As canções de Sérgio Godinho ajudam a contar a história de quatro mulheres no pré-25 de Abril, mas que enfrentam problemas que continuam atuais, no musical “Rita, põe-te em guarda”, que se estreia este sábado em Lisboa.
Quando Rita Lage começou a escrever a peça, tinha a história “mais ou menos pensada” e depois adaptou-a às canções, dez, de Sérgio Godinho, contou à Lusa a também encenadora.
“Rita, põe-te em guarda”, “que tanto pode ser no pré-25 de Abril [de 1974], como em 2025 ou 2026, como as coisas têm estado a evoluir”, centra-se em quatro mulheres, sendo Rita a personagem central, à volta da qual as outras ‘gravitam’.
“Tentámos fazer uma coisa que aparenta ser de época, mas acaba por abordar um conjunto de temáticas atuais”, disse Rita Lage.
Uma das quatro personagens principais, Lena, é inspirada na avó materna de Rita Lage. Uma rapariga que troca o Algarve por Lisboa, onde se apaixona por um comunista, que é atirado para Cabo, “uma referência ao Tarrafal”, antiga prisão em Cabo Verde para onde eram enviados presos políticos durante a ditadura do Estado Novo.
“O meu avô era um comunista que andava sempre por aí a meter-se em sarilhos e que tinha de andar sempre a fugir. E a minha avó era uma jovem que veio do Algarve trabalhar para Lisboa. Apaixonou-se por ele e depois teve de lidar também com esses sarilhos”, partilhou.
O texto do musical “começou muito por aí, e depois foi-se desenvolvendo, querendo abordar temáticas atuais”, para mostrar “que hoje em dia ainda é preciso discutir e conquistar certas coisas, e que o 25 de Abril não foi uma conquista total”.
“Mas foi um abrir de portas e temos de continuar esse caminho. E este espetáculo tenta mostrar isso”, disse.
Na peça são abordados temas como a luta por direitos, a violência doméstica, questões de identidade de género ou a realidade dos cuidadores informais, este último através da história de uma mulher “que tem muitos trabalhos e não consegue nenhum estável, porque está a tratar da mãe doente”.
Inicialmente a intenção de Rita Lage, que também faz parte do elenco, era juntar ao texto canções de vários artistas, mas foi-se apercebendo que a larga maioria das músicas que queria utilizar na peça eram de Sérgio Godinho.
Além da óbvia “Balada da Rita”, que inclui o verso “Rita, põe-te em guarda”, são cantadas também, ao longo do espetáculo, “O primeiro dia”, “A Democracia”, “É terça-feira”, “Com um brilhozinho nos olhos”, “Maré alta”, “Noite passada”, “Mudemos de assunto”, “Que força é essa” e “Grão da mesma mó”.
“As músicas do Sérgio Godinho todas têm muita imagem, e são quase teatrais também na sua letra e na história que contam. Ele cria personagens para as próprias músicas. Portanto, acabou por ser uma coisa que funcionou muito bem e que fez muito sentido”.
Rita garante que conseguia “fazer mais dois ou três musicais só com canções de Sérgio Godinho”.
Durante a criação deste espectáculo, conseguiu falar com o cantor e compositor, que tem “apoiado e incentivado” o trabalho, e com ele “discutir várias questões da história”.
Para já estão marcadas cinco apresentações de “Rita, põe-te em guarda”, no Auditório Camões, em Lisboa, mas a intenção é fazer mais.
A peça, uma produção da estrutura Ação Reação, estará em cena hoje, às 21:00, no domingo, às 21:00, no dia 01 de março, às 17:30 e às 21:00, e, no dia 02 de março, às 17:30.
Com direção musical de Ana Luísa Almeida, “Rita, põe-te em guarda” conta no elenco, além de Rita Lage, com Mari Ribeiro, Leonor Estrela, Beatriz Terras, Maria Inês Lopes, João Mata, Rodrigo Balseiro, Bernardo Batalha, Diana Reis, Rafael Mateus, Bruno Carvalho, Jorge Honda, Beatriz Falcão e Filipa Félix.
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