Wout van Aert acabou esta sexta-feira com o sonho do ciclista português Rui Oliveira na terceira etapa da Volta ao Algarve, depois de ‘espreitar’ uma oportunidade para sprintar em Tavira, onde conquistou a primeira vitória da temporada.
“Como é que eu perdi isto?”, perguntava-se, desolado, o português de 27 anos, após ver fugir-lhe por meros centímetros aquela que seria a sua primeira vitória com as cores da UAE Emirates, e a primeira no circuito internacional, para o ‘estelar’ belga da Visma-Lease a Bike.
Esta sexta-feira, no entanto, foi Rui Oliveira a ocupar o lugar ‘favorito’ de Wout van Aert, o mais (re)conhecido segundo do pelotão mundial – tem mais de 100 no seu palmarés -, que se estreou a vencer em 2024, ao quinto dia de competição, e somou a 45.º vitória numa carreira invejável, para delírio da sua ruidosa falange de apoio.
“Por acaso, foi uma decisão de última hora [ri-se], mas uma fantástica. O meu objetivo era manter-me fora de apuros, mas a aproximação ao sprint foi mais fácil e segura do que na primeira etapa. A determinada altura, vi-me na frente com a equipa, e pensei ‘por que não?’”, confessou ‘WVA’, que na quarta-feira tinha rejeitado a possibilidade de lutar pelas tiradas ao sprint desta ‘Algarvia’.
A vitória na terceira etapa, consumada após uma jornada de 192,2 quilómetros completada em 4:50.57 horas, permitiu ainda ao belga saltar para o oitavo lugar da geral, que continua a ser liderada pelo campeão em título, o colombiano Daniel Martínez (BORA-hansgrohe), seguido do seu antecessor no palmarés da prova, o belga Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), segundo, a quatro segundos. O vencedor da Vuelta2023, o norte-americano Sepp Kuss (Visma-Lease a Bike), é terceiro, a 12.
Sabia-se que a chegada a Tavira, onde o alemão Marius Mayrhofer (Tudor) foi terceiro, seria discutida ao sprint e, cientes da sua inferioridade em relação às WorldTour nesta especialidade, as equipas nacionais apostaram tudo na fuga do dia, formada ao quilómetro oito dos 192,2 desde Vila Real de Santo António.
Com uma tirada essencialmente plana à sua frente, foi surpreendente ver Frederico Figueiredo (Sabgal-Anicolor), o melhor trepador nacional, aventurar-se companhia de outros seis corredores, todos eles de formações lusas: Afonso Eulálio (ABTF-Feirense), Carlos Miguel Salgueiro (AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense), António Ferreira (Efapel) e Francisco Morais (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua), o argentino Nicolás Tivani (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) e o espanhol Raúl Rota (Rádio Popular-Paredes-Boavista).
Os sete colaboraram para construir uma diferença superior a quatro minutos, que nunca perturbou as equipas dos sprinters, nomeadamente a Intermarché-Wanty, a Arkéa-B&B Hotels e a EF Education-EasyPost, que viria a perder o português Rui Costa, na sequência de uma queda quando faltavam cerca de 80 quilómetros para a meta.
A contagem de terceira de categoria de Faz Fato, instalada ao quilómetro 148, separou o grupo da dianteira, com ‘Fred’, Tivani e Salgueiro a adiantarem-se aos seus companheiros de jornada, ganhando uma pequena vantagem que mantiveram até serem ‘absorvidos’ pelo pelotão, já dentro dos derradeiros 20 quilómetros.
O corredor da ‘local’ AP Hotels&Resorts-Tavira-Farense foi o último a desistir da iniciativa, depois de vários sprints para manter-se isolado e viu a sua tenacidade recompensada com a eleição como ciclista mais combativo da etapa: “É uma honra para mim ir ao pódio numa corrida deste nível, com ciclistas do WorldTour. É mais um pequeno sonho realizado”.
Apanhado Salgueiro, os ‘comboios’ dos sprinters perfilaram-se e não se deixaram perturbar por uma queda a 500 metros da meta. A Intermarché-Wanty foi atabalhoada no lançamento de Gerben Thijssen, o primeiro camisola amarela da 50.ª edição, e Van Aert aproveitou, com Rui Oliveira a vir de trás para, sozinho, encontrar uma aberta na esquerda da estrada, faltando-lhe muito pouco para alcançar o belga.
Se ao cortar a meta, o português foi o primeiro a cumprimentar o vencedor, metros mais à frente tornou-se a imagem viva da desilusão. Com as mãos a cobrir-lhe o rosto, o ciclista da UAE Emirates ia falando para si, antes de aceitar dizer a outros o que lhe passava pela cabeça.
“Acho que não podia perder para um ciclista melhor. Tentei dar luta e vencer em casa, ganhar para aqueles que me apoiam. Estive quase, estou frustrado, mas amanhã vou estar orgulhoso”, resumiu, lembrando que aproveitou “a única oportunidade” que teve para sprintar para si “nestes últimos anos”.
O último momento vocacionado para os homens rápidos dará lugar, no sábado, ao único dedicado aos contrarrelogistas, que enfrentarão 22 quilómetros técnicos em Albufeira, num exercício que pode provocar mudanças significativas na geral, até porque Evenepoel é o campeão mundial da especialidade.
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