A árbitra de râguebi Maria Heitor disse esta segunda-feira que sente um “respeito diferente” da parte dos jogadores em comparação com os homens, mas frisou que as mulheres são “igualmente competentes” para apitar jogos decisivos.
A antiga jogadora internacional portuguesa tornou-se, no sábado, na primeira mulher a apitar uma final da Divisão de Honra, desde que o principal escalão se disputa no atual formato, e admitiu hoje, em declarações à agência Lusa, que o seu exemplo “pode inspirar” outras mulheres.
“É importante ter cada vez mais mulheres a participar no dito mundo dos homens para desmistificar. Somos igualmente competentes e, por sermos mulheres, temos a tal capacidade de ‘multitasking’, que às vezes pode dar jeito na gestão do jogo”, disse a antiga jogadora.
A notícia de que tinha sido escolhida para dirigir a final entre Belenenses e Direito chegou “uns dias antes” e deixou a árbitra internacional portuguesa “um bocadinho nervosa”, mas o repto foi aceite ‘sem pestanejar’.
“Senti uma ligeira pressão adicional, por ser mulher, mas é claro que fiquei contente e tinha de aceitar a nomeação”, assumiu, apesar de na época passada ter sido também eleita para dirigir a final da I divisão, que corresponde ao segundo escalão competitivo português.
Até porque, considera Maria Heitor, o facto de ser mulher até tem um “ponto positivo a favor”, uma vez que os atletas têm outro tipo de respeito.
“Como não há muitas árbitras mulheres, há um respeito diferente por parte dos jogadores. Encaram de uma forma mais respeitadora do que se for um homem. Não sei se é pela escassez, ou por não estarem habituados, sinto que têm mais respeito”, comentou.
Da parte do público, nas bancadas, lá vai ouvindo “um comentário ou outro, mas nada de ser notado”.
“Não devias estar aqui, isto não é para as mulheres, devias estar era na cozinha… Já sabemos que do público nem sempre vêm os melhores comentários, mas temos de saber filtrar”, desvalorizou.
Atualmente, Maria Heitor dedica-se à arbitragem de forma amadora, atividade que concilia com a sua profissão de inspetora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Mas, no passado, chegou a acumular as funções com as de jogadora, papel no qual já se sagrou campeã nacional por Benfica e Sporting.
“Na altura, fui para a arbitragem para me tornar melhor jogadora. Queria conhecer um bocadinho melhor o jogo e as leis, mas há cerca de um ano e meio deixei de jogar para me focar só na arbitragem e evoluir a nível internacional”, explicou.
E a aposta tem dado frutos, uma vez que Maria Heitor já foi chamada pela Rugby Europe a apitar “alguns jogos do Europeu feminino” e, no próximo mês, vai estar pela primeira vez no quadro do principal escalão do Europeu de ‘sevens’, o ‘Championship’, onde já esteve no segundo escalão, o ‘Trophy’.
“Lá fora, só dá mesmo para apitar jogos no feminino”, advertiu Maria Heitor, que tem como principais objetivos “fazer mais algumas etapas do Europeu de sevens”, e, depois, também do Europeu de râguebi de 15, pois fez apenas um “como assistente” e esteve nomeada para outros que “foram cancelados” devido à pandemia de covid-19.
E seja lá fora ou internamente, ninguém tira a Maria Heitor um vasto currículo no râguebi feminino, onde contabiliza diversos títulos nacionais e internacionais, entre passagens por Agronomia, Benfica, Loulé, Lille (França) e Sporting.
A atual árbitra conquistou cinco campeonatos nacionais de sevens, seis Taças de Portugal, cinco Supertaças, quatro campeonatos nacionais do principal escalão português (entre râguebi de 10, de 13 e de 15), duas Taças Ibéricas e um campeonato nacional de França.