José Gomes e Maria de Fátima Marques são os dois últimos funcionários de campo do Centro de Experimentação Agrária de Tavira (CEAT), casa de muitas famílias durante décadas, foi sobretudo um lugar de aprendizagem e preservação do património agrícola.
Quase a chegarem ao fim da vida profissional, recordam o tempo em que eram mais de 30 funcionários, ao mesmo tempo que lamentam o desmantelamento deste posto agrícola, no 7º e último vídeo das “Histórias do Posto Agrário”, da autoria do movimento de Cidadãos pelo CEAT e Hortas Urbanas.
José Gomes, ou Zeca como é conhecido, foi para o Posto Agrário trabalhar com 15 anos nas oficinas. Já ali conta uma vida de 45 anos, apenas mais três do que a colega Fátima. “Íamos à praça abastecer as pessoas que vendiam lá no mercado”, recorda, exemplificando: “houve aqui de tudo um pouco: alfaces, cenouras, batatas, batatas-doces… até flores”.
Entre o passado e o futuro, a assistente operacional não tem dúvidas de qual deveria ser o caminho do Posto Agrário: “Isto para mim era uma exploração, tal como temos agora as coleções, mas com mais variedades e mais pessoas a trabalhar. Antigamente havia cursos de formação”, recorda, “porque havia engenheiros a dar formação”.
“Era o que eles deviam fazer, um centro desses, mesmo que fizessem essas coisas que querem fazer, têm muito espaço para fazerem de tudo um pouco. Podiam ter mais coisas dessas, para dar saber aos outros, para explicar aos outros, porque há pessoas que não sabem o que é uma poda”, vaticina a mais antiga funcionária em atividade do CEAT, espaço que já conta com 95 anos de existência.
Fátima está perto da reforma e Zeca também. Cristina deixou de trabalhar aquando da Lei da Mobilidade, mas vive ainda no Posto Agrário, numa casa em mau estado, mas ainda assim melhor do que a casa original que habitou.
Entre os três, contam-se décadas de História de uma grande casa. Mas, se há 43 anos que não entra ali ninguém novo para trabalhar e “daqui a três anos vamos embora”, Fátima teme o futuro: “se calhar fecha”.
O movimento de cidadãos afirma em comunicado que “existe para contrariar a tendência de desinvestimento nos serviços e no campo formativo no CEAT. É por isso que, oriundos de todo o Algarve, se mobilizaram e criaram duas associações”.
A Ecotopia Activa e a Associação Al-Bio, além de estarem ativamente a desenvolver iniciativas ligadas à sustentabilidade, procuram ainda recuperar e dinamizar o CEAT no âmbito do novo Pólo de Inovação e integrar o grupo de trabalho do Centro de Competências da Dieta Mediterrânica, Património Cultural Imaterial da Humanidade e que tem Tavira como a sua sede.
Formação, criação de um entreposto agrícola e edificação de uma cozinha partilhada para a transformação dos alimentos tipicamente mediterrânicos são objetivos pelos quais continuam a trabalhar e a lutar todos os dias.