Centenas de adeptos do Benfica rumaram hoje à baixa de Faro para celebrar o 38.º título nacional de futebol dos ‘encarnados’, exultando com a importância dos algarvios Gonçalo Ramos e João Neves no sucesso benfiquista.
Com o trânsito cortado pelas autoridades, a festa não teve a mesma dinâmica de anos anteriores, mas, após o apito final do Benfica-Santa Clara (3-0), os fãs do emblema ‘encarnado’ encaminharam-se na mesma, a pé, para o habitual palco das celebrações futebolísticas na cidade farense.
Alguns dos primeiros adeptos a chegar à baixa de Faro ouvidos pela Lusa realçaram a justiça do ‘38’ face ao percurso durante a temporada 2022/23, atribuindo grande destaque aos dois jogadores algarvios do plantel.
“Como algarvia que sou, gostei muito do percurso do Gonçalo Ramos. Acho que ele merece o destaque que está a ter, e hoje também marcou o primeiro ‘golinho’ do dia. E o João Neves, outro algarvio de Tavira, que no último jogo [contra o Sporting] também marcou. Dois algarvios que estão a fazer um bom trabalho e que nos deixam muito orgulhosos”, disse Catarina Cunha.
A jovem adepta de 23 anos destacou o “sentimento bom” pelo regresso “merecido” do Benfica aos títulos.
“Lutámos muito por isso e, como a única benfiquista lá em casa, é muito bom estar a celebrar assim, pela primeira vez, com os meus amigos. O último jogo [com o Sporting] foi de sofrimento, até ao último minuto, mas hoje tinha tudo para ser, tanto que foi”, frisou.
Equipado com uma camisola da época 1993/94, em que o Benfica também foi campeão, Joaquim Silva, de 73 anos, exultou com o ‘38’: “Já festejei muitos [títulos] e espero ainda festejar mais alguns”, disse à Lusa.
“Eu estava à espera, sempre confiante, desde início do campeonato. O Benfica jogou sempre bem. Teve uma altura em que caiu um bocado, mas recuperou”, prosseguiu.
O adepto ‘encarnado’ relevou “o treinador e, principalmente, a estrutura toda” como as principais figuras, sem esquecer os jogadores algarvios: “Gonçalo Ramos foi importante e o João Neves encheu-me as medidas.”
Pedro Piedade, de 32 anos, considerou os ‘encarnados’ como “os merecidos vencedores” da temporada, num ano “de muito trabalho e muita luta”, em que “nem todos os jogos foram fáceis”.
“Estava sempre confiante, sempre acreditei. Em todos os inícios de época, é sempre acreditar que o Benfica vai ganhar, vai dar o seu melhor e vai ser campeão. Esta época conseguimos, fomos felizes e agora é sempre acreditar, no ‘39’, no ‘40’, no ‘41’, é sempre a seguir”, referiu.
O adepto ‘encarnado’ frisou o papel do técnico Roger Schmidt – “foi um pilar, mostrou o seu profissionalismo e seriedade, empenhou-se, dedicou-se e estão aí os frutos” – e, em relação aos jogadores, apontou a importância de Aursnes e João Neves.
“Aursnes veio trazer um grande brilho, João Neves mostrou-se agora como um miúdo cheio de vontade, um jogador à Benfica, que trabalha, corre, tem um pulmão gigante, tem 19 anos e joga como um homem, enfrenta o jogo como um verdadeiro benfiquista”, referiu.
Acompanhado pela família, e com o carrinho do bebé enfeitado a rigor com um cachecol do Benfica, Ricardo, de 27 anos, mostrou-se satisfeito pelo quebrar do jejum, quatro anos depois.
“Estou contente, já estava à espera há algum tempo e sempre acreditei desde o início. Estive sempre tranquilo, sempre acreditei no trabalho do ‘mister’ e dos jogadores. O FC Porto também praticou bom futebol, mas a haver um vencedor teria de ser o Benfica”, apontou.
Para o adepto benfiquista, foram “todos essenciais, desde a mulher que limpa o balneário até ao treinador, ao capitão, toda a gente”, ainda que Gonçalo Ramos, Rafa, João Mário e António Silva tenham merecido uma referência especial.
