Um ano volvido desde que foram instituídos os jogos à porta fechada no futebol, o Farense ressente-se da ausência do seu “12.º jogador” e o plantel anseia por voltar a sentir o ‘inferno’ do Estádio de São Luís.
“No balneário, estamos sempre a falar de como era importante ter esse apoio novamente. Já não vemos a hora de voltar a ter os nossos adeptos nos estádios para, em conjunto, levarmos o Farense até onde todos queremos”, disse à agência Lusa Fabrício Isidoro, um dos capitães da equipa algarvia.
O médio brasileiro cumpre a sua quarta época pelo emblema de Faro, que, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, ainda não teve adeptos no Estádio de São Luís na temporada de regresso à I Liga, após 18 anos de ausência.
“Tem sido doloroso. Depois de quase 20 anos de travessia no deserto, depois de tudo o que este clube passou, de muitos sacrifícios nossos, em que nos diziam que éramos ‘malucos’ por acreditarmos no regresso, custa não poder estar perto deles no estádio”, salienta Valter Ascensão, líder da claque South Side Boys, cujos membros estiveram presentes em todas as partidas do Farense desde a sua fundação, em 1994, até ao início da pandemia.
Fabrício lembra-se da altura em que percebeu o envolvimento dos adeptos junto do seu clube, após a vitória fora sobre o Praiense (1-0), nos oitavos de final da Taça de Portugal de 2017/18.
“Voltámos dos Açores tarde, já de madrugada, quando chegámos ao estádio e havia uma receção maravilhosa, com centenas à nossa espera para celebrarmos. Deu para ver que era um clube com adeptos muito especiais e apaixonados”, recorda o médio.
São ele e os outros jogadores que representam a equipa algarvia há mais anos que se vão encarregando de mostrar, com palavras, imagens e vídeos, como é o ambiente normal do chamado ‘inferno’ de São Luís.
“Os jogadores que já o viveram sabem como é. Mas muitos dos jogadores que chegaram esta época não sabem. Isso afeta um pouco a equipa. Se há clube em que o estádio vazio tem pesado, tem sido o Farense. Tem-nos prejudicado”, observa Valter Ascensão.
O Estádio Algarve, ‘casa emprestada’ nas primeiras jornadas, até recebeu cerca de 800 adeptos no Farense-Rio Ave da quinta jornada, mas o cenário não é o mesmo.
“Faz muita diferença. Eles são mesmo o 12.º jogador. Especialmente naquelas alturas em que a equipa está em desvantagem no marcador e precisa de sentir aquela motivação. Eles não param, cantam o jogo todo”, salienta Fabrício Isidoro.
A claque também vai ajudando, nomeadamente acompanhando, apesar das restrições, o autocarro da equipa nos jogos caseiros até ao São Luís, sem esquecer a presença de nove membros em Moreira de Cónegos, à chegada do autocarro do Farense, na primeira saída da época.
“Fizemos 600 quilómetros para cima e mais 600 para baixo só para estar lá cinco minutos”, lembra Ascensão.
Manuel Balela, atual diretor-desportivo, antigo jogador, adjunto e treinador do Farense, também sente a falta dos adeptos.
“Toda a gente, no mundo do futebol, conhece a identidade deste clube. Não diria que temos sido prejudicados, mas sentimos essa ausência. Há jogos em que éramos capazes de ter tido outros resultados”, sustenta.
O dirigente assegura que os associados têm mantido a sua paixão pelo clube, sem especificar a perda resultante da falta de receitas de bilheteira.
“Continuamos com quatro mil sócios pagantes – a pandemia acabou por impedir a subida do número de sócios que esperávamos – e os ‘stocks’ de camisolas vão-se esgotando”, revela.
Questionado sobre uma eventual possibilidade de o São Luís receber adeptos ainda esta época, o diretor-desportivo do Farense considera que seria “uma boa notícia”.
“Não apenas para o futebol, mas principalmente para a sociedade portuguesa – um sinal de que a pandemia estava controlada”, sublinha.
O médio Fabrício Isidoro também sonha com as bancadas cheias, mas ressalva que, para já, “os adeptos têm de ficar em casa, porque a luta contra a covid-19 ainda não acabou”.