Espanha garantiu empenho, esta sexta-feira, 12 de agosto, na proposta alemã para um gasoduto entre a Península Ibérica, desde Portugal, e o resto da Europa e disse que uma ligação nos Pirenéus pode estar pronta em menos de um ano se França quiser.
“A interconexão pelos Pirenéus catalães pode estar operacional em oito ou nove meses do lado da fronteira sul. Por isso, é fundamental avançar de mão dada com França”, disse esta sexta-feira a ministra com a pasta da energia no governo espanhol, Teresa Ribera.
A ministra afirmou que “a intenção” do Governo de Espanha em relação a este gasoduto previsto para os Pirenéus era, “desde o primeiro momento, que fosse financiado como um projeto europeu”, que teria de ser trabalhado “em simultâneo” com França.
“Tem pouco sentido nós corrermos muito e do lado francês transformar-se num beco sem saída por não haver forma de escoar o gás”, afirmou Teresa Ribera, numa entrevista na televisão pública espanhola (RTVE).
A ministra acrescentou que este tipo de infraestruturas tem de estar preparada para uma vida útil de 30 a 50 anos e ter capacidade para no futuro transportar também hidrogénio.
O projeto do novo gasoduto dos Pirenéus, “num determinado momento, decaiu porque não era viável economicamente num contexto em que o gás russo era muito mais barato do que o gás liquefeito”, explicou a ministra.
Agora, Espanha voltou a trabalhar neste assunto com França, com o objetivo de “acelerar uma primeira interconexão com menor complexidade”, acrescentou.
Além disso, e a pensar mais no imediato, Espanha propôs aumentar a capacidade de dois gasodutos menores que já existem no País Basco, também na fronteira com França, recorrendo a novos compressores.
Neste caso, “seria uma questão de muito poucos meses, dois ou três”, afirmou a ministra.
Outra proposta espanhola é “organizar uma ponte marítima” usando petroleiros de grande dimensão que conseguem chegar a Barcelona e a partir daí levar o gás liquefeito para Itália em barcos mais pequenos.
Sobre a proposta do líder do governo alemão, Olaf Scholz, para o gasoduto pan-europeu, Teresa Ribera considerou que “a maior vantagem destas declarações” de quinta-feira é que realçam que “as interconexões na União Europeia não são uma questão bilateral”.
Espanha, afirmou, já transmitiu ao Governo alemão “a possibilidade de a própria Alemanha ser convidada para participar no grupo de trabalho que tem o objetivo de melhorar as interconexões com França”.
A ministra lembrou que Espanha e Portugal têm estado, até agora, isolados do resto da União Europeia nesta matéria.
“Há um esqueleto de gasodutos que liga os países da União Europeia, sobretudo o centro e o leste, e no entanto, no extremo ocidental, ficámos isolados. O problema são os Pirenéus, como se atravessam e como se ligam a França”, afirmou.
SOLIDARIEDADE DE ESPANHA E PORTUGAL
Outra ministra espanhola, Reyes Maroto, que tem a tutela da Indústria, Comércio e Turismo, disse esta sexta-feira que Espanha vai empenhar-se em melhorar a regaseificação europeia e que os países mais dependentes do gás russo podem contar “com a solidariedade dos países mais bem preparados”, como Portugal e Espanha.
Numa entrevista na televisão Antena 3, Reyes Maroto, questionada sobre a proposta alemã, referiu a reação do primeiro-ministro português, António Costa, que disse que a Alemanha podia contar a 100% com Portugal para a construção do gasoduto pan-europeu.
“Colocaremos todo o nosso empenho na melhoria da regaseificação e em que os países mais afetados por um futuro corte de gás russo possam ter a solidariedade daqueles que estão mais bem preparados, como pode ser o caso de Espanha e Portugal”, acrescentou a ministra Reyes Maroto.
Espanha e Portugal têm pedido à União Europeia (UE) para acelerar o aumento das interconexões para transporte de gás entre a Península Ibérica e outros países da Europa.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tem repetido nas últimas semanas que Espanha tem “a maior infraestrutura de regaseificação” da União Europeia (30% do total), que pode colocar “à disposição” dos sócios europeus, transformando-se “num ‘hub’ de gás natural liquefeito” e assim ser uma alternativa ao gás russo “de que dependem muitíssimos países” europeus.
A Rússia é o país de origem de 45% do gás importado pelo conjunto da UE, mas no caso de Portugal e de Espanha representa menos de 10%.
A Península Ibérica tem poucas interconexões com o resto da Europa e criou capacidades próprias, com investimentos relevantes nos últimos anos nesta área.
Segundo o primeiro-ministro espanhol, 20% das importações de gás que Espanha recebe nas suas infraestruturas já têm como destino outros países europeus, mas é preciso haver mais interconexões para aumentar esta percentagem.