempre”, disse o engenheiro de minas, que na altura da prisão era um estudante universitário de 25 anos, em Luanda.
Costa Silva, que se afirma como “claramente um homem que vem da esquerda”, esteve preso entre 1977 e 1980 na prisão de S. Paulo, na capital angolana.
Foi nesse período que chegou a ser colocado “frente a um pelotão de fuzilamento”, ouviu o ruído das armas, mas elas não dispararam: “Nunca soube porquê”, disse.
O JOVEM QUE QUERIA MUDAR O MUNDO
A sua atividade política como líder do movimento associativo iniciou-se antes do 25 de Abril, contra o regime colonial, e prosseguiu depois da independência de Angola: “Éramos jovens e queríamos mudar o mundo”, recordou.
“Fui líder do movimento associativo na cidade de Luanda, criámos os chamados ‘Comités Amílcar Cabral’ e tivemos grandes batalhas políticas, até quase ao limite da rutura e da colisão com o próprio regime”, afirmou.
É na sequência dessa atividade que veio a ser preso, em dezembro de 1977, onde foi “barbaramente agredido e torturado quase dia sim, dia não, no primeiro ano de prisão”, recordou.
CARREIRA LIGADA AO PETRÓLEO
Licenciou-se em engenharia de minas pelo Instituto Superior Técnico, juntando depois um mestrado em engenharia de petróleos no Imperial College, em Londres, e um doutoramento sobre reservatórios petrolíferos, também em Londres e Lisboa. Tem três filhos.
Começou a trabalhar na Sonangol, depois na Companhia Portuguesa de Serviços (CPS), foi diretor executivo na multinacional francesa Compagnie Generale de Geophysique (CGG), onde coordenou projetos de exploração de petróleo no Bahrein, México e na Rússia e, mais tarde, no Instituto Francês de Petróleo, em Paris, onde lidou com alguns dos maiores campos de gás do mundo (Argélia, Venezuela, Arábia Saudita, Irão).
Em 2003 assumiu a presidência da Comissão Executiva do grupo Partex, petrolífera da Gulbenkian, que em 2019 foi vendida à empresa pública tailandesa PTT Exploration and Production. No dia 1 de setembro de 2021, anunciou a cessação de funções, depois de a única acionista ter procedido à dissolução e liquidação da petrolífera.
O ROSTO DO PRR
Em 31 maio de 2020, o primeiro-ministro António Costa convidou António Costa Silva para coordenar a preparação do Programa de Recuperação Económica e a 16 de abril de 2021, nomeou-o para presidir à Comissão Nacional de Acompanhamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Assume agora a pasta da Economia e do Mar, num ministério alargado, com três secretários de Estado: Economia; Turismo, Comércio e Serviços; e Mar.
CONFEDERAÇÃO DO TURISMO TAMBÉM OLHA COM “PROFUNDA SURPRESA E IGUAL DECEÇÃO”
Também a a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) que “é com profunda surpresa e igual deceção” que “olha para a orgânica do novo Governo, anunciada hoje pelo gabinete do primeiro-ministro, António Costa”.
“Dada a importância estratégica do Turismo para a economia do país, a CTP sempre defendeu a existência de um Ministério do Turismo (que acumulasse com as infraestruturas aeroportuárias/aviação comercial). Contudo, tal nunca se veio a verificar”, lamentou.
“Ainda assim, nas últimas duas legislaturas, o Turismo mereceu uma secretaria de Estado específica na orgânica do Governo, o que se revelou importante para o desenvolvimento do Turismo como motor económico”, referiu a organização.
“É por isso com desagrado que a CTP se depara agora com uma legislatura em que o Turismo diminui a sua importância na orgânica do Governo, já que perde exclusividade em termos de secretaria de Estado”, referiu, destacando que, “independentemente de conhecer oficialmente o nome do (a) responsável pela tutela do Turismo, continuará a defender o reforço do reconhecimento do Turismo na esfera do Estado, uma vez que é uma das atividades mais dinâmicas e competitivas da nossa economia, com potencial para ajudar ao crescimento da economia de que o país se encontra carenciado”.
O primeiro-ministro decidiu criar na orgânica do XXIII Governo Constitucional o cargo de ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, e extinguiu o Ministério do Mar que passa para a dependência do ministro da Economia.
Estas mudanças constam do comunicado emitido pelo gabinete do primeiro-ministro sobre a orgânica do XXIII Governo Constitucional, que já foi apresentada na terça-feira pelo primeiro-ministro ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Uma das novidades é a criação do Ministério da Economia e do Mar, tendo três secretários de Estado: Economia; Turismo, Comércio e Serviços; e Mar.
- Com texto do Expresso, jornal parceiro do POSTAL, e da Lusa