O brasileiro Raúl Silva, central transformado em ponta de lança na reta final da partida, ofereceu este domingo o primeiro triunfo da época ao Farense, que bateu o Estoril Praia (1-0) na oitava ronda da I Liga de futebol.
Num encontro com três bolas nos ‘ferros’, todas na primeira parte, e um segundo tempo muito fraco, o tento do experiente defesa de 34 anos no sexto minuto de descontos, celebrado de forma efusiva no Estádio de São Luís, acabou por valer os três pontos para os algarvios.
O Farense continua no 18.º e último lugar, agora com quatro pontos, a um de Estrela da Amadora e Nacional (menos um jogo), enquanto o Estoril Praia ocupa o 15º posto, com seis.
Ricardo Velho, na sequência da sua convocatória para a seleção ‘AA’ portuguesa, inédita no clube algarvio, foi homenageado pelo Farense antes do jogo – recebeu uma camisola alusiva ao facto e foi distinguido como sócio honorário – e, depois, aplaudido pelos adeptos ao minuto 33 (o seu número).
O Farense surgiu com duas mudanças em relação ao ‘nulo’ no reduto do AVS – entraram Raúl Silva e Elves Baldé –, enquanto no Estoril houve uma alteração no ‘onze’ da derrota caseira com o Sporting (3-0), com a primeira titularidade do escocês Holsgrove esta época.
Com um início de jogo equilibrado, a formação da casa foi a primeira a criar perigo, logo no seu primeiro remate enquadrado, com Cláudio Falcão a atirar ao poste esquerdo da baliza de Joel Robles, após cruzamento rasteiro atrasado de Ângelo Neto.
Poucos minutos depois, o extremo cabo-verdiano Fabrício Garcia, que pela esquerda conduziu quase sempre as principais movimentações ofensivas do Estoril Praia, ‘ganhou’ uma grande penalidade, após entrada despropositada de Artur Jorge, mas o marroquino Begraoui atirou à barra na conversão do ‘castigo máximo’, aos 16.
Com o Farense regressado ao esquema de três centrais e o Estoril em ‘4-3-3’, a partida prosseguiu sem grandes motivos de interesse, com as duas equipas ‘presas’ às amarras defensivas e sem capacidade para desbloquearem as estratégias defensivas contrárias.
As jogadas de perigo escassearam no primeiro tempo, mas na terceira oportunidade flagrante deste período, aos 35 minutos, chegou também a terceira bola aos ‘ferros’, e segunda para os anfitriões, com Elves Baldé a atirar ao poste direito da baliza ‘canarinha’ após transição rápida.
No reatamento, o Farense tentou entrar com mais dinâmica, assumindo o domínio da partida, perante um Estoril mais cauteloso e a tentar segurar o empate, mas esse ascendente algarvio raramente teve expressão em lances de golo iminente.
O extremo espanhol Álex Bermejo ainda tentou, com dois remates para fora, aos 47 e 68 minutos, mas o guardião Joel Robles passou longos minutos descansado, enquanto Ricardo Velho teve de se aplicar, no minuto 90, para evitar o golo do Estoril, numa grande defesa a um cabeceamento de Kévin Boma.
Nessa altura, já o central Raúl Silva se tinha tornado o ponta de lança improvisado, função em que seria decisivo numa vitória épica, aos 90+6 minutos, a concluir contra-ataque dos algarvios e após passe de Velásquez.
Declarações após o jogo Farense-Estoril Praia
– Tozé Marreco (treinador do Farense): “A vitória teve um sabor muito especial, por tudo o que tem sido a época do Farense, da forma que foi, com os constrangimentos que temos. É uma vitória arrancada a ferros, mas justa, de uma equipa que soube o que tinha a fazer.
O [Ricardo] Velho foi decisivo, como sempre, numa defesa teve uma intervenção de golo. De resto, tivemos duas bolas no poste e uma vitória, acima de tudo, merecida para os rapazes, que têm sido incansáveis no trabalho.
Era importante irmos por passos: quebrar a série de derrotas, não sofrer golos e depois ganhar. Temos sete jogadores lesionados e, portanto, os constrangimentos são grandes. A resposta que a equipa deu é de homens valentes e essa crença, necessária na adversidade, é que fica deste jogo.
Estou muito contente por eles, mas há uma má notícia que eu lhes dei no final do jogo: é que há muito por fazer.
Acabei por ser expulso porque fui festejar com o meu filho, que estava daquele lado [oposto aos bancos]. São momentos marcantes, mas quero repetir. Quero repetir as vitórias em casa e este ambiente.
