O investigador português João Saraiva participou como orador convidado na Conferência Extinção ou Regeneração 2023, em Londres. O especialista abordou o estudo do bem-estar dos peixes de aqualcultura no painel sobre o futuro dos alimentos aquáticos.
O líder do grupo de investigação em etologia e bem-estar animal do CCMAR (Centro de Ciências do Mar) da Universidade do Algarve, partilhou assim os estudos feitos com produtores e as respetivas conclusões. Estes culminaram nas recomendações da comissão europeia para a aquacultura.
O especialista realçou que o bem-estar dos peixes “é do interesse de todos os intervenientes” – empresas, investigadores, consumidores, organizações não governamentais (ONGs) e decisores políticos – apesar de existir ainda muito a fazer.
“Atualmente cultivam-se 400 espécies de peixes, 20 vezes mais do que os animais terrestres”
“Atualmente cultivam-se 400 espécies de peixes, 20 vezes mais do que os animais terrestres. Praticamente nada se sabe sobre a biologia da larga maioria delas”, lamentou.
O cultivo de salmão – por ser uma espécie altamente valiosa – produziu já muito conhecimento, mas essa informação não pode ser diretamente adaptada às outras espécies. Já que o salmão “é muito diferente de uma dourada, de um pregado ou de uma truta”. Há que lembrar que o grupo dos peixes é altamente diverso. Para se ter uma noção, “os humanos estão mais próximos das vacas do que as trutas do peixe-zebra”, lembra ainda.
O reconhecimento das complexidades específicas de cada espécie e o desenvolvimento de indicadores adequados “é o caminho a seguir”. Para isso é necessário, por um lado, “desenvolver os indicadores corretos para monitorizar e avaliar o bem-estar dos peixes”. Por outro, compreender que as espécies “são únicas”, os animais “são únicos” e que é preciso “adaptar os métodos de cultivo aos animais e não o contrário”, defendeu o biólogo.
Conferência juntou 740 delegados no Queen Elizabeth Hall em Londres
A conferência juntou 740 delegados no Queen Elizabeth Hall, em Londres, 340.000 participantes online em todo o mundo. Assim como oradores oriundos dos Estados Unidos, Índia, África e Europa. No evento João Saraiva deu como exemplo a experiência do grupo com os produtores e o sistema de certificação “Friend Of the Sea”. Cerca de um ano depois do primeiro contacto foram pois feitas recomendações para alteração ou implementação de alguns procedimentos “mais de metade foram concretizadas”. O investigador refere que existem casos onde as empresas as implantaram “na integra” num curto período, atestando à importância que alguma da indústria parece estar a dar ao tema.
A instalação de sistemas de atordoamento e abate, o desenvolvimento de programas de formação para os trabalhadores ou a redução dos fatores de stress e das densidades, são alguns dos exemplos.
Apesar destas empresas serem uma pequena amostra do setor, os resultados reforçam portanto o trabalho do grupo e a mais-valia para todos – produtores e consumidores – na adoção de medidas que permitam assim o bem-estar dos animais cultivados.
FishEthoGroup estuda e melhora bem-estar dos peixes e outros animais aquáticos cultivados
O FishEthoGroup é uma associação sem fins lucrativos que faz a ponte entre a ciência e as partes interessadas no sector da aquacultura: produtores, certificadores, retalhistas, ONG, decisores políticos e consumidores.
O objetivo é estudar e melhorar o bem-estar dos peixes e outros animais aquáticos cultivados, aplicando o conhecimento científico nas melhores práticas de cultivo de animais aquáticos. Desenvolve um papel único a nível mundial, trabalhando por exemplo diretamente com órgaos consultivos da Comissão Europeia. Assim como autoridades competentes nacionais de vários estados membros da UE, empresas de grande dimensão internacional e instituições de investigação de topo.
O FishEthoGroup está sediado em Portugal e a base de investigação é no Centro de Ciências do Mar (CCMAR), que é o anfitrião institucional do nosso grupo de investigação experimental.