Benfica ganhou margem e liderou do princípio ao fim
O Benfica chegou ao 38.º título da sua história na I Liga de futebol com um caminho seguro, em que liderou, primeiro acompanhado e, depois, isolado, desde o início a edição 2022/23 do campeonato.
Sob novo comando, do treinador alemão Roger Schmidt, e com contratações que se revelaram verdadeiros reforços, as ‘águias’ transformaram este campeonato numa conquista condizente com a sua história, sem nunca estarem verdadeiramente em risco.
Dos 17 adversários, apenas cinco conseguiram tirar pontos ao novo campeão, que registou dois empates, com Vitória de Guimarães e Sporting, e três derrotas, com FC Porto, Sporting de Braga e, surpreendentemente, Desportivo de Chaves.
O primeiro ‘revés’ aconteceu após um arranque com sete vitórias, quase dois meses após o início da Liga, já em outubro, num ‘nulo’ em Guimarães, com a equipa a ter à oitava jornada, mesmo assim, mais três pontos do que os seus perseguidores.
Uma clivagem que se acentuou nas rondas seguintes, especialmente com a vitória no Dragão (1-0), à 10.ª ronda, e com a perda de pontos do FC Porto na jornada imediatamente a seguir, a 11.ª, em casa do Santa Clara (1-1).
Os ‘encarnados’ chegaram à interrupção para o Mundial2022, no Qatar (20 de novembro a 18 de dezembro), com grande folga, após uma sequência de 12 vitórias e um empate, somando, à ronda 13, mais oito pontos do que o FC Porto e nove face ao Sporting de Braga.
A paragem, de mais de um mês, não foi benéfica para as ‘águias’, que, no regresso, já no final do dezembro, sofreram com estrondo a primeira derrota, em casa do Sporting de Braga (3-0), num jogo em que se viram a perder logo aos dois minutos.
O desaire tirou conforto na liderança, de oito para cinco pontos, mas não teve efeito mais negativo porque na ronda seguinte foi o FC Porto a ser, novamente, travado (0-0) na visita ao Casa Pia, passando os bracarenses para segundos, a seis pontos.
Até esta fase, foram pontuais as oscilações nas diferenças do líder para os restantes, com o Benfica, que ainda empatou na receção ao Sporting (2-2, à 16.ª jornada), a fechar a primeira volta com o Braga a quatro pontos e o FC Porto a cinco.
Na segunda metade do campeonato, a equipa voltou a ter uma entrada em crescendo e, embora menos exuberante nas exibições, até teve a melhor série de resultados na prova, com 10 vitórias consecutivas (17.ª à 26.ª jornadas).
Mesmo a perda do campeão mundial argentino Enzo Fernández – transferido para o Chelsea por 121 milhões de euros -, não foi tão impactante como se poderia pensar, com a equipa a reinventar-se com Chiquinho, e, mais tarde, já sobre o final do campeonato, com o jovem João Neves.
Esse percurso na segunda volta permitiu ao Benfica acabar a 26.ª ronda com a vantagem de 10 pontos e o campeonato só não ficou resolvido na seguinte porque o FC Porto resgatou a esperança com uma vitória no clássico da Luz (2-1).
Para os ‘dragões’ o jogo significou a possibilidade de continuar a sonhar e foi isso que a equipa de Sérgio Conceição fez, então longe ainda de imaginar que a mesma cairia para quatro na jornada seguinte, quando o Benfica perdeu em Chaves (1-0).
Uma diferença que manteve, ainda assim, o Benfica a depender de si próprio, com triunfos diante Estoril Praia (1-0), Gil Vicente (2-0), Sporting de Braga (1-0) e Portimonense (5-1), e um empate em casa do Sporting (2-2).
O 38.º título acaba por chegar mesmo no fim, na 34.ª e última jornada, com o Benfica a vencer no Estádio da Luz o Santa Clara, e o FC Porto, à mesma hora, o Vitória de Guimarães, ambos por 3-0, mantendo as ‘águias’ uma vantagem de dois pontos na frente.
O Benfica ‘coroa’, provavelmente, este título, – quando ainda falta jogar o Sporting de Braga-Paços de Ferreira – com o melhor ataque da prova, com 82 golos, e também a defesa menos batida, com 20 sofridos.