A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) manifestaram esta quinta-feira apoio às interligações de gás e eletricidade da Península Ibérica com França, um empreendimento que consideram “urgente”.
Num comunicado conjunto enviado à comunicação social, também assinado pela Câmara de Comércio e Indústria Hispano-Portuguesa e pela Câmara de Comércio Hispano-Portuguesa, as entidades “declaram o seu apoio a todas as ações que os Governos de Espanha e Portugal venham a empreender para melhorar, o mais rapidamente possível, as interligações de gás e eletricidade da Península Ibérica com a França e, portanto, também com o resto da União Europeia”.
Para as organizações, “é urgente empreender as ligações” entre a o bloco ibérico e o resto da Europa, “incluindo possíveis melhorias no funcionamento dos mercados da eletricidade e do gás”, tendo em conta a “grave situação” que o setor energético atravessa, agravada pela invasão russa da Ucrânia.
“As interligações dos sistemas de gás da Península Ibérica e França são agora essenciais para a segurança do abastecimento do mercado europeu de gás natural e serão essenciais no âmbito da futura rede europeia de partilha de gases renováveis, em particular o hidrogénio verde”, realçaram os representantes das empresas.
Nesta declaração, que será também enviada à Comissão Europeia, ao Conselho Europeu, ao Parlamento Europeu e à Associação Europeia de Empregadores BusinessEurope, as entidades defendem que o desenvolvimento daquelas ligações “permitiria a utilização da capacidade de regaseificação das oito centrais existentes na Península Ibérica, e otimizar a capacidade de armazenamento de gás existente em Espanha e Portugal”.
Adicionalmente, as organizações empresariais apontaram que o desenvolvimento daquelas infraestruturas beneficiaria não só a Península Ibérica, que poderia acelerar a sua capacidade de produção renovável, mas também o resto da União Europeia, dado que poderia “representar uma alternativa significativa ao abastecimento de gás natural da Rússia, bem como fornecer gases renováveis como o hidrogénio verde ou o biometano”.
Na terça-feira, o ministro francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune, garantiu, em Bruxelas, que França já “não tem reticências” ao desenvolvimento das interconexões energéticas com a Península Ibérica, há muito reclamadas por Portugal e Espanha.
“Não temos reticências. Foi o caso no passado, é verdade […] Havia projetos antigos que levantavam questões, designadamente problemas de ordem ambiental, pelo que será necessário sem dúvida reconsiderar alguns projetos, mas a ideia de que precisamos de interconectar melhor o nosso mercado, sobretudo à luz desta crise, é sem dúvida importante, e não há reticências francesas sobre esse princípio”, declarou o governante.
O ministro apontou que o próprio Presidente francês, Emmanuel Macron, “há três anos apoiou de novo o processo de desenvolvimento das interconexões, designadamente entre a França e a Península Ibérica, no plano do gás e da eletricidade”.
Assumindo que não há um calendário para avançar com as interconexões, Clément Beaune concordou, todavia, que “é necessário acelerar” o processo e antecipou discussões “nas próximas semanas”.
Na passada sexta-feira, após uma reunião em Roma com os seus homólogos de Itália, Espanha e Grécia, o primeiro-ministro António Costa afirmara-se convicto de que França tem agora consciência da importância das interconexões com a Península Ibérica no contexto da diversificação das fontes de energia, lamentando que tal não tenha sido concretizado há anos.