A sétima etapa da 85.ª Volta a Portugal em bicicleta liga esta quinta-feira Felgueiras a Paredes em 160,4 quilómetros, com as equipas com sprinters a terem de impedir nova fuga para poderem lutar pela vitória.
Nas contas da geral, Afonso Eulálio (ABTF-Feirense) é o camisola amarela e tem 21 segundos de vantagem sobre o segundo classificado, o suíço Colin Stüssi (Vorarlberg), vencedor da Volta em 2023, e 32 sobre o espanhol Jon Agirre (Kern Pharma), terceiro.
Com três das quatro montanhas categorizadas nos últimos 50 quilómetros, a esperança de uma etapa disputada ao sprint em Paredes estará nas ‘costas’ dos companheiros de equipa dos velocistas.
Até aqui, só a segunda etapa, com a chegada a Lisboa vencida pelo argentino Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) foi disputada ao sprint, com a fuga a ‘reclamar’ as chegadas a Bragança e Boticas, previsivelmente favoráveis aos velocistas.
Hoje, a etapa sai de Felgueiras e passa por uma meta volante instalada em Marco de Canaveses (31,5 km), seguindo para um prémio de montanha de terceira categoria, em São Sebastião de Penha Longa (61,1 km).
Já nos últimos 50 quilómetros, a passagem em Gandra é uma montanha de quarta categoria, antes da meta volante em Lordelo, e segue-se a principal dificuldade do dia, a subida de segunda a Vandoma, ao quilómetro 132,3.
Uma primeira passagem pela meta inaugura uma volta que passa por Cête, com meta volante ali instalada, e novo prémio de montanha, em Baltar, de quarta categoria, antes da meta.
A 85.ª Volta a Portugal em bicicleta está na estrada até domingo, terminando em Viseu com um contrarrelógio individual.
Mercado e “linguagem universal” do ciclismo explicam sucesso sul-americano
Razões de mercado, sejam financeiras ou a escassez de jovens talentos portugueses em quantidade suficiente, levam as equipas lusas de ciclismo a contratar na América do Sul campeões que, depois, ‘dão cartas’ na Volta a Portugal.
Um desses casos é o da Aviludo-Louletano-Loulé Concelho, que venceu a segunda etapa da 85.ª Volta, na estrada até domingo, com o argentino Nicolás Tivani, que até já corria na Europa e num escalão acima, com a Corratec-Selle Italia.
Ainda assim, encontra na equipa o chileno Carlos Oyarzún, o mais velho do pelotão este ano, aos 42 anos, e outro argentino, Tomás Contte. A dupla da Argentina soma três triunfos em 2024.
A presença da mexicana Petrolike na 85.ª edição da Volta ‘engrossou’ o lote sul-americano, para não falar de nomes daquela região mas centro-americanos ou norte-americanos, embora o abandono de Mauricio Moreira (Sabgal-Anicolor), campeão em 2022 e maior exemplo de sucesso, tenha retirado o Uruguai da lista de nações à partida para as etapas que faltam.
“Temos apostado nesse mercado porque o mercado nacional, neste momento, é muito pequeno ou quase inexistente. Felizmente, os ciclistas que aparecem com muito valor têm ido para equipas estrangeiras, e não temos dimensão assim tão grande para aparecerem 20 ciclistas de qualidade”, explica à Lusa o diretor desportivo dos algarvios, Américo Silva.
Este diretor aponta, de resto, um dado indicativo, o facto de, no top 10 atual da Volta a Portugal, só dois corredores serem portugueses, o camisola amarela Afonso Eulálio e António Carvalho, ambos da ABTF-Feirense.
A predominância de ciclistas espanhóis e sul-americanos – outra exceção é o suíço Colin Stüssi (Vorarlberg), vencedor em 2023 – é indicativa, para Américo Silva, da falta de quantidade, e não necessariamente qualidade, de jovens talentos lusos a despontar de ano para ano.
Segundo o diretor, esta é “a razão principal” para a ‘pesca’ de talento estrangeiro, com a equipa a planear manter a formação como está para 2025 depois de uma “excelente temporada”, enaltecida com os triunfos oriundos da Argentina.
Para Américo Silva, não é que estes ciclistas “tragam algo de diferente”, lembrando que Tivani, atual líder dos pontos da Volta, correu a Volta a Itália e aportaria sempre “um nível superior a muitos aqui”.
José Santos, diretor desportivo da Rádio Popular-Paredes-Boavista, resume a questão a uma frase: “O ciclismo tem uma linguagem universal muito simples”.
Essa facilidade de compreensão de táticas, leitura de corrida e do próprio terreno facilita a integração, admite, e prova disso é que o ‘sete’ que escolheu para a Volta inclui o venezuelano Francisco Peñuela.
Também o venezuelano de 23 anos já venceu em Portugal em época de estreia, mas foi o segundo lugar na Volta ao Alentejo que deu nas vistas, vindo de uma Venezuela que também ‘deu’ a Portugal Leangel Linarez (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), um dos sprinters de topo do pelotão nacional e atual campeão pan-americano de fundo.
“O primeiro problema é que em Portugal não temos ciclistas, cada vez há menos ciclistas. Há uma dificuldade grande de recrutamento. O segundo é que o mercado sul-americano é em grande quantidade, principalmente na Colômbia e Venezuela, em que o nível económico é baixo. Procuram um lugar na Europa”, analisa José Santos.
O diretor dos ‘axadrezados’ nota a vantagem que Portugal tem ao ter nove equipas no escalão Continental, o terceiro, porque além de “nem todos terem capacidade” para o WorldTour ou o segundo nível, as condições económicas são, ainda assim, melhores na Europa.
“[Neste escalão,] somos o país mais bem organizado e que paga melhor a esses ciclistas. É um mercado apetecível para eles e para nós”, acrescenta.
A 85.ª Volta a Portugal em bicicleta está na estrada até domingo, terminando em Viseu com um contrarrelógio individual.
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