A atriz Maria Adelina Duarte, 92 anos, morreu na terça-feira à tarde, na Casa do Artista, em Lisboa, disse à agência Lusa fonte da instituição.
Nascida na Amadora, em 27 de abril de 1930, Maria Adelina Duarte destacou-se em particular na opereta, primeiro, e no teatro de revista, depois, num percurso artístico de mais de 40 anos.
Começou a carreira ainda na infância, com as digressões dos espetáculos do empresário nortenho Rocha Brito, terminado nos primeiros anos de 1980, no Teatro ABC, em Lisboa, na revista “Reviravolta”, segundo a informação disponível na base de dados do Centro de Estudos de Teatro (CET), da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
O seu rosto, porém tornou-se conhecido do grande público com o aparecimento da RTP, em 1957, onde também fez a despedida dos ecrãs em 1990, na série “Mistério Misterioso”.
A estreia oficial de Maria Adelina no teatro aconteceu, em 1946, aos 16 anos, na opereta “O passarinho da Ribeira”, no Teatro Sá da Bandeira, no Porto.
Até então, atuara sobretudo como cantora, primeiro nas digressões de Rocha Brito pelo país, com o nome artístico Maria Dolly, iniciadas quando tinha apenas 9 anos.
Seguiram-se salas como o Casablanca, “onde brilhou em muitos números de ‘music-hall'”, até nova tournée pelos palcos da província, promovida pelo empresário Giuseppe Bastos, de acordo com o jornal Vem aí a Companhia do Teatro Apolo, citado pelo CET.
A estreia nos palcos coincidiu também com a estreia no cinema, no papel de uma jovem adolescente, no filme “Ladrão, Precisa-se!…”, de Jorge Brum do Canto, protagonizado por Maria da Graça e Virgílio Teixeira.
Seguiu-se de imediato o trabalho em produções no Teatro Variedades e no Teatro Apolo, antes de partir para o Brasil, aos 17 anos, altura em que passou a usar o nome próprio, Maria Adelina.
No regresso a Portugal, iniciou um percurso dominado pela comédia e o teatro de revista, sempre com base em Lisboa, que vai de “Mãos no ar!”, estreada em fevereiro de 1954, no Teatro Apolo, às derradeiras representações de “Reviravolta”, no final de 1981.
A opereta “A Rosinha dos limões”, também pela sociedade artística do antigo Apolo, as revistas “Casa da sorte”, “Lisboa em festa!” e “Vamos à lua!”, todas no Teatro ABC, levaram-na até à ao final da década de 1950, quando entrou no Coliseu dos Recreios para fazer “Há feira no Coliseu”, uma produção da empresa de Giuseppe Bastos e Vasco Morgado.
Nos anos de 1960, sucederam-se os sucessos na revista, sobretudo no Teatro ABC, com produções como “Acerta o passo” e “Zona azul”.
Na altura, o trabalho de Maria Adelina estendeu-se também à comédia, como em “Flausino, homem de letras”, pela Companhia Teatro Alegre, no antigo Teatro Avenida, e “A tia de Charley”, uma adaptação do texto de Brandon Thomas, que esteve em cena no Teatro Monumental.
A revista “Quando ela se despiu”, outra produção Giuseppe Bastos/Vasco Morgado, estreou-se em Lisboa, no início de 1969, e seguiu em digressão pelo país, no ano seguinte, depois de longas temporadas no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e no Monumental, em Lisboa.
Em 1971, regressou à comédia com “Quarenta quilates”, de Jean-Pierre Grédy, seguindo-se “Pascoal”, de Mary Coyle Chase, com a equipa do Teatro Villaret, fundado por Raul Solnado.
O regresso ao parque Mayer aconteceu na revista “Desculpa, ó Caetano!”, no Variedades, na sequência da queda da ditadura, antes de voltar ao teatro musical em “Felizardo e Companhia, modas e confecções”, de Raul Solnado e Pedro Bandeira Freire, uma adaptação da peça “Anastácia e C.ª Lda.”, de Eduardo Schwalbach.
A despedida dos palcos aconteceu na revista de Eduardo Damas, Eugénio Salvador e Manuel Paião, “Reviravolta”, que reabriu o Teatro ABC, fechado desde o ano anterior, e que marcou a estreia de jovens atores como Fernando Mendes. Maria Adelina tinha então pouco mais de 50 anos, e uma carreira feita igualmente no cinema e na televisão.
No cinema, contracenou com Amália Rodrigues em “O fado corrido” (1964), de Jorge Brum do Canto, com Tony de Matos e Io Apolloni, em “Derrapagem” (1974), de Constantino Esteves, com Fernanda lapa, Rogério Paulo e Curado Ribeiro, em “Recompensa” (1978), o derradeiro filme de Arthur Duarte, e com Carlos Veríssimo e Maria Helena Matos em “O diabo desceu à vila” (1979), de Teixeira da Fonseca.
Entrou nos primeiros programas produzidos pela RTP, como A Loja da Esquina (1957), Café Concerto (1958) e Rua Musical (1964). Foi também rosto e voz para muitas emissões das Melodias de Sempre, nos anos de 1960. E para as “noites de teatro” da televisão pública, em produções como “Um melro branco” (1964), de Fernando Frazão.
Regressou ainda ao ‘pequeno ecrã’ em programas mais recentes, como E o Resto São Cantigas (1981), de Raul Solnado, Carlos Cruz e Fialho Gouveia.
A despedida aconteceu com “Mistério misterioso”, série estreada pela RTP em 1990, onde desempenhava um dos principais papéis, ao lado de atores como Octávio Matos e Lourdes Norberto, e de jovens revelações como José Raposo e Maria João Abreu.
Maria Adelina Duarte foi casada com o tenor Domingos Marques (1924-2012).
O corpo da atriz encontra-se na Igreja de S. João de Deus, em Lisboa, de onde sairá o funeral esta quinta-feira, pelas 12:00, em direção ao cemitério do Alto de S. João, onde se realiza a cerimónia de cremação, disse à Lusa fonte da Casa do Artista.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL, com Lusa