A dona da portuguesa Criptoloja, o grupo brasileiro 2TM, diz-se “frustrado” e “extremamente dececionado” com os entraves colocados pelos bancos portugueses às plataformas ‘cripto’, que se viram, na prática, impedidas de ter contas bancárias portuguesas.
O grupo, dono da corretora brasileira Mercado Bitcoin, diz em comunicado enviado na quinta-feira, que “revela-se frustrado com os recentes acontecimentos no ecossistema financeiro português, devido aos entraves que têm sido colocados de forma unilateral e sem justificativas claras pelos bancos portugueses ao desenvolvimento das ‘exchanges’ [corretoras] nacionais”.
A 2TM, que adquiriu uma posição maioritária na Criptoloja no início deste ano, acrescenta que essa compra deveu-se ao facto do país “ser um país cripto-friendly, onde o regulador foi pioneiro em estabelecer regras e regulação clara e robusta ao funcionamento do ecossistema blockchain, e para a prestação de serviços de exchange de criptomoedas no país, especialmente no que tange às práticas de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo.”
“Na qualidade de investidores em Portugal, os responsáveis da 2TM consideram ser extremamente dececionante acompanhar o que está a acontecer no mercado português, em que as instituições financeiras dominantes usam a sua força desproporcional para restringir a evolução de um serviço já regulamentado”.
A 2TM lidou com problemas semelhantes no Brasil, tendo chegado a levar o banco Itaú à justiça, em 2015, quando este comunicou o encerramento da conta da Mercado Bitcoin, segundo a “Folha de São Paulo”, com o tribunal de máxima instância a dar razão ao banco.
Dois anos mais tarde, chegou outra vaga de encerramentos de contas. O Santander comunicava-lhes o fecho, seguindo-se o Banco do Brasil. Outras corretoras também afetadas pelo fecho compulsivo de contas levaram os bancos brasileiros à justiça.
“Em 2018, como player de mercado, tivemos uma experiência semelhante no Brasil, com os bancos brasileiros a fecharem as contas da empresa e até dos sócios. No entanto, parece-nos paradoxal ver isso ocorrer em 2022”, diz Daniel Carneiro da Cunha, vice-presidente executivo e responsável pela expansão internacional do grupo 2TM, citado no comunicado.
“Esta situação demonstra a clara posição de força dos bancos portugueses, que atuam sem ter em conta o regulador, criando reservas de mercado, e, indiretamente, incentivos justamente aos operadores “piratas” que seguirão atendendo clientes locais, sem presença local, e sem observância às regras do Banco de Portugal”, acrescenta.
“Em Portugal, nos parece paradoxal essa postura dos bancos, uma vez que o Banco de Portugal já regula a atividade de forma exemplar e pioneira. Trata-se, portanto, de uma ação de cunho privado, mas por entes também regulados, e ao nosso ver, com graves prejuízos ao desenvolvimento do sistema financeiro (…) Com essa atitude, e a despeito da atuação formidável do Banco de Portugal no tema, os Bancos privados contribuirão para um ambiente em criptoativos em Portugal que irá favorecer esses operadores piratas, com graves prejuízos a Portugal e principalmente à segurança dos consumidores”, diz o responsável.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL