Levantar dinheiro no Multibanco é um gesto banal que repetimos diariamente, mas atenção: há uma nova fraude a preocupar autoridades e utilizadores, com ataques cada vez mais discretos e difíceis de detetar.
Nos últimos meses, registou-se um aumento preocupante no número de crimes relacionados com caixas automáticos, um fenómeno que parecia controlado, mas que voltou a dar sinais de crescimento. Esta nova onda de fraude tem surpreendido utilizadores e instituições financeiras pela sua sofisticação e subtileza.
De acordo com um relatório recente da empresa FICO, especialista em análise financeira, o número de cartões bancários comprometidos através de esquemas de fraude aumentou significativamente em 2024 nos Estados Unidos, atingindo um crescimento de 96% face ao ano anterior. Foram mais de 315 mil cartões afetados apenas por esquemas conhecidos como skimming, prática que também começa a preocupar as autoridades na Europa, incluindo Portugal.
Segundo o mesmo relatório, citado pelo site Executive Digest, esta fraude é realizada através da instalação de pequenos dispositivos ocultos nos leitores dos cartões dos caixas automáticos, capazes de copiar dados essenciais, como o número do cartão, códigos de segurança e o PIN dos utilizadores.
Como funciona exatamente este esquema?
Os criminosos usam sobretudo três técnicas principais: instalam dispositivos nos leitores para copiar a banda magnética dos cartões, colocam câmaras ocultas junto ao teclado para registar os códigos PIN digitados, ou ainda sobrepõem teclados falsos para captar diretamente os dígitos introduzidos pelos utilizadores.
Este método permite aos criminosos aceder às contas das vítimas e efetuar levantamentos fraudulentos, fazer compras online não autorizadas, ou mesmo abrir novas contas bancárias com os dados roubados.
Um fenómeno que não desapareceu
Apesar dos avanços tecnológicos dos últimos anos, como os cartões com chips EMV ou pagamentos contactless, fraude relacionada com Multibanco continuam a ser um problema difícil de combater. Em 2023, segundo dados da FICO, mais de 3.500 instituições financeiras foram vítimas destes esquemas, um número que deixa clara a gravidade do problema.
Embora estes dados digam respeito sobretudo aos EUA, autoridades portuguesas também têm vindo a detetar novos casos isolados de fraude, sobretudo em caixas automáticos independentes, fora das redes mais controladas como o Multibanco.
Portugal está preparado, mas o perigo é real
De acordo com a SIBS, entidade responsável pela rede Multibanco, as caixas automáticos em Portugal estão equipadas com tecnologia avançada anti-skimming desde 2011, reduzindo significativamente o número de casos. No entanto, máquinas independentes instaladas em locais menos vigiados continuam a ser um ponto fraco explorado pelos criminosos.
Segundo a mesma fonte, citada recentemente, a esmagadora maioria dos poucos casos registados ocorre precisamente nestes terminais menos controlados, como as máquinas Euronet ou outros operadores independentes.
Novas técnicas: Shimming e Overlayless
Embora o skimming clássico esteja em declínio, novas técnicas estão a surgir e a ganhar terreno. Uma delas é o shimming, uma fraude mais sofisticada que usa uma lâmina ultrafina colocada dentro do leitor do cartão Multibanco, capaz de captar dados do chip EMV. Outra é o overlayless, em que câmaras ocultas altamente discretas filmam a introdução do PIN e utilizam inteligência artificial para identificar os números digitados.
Estas novas abordagens, muito mais difíceis de detetar, representam agora o maior desafio para as autoridades europeias, incluindo as portuguesas, que já estão a adaptar-se a esta nova realidade.
Novas medidas europeias já em andamento
Para responder a este crescimento da fraude, a União Europeia já aprovou novas regras através do Regulamento de Serviços de Pagamento (PSR), que entram em vigor em 2026, obrigando os bancos a partilhar dados de fraudes em tempo real com as autoridades e reforçando a transparência das operações em caixas automáticos.
Estas medidas visam precisamente combater a rápida evolução das técnicas fraudulentas e permitir uma resposta mais célere por parte das autoridades financeiras e policiais.
Conselhos essenciais para evitar cair neste esquema
Para não ser vítima destas novas fraudes, especialistas recomendam alguns procedimentos simples que fazem toda a diferença. Deve sempre verificar cuidadosamente o terminal Multibanco antes de utilizar o seu cartão, procurando dispositivos suspeitos ou teclados sobrepostos.
Outro conselho é cobrir sempre o teclado com a mão ao digitar o PIN, uma medida simples mas eficaz contra câmaras ocultas. Sempre que possível, prefira usar caixas automáticos instalados dentro de bancos ou locais públicos movimentados, e evite máquinas em áreas isoladas ou de operadores menos conhecidos.
Com estas precauções e maior atenção ao utilizar o Multibanco, é possível reduzir significativamente o risco de ser vítima destas novas fraudes cada vez mais sofisticadas.
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