“Se o lay-off já previsto no Código de Trabalho não for condicente com a evolução da situação, tomaremos medidas de simplificação, como aconteceu na pandemia”, afirmou o secretário de Estado da Economia, João Neves, em declarações aos jornalistas durante a visita às empresas portuguesas que participam a partir deste domingo na Micam, a maior feira de calçado do mundo, em Milão.
Em causa está, também, a possibilidade de apoios a fundo perdido. “Vamos olhando para a situação e, tal como na pandemia, ajustaremos o que for preciso em função das necessidades. O que importa é que se preserva a capacidade. O emprego, para podermos aproveitar o momento da recuperação. Sem isso, as perspetivas de criação de riqueza futura ficam limitadas”, precisou João Neves, admitindo que alguns sectores “vão ter muitas dificuldades em manter a produção aos níveis que tinham” devido à guerra a leste e à contínua subida de preços da energia, combustíveis e matérias-primas.
Consciente de que há atividades com mercado já suspensas na Europa, apesar desta ser uma situação ainda pouco relevante em Portugal, o governante quis deixar claro que o Governo está preparado para atuar.
Aliás, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, anunciou no sábado uma linha de crédito de 400 milhões de euros para apoiar as empresas na sequência do aumento contínuo dos preços da energia, para dar liquidez às empresas, evitando que entrem em dificuldade. E as condições de financiamento serão “em linha com as que já foram sendo praticadas”, com facilidade de acesso para as empresas, em especial quando estão em causa aumentos significativos de energia e de matérias-primas, precisou João Neves.
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Tudo isto está a ser estudado que com Comissão Europeia e deverá traduzir-se em novidades concretas esta semana, disse.
Sobre as perspetivas das exportações portuguesas, João Neves insiste em destacar “os sinais positivos do primeiro trimestre” e confiar que “se esta tendência se confirmar teremos um bom ano”. Assim, apesar do “momento de grande incerteza que se vive” mantém a “esperança de um crescimento robusto do PIB e das exportações”.
Depois da visita a algumas das 48 marcas lusas presentes em Milão, João Neves admitiu que as preocupações dos industriais estão ligadas à guerra, que é sempre um fator de “enorme instabilidade”, a par da dificuldade de acesso a mercadorias e aumentos de custos. Sublinha, no entanto, que o ambiente geral encontrado no sector “é de otimismo”.
CONFIAR NOS NÚMEROS
Manuel Carlos, presidente executivo da associação sectorial APICCAPS, confirmou ao Expresso este “clima de muita confiança” num sector que fechou 2021 com o melhor trimestre de sempre e onde “os efeitos da guerra” ainda não se fazem sentir muito para além da subida dos custos da energia, que já vinha de e é transversal a todo o mundo.
“As empresas têm dito muito claramente que estão otimistas”, afirma após ouvir vários empresários repetirem que estão a ter o melhor ano de sempre, sem esquecer que Rússia e Ucrânia representam apenas 2% das exportações do sector.
De acordo com dados da APICCAPS, os aumentos de custos no sector dos transportes, tiveram o pico histórico no que respeita ao transporte aéreo em dezembro de 2021, com um salto de 224% face à média de 2019. No transporte marítimo, o pico foi atingido em setembro, com um aumento de 600% face à média de 2019 e, no caso do preço do couro nos EUA, o recorde foi atingido em setembro último, com valores 55% acima do mesmo mês de 2020 e 30% acima de setembro de 2019.
As exportações do sector fecharam 2021 nos 1,69 mil milhões de euros, 20%, 12% acima de 2020, mas ainda 6% abaixo de 2019, e começaram 2022 a crescer 15%.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL