“21 anos depois, o Cinema volta à Baixa” foi o mote sob o qual se realizou a edição de 2022 do Farcume: Festival Internacional de Curtas-Metragens de Faro, que se sediou este ano no Hotel 3HB Faro, lugar que outrora fora o imponente Cine-Teatro Santo António, casa de cinema por excelência da Baixa de Faro.
Um festival que comemorou este ano a sua 12.ª edição, o Farcume é já um marco no tecido cultural de Faro. Todos os anos, o Festival traz curtas-metragens nacionais e internacionais dos mais variados géneros cinematográficos num programa eclético e envolvente e acolhe um público que integra visitantes locais, regionais e estrangeiros.
Este ano, o Festival realizou-se entre os dias 23 e 25 de setembro com uma seleção de 31 curtas-metragens nas categorias de ficção, animação e documentais oriundas de seis países.
O balanço feito pela organização “é muito positivo, com três noites de sala cheia no CCH – Cultural and Conference Hub do 3HB Faro e uma média de 70 visitantes por noite”. O cinema independente, emergente e de autor mostrou-se “presente e prioritário na linha de interesses da população local e transiente de Faro e do Algarve”.
Sobre o futuro, Paulo de Oliveira Botelho, presidente da FARO 1540 – Associação de Defesa e Promoção do Património Ambiental e Cultural de Faro, entidade organizadora do Farcume, diz que “o caminho faz-se caminhado, consolidando as parcerias e sinergias construídas ao longo dos últimos anos, que consideramos serem uma mais valia para a contínua afirmação a nível nacional e internacional, agregando valor à marca Farcume”.
“O objetivo é dar continuidade à longa caminhada na estruturação de novos caminhos e novos públicos, e afirmar o cinema como expressão artística multicultural, capaz de unir, envolver e educar audiências para os desafios que o mundo enfrenta a nível ambiental e social, potenciar a produção nacional e internacional”, acrescenta.
Na categoria de Ficção o grande vencedor foi a curta-metragem Souerdogs, do realizador Guillermo de Oliveira, uma história que reflete todo o romantismo do cinema western mais clássico, onde a lealdade e a amizade vai sendo posta à prova entre dois mineiros com um trenó puxado por cães que tentam desesperadamente voltar a casa quando um inverno glacial se instalou. Quando um dos cães não consegue mais puxar o trenó e a comida começa a escassear, os pilares da lealdade começam a desmoronar-se. Nesta categoria o júri destacou ainda com Menção Honrosa a curta-metragem: Oblívio, do realizar Ricardo Leite; The Humbrella, do realizador Christopher Sanchéz Martin e Soul da realizadora Mónica Santos.
Na categoria de Documentário o vencedor foi Kambana, do realizador espanhol Samuel Pastore. O filme retrata a história de uma mãe e dos seus filhos gémeos, rejeitados socialmente por serem gémeos. Em Madagáscar, na região de Mananjary, a etnia Amtambahoaka, com crenças fortemente enraizadas, acreditam que os gémeos ou kambanas são portadores de desgraça e infortúnios aos seus pais e cuidadores. Antigamente os kambanas eram sacrificados em prol da comunidade ou abandonados à nascença. Foi ainda distinguido o documentário O Legado Maronês, do realizador Claúdio Reguengo que se debruça sobre a agricultura como legado cultural e da ligação intrínseca do homem ao campo e à raça maronesa, uma raça autóctone, primitiva da Serra do Alvão, habituada, como o seu criador, às agruras da serra.
Na categoria de Animação, o vencedor foi Nata da Vida, dos realizadores Claúdia Gomes e Ricardo Soares, um filme do universo stop motion que desvenda ao público todos os passos da receita do Pastel de Nata metaforizando os ingredientes em elementos tradicionais portugueses. Saborosos exemplos como um pau de canela para uma guitarra portuguesa ou uma fina raspa de limão que se assume como um “Coração de Viana” em filigrana. O júri destacou ainda na categoria de Animação com menção honrosa a curta-metragem O Búzio, da realizadora Aurora Fernandes.
Por fim, o júri atribuiu, por unanimidade, à Curta-Metragem The Recess, realizada por Navid Nikkhah Azad o Grande Prémio Farcume + que visa distinguir trabalhos que se destaquem na promoção, divulgação e afirmação de valores e princípios de dignidade e direitos humanos e no combate às desigualdades sociais e culturais.
The Recess retrata a sociedade iraniana e a opressão sofrida pelas mulheres desde tenra idade, preconizado pela adolescente Sahar, de 17 anos de idade, a qual sonhava fazer parte da sua equipa de futebol favorita. Impedida de assistir a eventos desportivos como mulher, Sahar disfarça-se de menino com a ajuda dos amigos. O destino torna-se trágico quando o seu disfarce é descoberto. A FARO 1540 agradece à Câmara Municipal de faro, a Uniáo de Freguesias de Faro e ao Grupo 3HB Hotels & Resorts pelo apoio e confiança depositadas neste projecto.