Remco Evenepoel precipitou-se e Daniel Martínez (BORA-hansgrohe) aproveitou o erro do belga da Soudal Quick-Step para relembrar que ainda é o campeão em título da Volta ao Algarve em bicicleta, batendo-o ao sprint no alto da Fóia.
A qualidade do pelotão desta ‘Algarvia’ praticamente fez esquecer o colombiano, que hoje ‘puxou dos galões’ para demonstrar que se Evenepoel quiser ganhar pela terceira vez a prova terá de destroná-lo na estrada: o belga arrancou a 300 metros da meta, mas, com o vento de frente, acabou por ser ultrapassado por Martínez, o agora novo camisola amarela da 50.ª edição.
“Estava à espera que o Remco atacasse. Sabia que ia arrancar de longe, mas como estava com muito boas pernas, consegui ganhar”, resumiu o sempre sintético ciclista da BORA-hansgrohe, que, após a chegada à Fóia, lidera a geral com quatro segundos de vantagem sobre o campeão de 2020 e 2022.
O terceiro a cortar a meta, a seis segundos do duo da frente, que completou a segunda etapa em 04:40.20 horas, foi o norte-americano Sepp Kuss, que é também terceiro da geral, a 12 segundos, e claramente a aposta mais segura da Visma-Lease a Bike para um triunfo final, depois do dia menos bom de Wout van Aert – foi 16.º, a 26 segundos.
Sabe-se que a Fóia não decide a Volta ao Algarve, mas ajuda a selecionar e, na primeira triagem entre os favoritos, sobressaíram ainda Sergio Higuita (BORA-hansgrohe), Jan Tratnik (Visma-Lease a Bike), os INEOS Thomas Pidcock e Thymen Arensman, e, sobretudo, Tao Geoghegan Hart (Lidl-Trek), de regresso à competição após a terrível queda no Giro2023 e a longa convalescença da fratura de anca.
Todos integraram o top 10 da segunda etapa, que o português António Morgado (UAE Emirates) falhou por pouco, ao ser 11.º, a 20 segundos do vencedor – lidera a juventude e ocupa a mesma posição na geral, a 30 de Martínez.
Antes de os ciclistas coroarem a Fóia, houve, contudo, outra história a contar: logo que a partida real foi dada para os 171,9 quilómetros desde Lagoa, os ‘estrangeiros’ Max Walker (Astana) e Martin Bugge Urianstad (Uno-X) uniram-se a César Martingil (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), Pedro Silva (ABTF-Feirense) e Aleksandr Grigorev (Efapel) para iniciarem a fuga do dia.
A estes, viriam a juntar-se pouco depois o ‘repetente’ Gonçalo Amado (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua) e ainda Rúben Simão (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense) e Oliver Rees (Sabgal-Anicolor).
Os fugitivos sabiam que dificilmente chegariam isolados ao ponto mais alto do Algarve, hoje envolto num intenso nevoeiro, mas, ainda assim, não desistiram de tentar a sua sorte, consolidando uma vantagem que superou os cinco minutos e que foi sendo encurtada devido ao trabalho da Soudal Quick-Step e às dificuldades que começaram a encontrar no percurso, que incluía três contagens de montanha antes da subida à Fóia.
Gonçalo Amado, que caiu na véspera, foi diretamente da fuga para o ‘carro vassoura’, acabando por desistir ainda antes de a Uno-X lançar mais dois ciclistas – Jonas Abrahamsen e Andreas Leknessund, o oitavo classificado do Giro2023 – para a frente de corrida, com o duo a alcançar os escapados iniciais a mais de 60 quilómetros da meta.
Na subida a Alferce, uma contagem de terceira categoria a menos de 30 quilómetros da meta, o camisola amarela, o belga Gerben Thijssen (Intermarché-Wanty), perdeu o contacto e ‘entregou’ definitivamente a liderança, numa altura em que Grigorev, eleito o mais combativo da jornada, acelerava na fuga para pontuar para a camisola da montanha.
Na Pomba, a montanha que precedeu a última ascensão da jornada, Andreas Leknessund isolou-se na frente e assim entrou no sopé da Fóia, em Monchique, onde Wout van Aert acelerou para bonificar quatro segundos na meta volante – e arrancar aplausos entre o público que esperava os ciclistas lá no alto -, já depois de Geraint Thomas ter ido ‘rebocar’ o vice-campeão em título, o italiano Filippo Ganna (INEOS), que hoje ficou irremediavelmente arredado da discussão pela geral.
Com a Soudal Quick-Step sempre no comando, o norueguês da Uno-X foi alcançado a seis quilómetros do alto e as hostilidades entre os candidatos à geral começaram apenas dentro dos derradeiros 2.000 metros: Jan Christen (UAE Emirates) foi o primeiro a saltar, para resposta imediata de Kuss, numa movimentação que antecedeu um longo compasso de espera até à arrancada precipitada de Evenepoel.
“O segundo lugar, talvez, não fosse a melhor classificação possível hoje, mas penso que talvez tenha cometido um pequeno erro, ao arrancar demasiado cedo, porque queria tentar surpreender um pouco toda a gente e colocá-los contra ao vento no sprint”, admitiu o ‘derrotado’ do dia.
No entanto, nada está perdido para o campeão mundial de contrarrelógio, que hoje apreendeu que “nem sempre podemos ter aquilo que queremos” e que, na sexta-feira, deverá ter uma jornada tranquila na ligação de 192,2 quilómetros entre Vila Real de Santo António e Tavira, antes de tentar novo assalto à amarela agora vestida por Martínez no sábado, no ‘crono’ da quarta etapa.
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