A Comissão Europeia garantiu esta sexta-feira que vai “apoiar e encorajar” Espanha e França a avançar com interligações, nomeadamente de gás através de Portugal, para aumentar as interconexões entre a Península Ibérica e o resto da União Europeia (UE).
“Como referido no plano [energético europeu] REPowerEU, continuaremos a apoiar e encorajar as autoridades espanholas e francesas a acelerar a implementação dos três projetos de interesse comum existentes através do Grupo de Alto Nível Sudoeste Europeu com o objetivo de aumentar a capacidade de interconexão entre a Península Ibérica e a França”, indica fonte oficial do executivo comunitário em resposta escrita enviada à agência Lusa.
A posição surge depois de, na quinta-feira, o chanceler alemão, Olaf Scholz, se ter manifestado a favor de um gasoduto que transporte gás a partir de Portugal através de Espanha e França para o resto da Europa, para reduzir a atual dependência de gás russo, em altura de guerra na Ucrânia e de crise energética.
“Pensamos também que investimentos adicionais para ligar os terminais de importação de GNL [gás natural liquefeito] na Península Ibérica e a rede da UE através de infraestruturas preparadas para o hidrogénio podem contribuir ainda mais para diversificar o fornecimento de gás no mercado interno e ajudar a explorar o potencial a longo prazo de hidrogénio renovável”, adianta a fonte comunitária à Lusa.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro português, António Costa, garantiu que “a Alemanha pode contar 100% com o empenho de Portugal para a construção do gasoduto”, e já hoje garantiu que o percurso português do gasoduto para o centro da Europa já está definido, estando os “trabalhos muito avançados”.
Também esta sexta-feira o Governo espanhol garantiu empenho na proposta alemã para um gasoduto entre a Península Ibérica, desde Portugal, e o resto da Europa e disse que uma ligação nos Pirenéus pode estar pronta em menos de um ano se França quiser.
Espanha e Portugal têm pedido à UE para acelerar o aumento das interconexões para transporte de gás entre a Península Ibérica e outros países europeus, precisamente por a Península Ibérica ter poucas interligações com o resto da Europa.
O pacote energético RepowerEU, apresentado pela Comissão Europeia em meados de maio, prevê a aposta neste tipo de interligações ibéricas, esperando Portugal que se avance com projetos já antigos de interconexão com Espanha, para assim chegar ao resto da Europa, quer de eletricidade, como de gás (natural e, futuramente, hidrogénio).
O REPowerEU é o plano divulgado por Bruxelas para aumentar a resiliência energética europeia e tornar a Europa independente dos combustíveis fósseis russos antes de 2030, no seguimento da guerra da Ucrânia e dos problemas no abastecimento.
Na comunicação relativa ao REPowerEU, a Comissão Europeia defende que os atuais preços elevados da eletricidade na Península Ibérica “sublinham a necessidade” de construir interconexões, comprometendo-se a apoiar este tipo de projetos.
As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu, já que a UE importa 90% do gás que consome, sendo a Rússia responsável por cerca de 45% dessas importações, em níveis variáveis entre os Estados-membros.
Em Portugal, em 2021, o gás russo representou menos de 10% do total importado.