Quando meti o Raúl Silva na frente e preparámos aquele ‘3-4-3’, se calhar passei por maluco, mas as coisas acabaram por correr bem.
[Queixas do treinador do Estoril] Se calhar, devia-se preocupar mais com o que se passa no campo. Não tenho nada a comentar. Ganhámos, ganhámos bem, é virar a página e seguir.
[A convocatória de Ricardo Velho] É absolutamente justíssima. Com todo o respeito que tenho pelo Diogo Costa, para mim, ele é o melhor guarda-redes em Portugal. E vai provar. Quando cheguei, disse-lhe que vai ter menos defesas para fazer, mas vai ser igualmente decisivo.
A carreira do [Ricardo] Velho é de dedicação, de trabalho. Nunca foi uma promessa enorme, foi à custa de trabalho e da dedicação dele. Sei que ele vai chegar a outros voos, bem merecidos, mas esta época precisamos dele absolutamente focado e exemplar no trabalho, como tem sido. Na seleção, tem tudo para ombrear com o Diogo [Costa] nas escolhas do selecionador”.
– Ian Cathro (treinador do Estoril Praia): “Quero dizer uma coisa, e espero que seja entendido com respeito, porque não sou português, mas adoro estar em Portugal e era um sonho voltar a treinar neste campeonato. Mas há coisas neste jogo que não ajudam ao crescimento do campeonato.
Isto nada tem que ver com o Ricardo Velho, cuja convocatória para a seleção foi muita merecida, pelo trabalho feito na época passada e início deste campeonato, mas ver um guarda-redes a ir para o chão com o treinador já com o quadro tático na mão [aos 87 minutos] não é bom para o futebol português. Quero passar essa mensagem, porque adoro o futebol português. Não estou a falar como alguém chateado por perder o jogo no último minuto, mas sim, estou chateado por perder o jogo no último minuto.
Olhando para o jogo de forma global, não posso dizer que tivemos grandes oportunidades. Tivemos algumas oportunidades de golo, mas a nível de jogo, com e sem bola, não foi o rendimento de uma equipa que merecia perder aqui neste campo hoje. Mas também é com a experiência que aprendemos todos e o futebol faz isso. É duro, mas vamos continuar.
Se fizéssemos golo [na grande penalidade desperdiçada], o jogo teria outra vida e ficaria mais fácil ter o controlo do jogo. Ganhávamos mais confiança. Pode ser um momento marcante, mas também acho que temos de mostrar qualidade suficiente para ir atrás do golo num momento difícil”.
Jogo disputado no Estádio de São Luís, em Faro
Farense – Estoril Praia, 1-0
Ao intervalo: 0-0
Marcadores:
1-0, Raúl Silva, 90+6 minutos.
Equipas:
– Farense: Ricardo Velho, Artur Jorge, Raúl Silva, Lucas Áfrico, Pastor, Ângelo Neto (Miguel Menino, 69), Cláudio Falcão, Derick Poloni (Velásquez, 79), Elves Baldé (André Candeias, 63), Álex Bermejo (Paulo Victor, 69) e Álex Millán (Cuba, 79).
(Suplentes: Lucas Cañizares, Paulo Victor, Marco Moreno, Velásquez, Geovanni, Cuba, André Candeias, Rivaldo Morais e Miguel Menino).
Treinador: Tozé Marreco.
– Estoril Praia: Joel Robles, Wagner Pina (Gonçalo Costa, 73), Pedro Álvaro, Kévin Boma, Pedro Amaral, Vinícius Zanocelo, Jordan Holsgrove (Jandro Orellana, 73), Michel Costa, Begraoui (André Lacximicant, 59), Fabrício Garcia (Israel Salazar, 73) e Alejandro Marqués.
(Suplentes: Kevin Chamorro, Ismael Sierra, Mangala, Jandro Orellana, Gonçalo Costa, André Lacximicant, Felix Bacher, Foe-Ondoa e Israel Salazar).
Treinador: Ian Cathro.
Árbitro: António Nobre (AF Leiria).
Ação disciplinar: cartão amarelo para Kévin Boma (09), Álex Bermejo (22), Ângelo Neto (42), Tozé Marreco, treinador do Farense (60), Michel Costa (77), Raúl Silva (77), Jandro Orellana (80), Artur Jorge (90). Cartão vermelho direto para Tozé Marreco (90+6).
Assistência: 4.921 espetadores.
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