O fadista César Matoso considera que o seu novo álbum, “Jardim”, tem um “certo cariz autobiográfico”, mas resultou também, da sua “observação” do quotidiano, como disse em declarações à agência Lusa.
“Este CD resulta da minha própria história, mas também das relações que vou observando, amorosas, familiares, de amizade, todas”, disse o fadista, que defendeu ser este “um álbum de pessoas, com muita gente dentro”.
Sobre O álbum, César Matoso acrescentou: “É como se estivesse num jardim e fosse observando; todas as histórias falam de pessoas, com quem me fui relacionando, o que fui observando, é autobiográfico na perspetiva da minha interação com o outro, mais do que histórias minhas”.
“A minha visão do mundo e das relações interpessoais”, sintetizou.
O novo trabalho de César Matoso, produzido por Valter Mãe, é constituído por dez temas, sendo o fadista acompanhado, na guitarra portuguesa, por Bernardo Couto, Ricardo Martins e Ângelo Freire (este num único tema, “Ana”), na viola, por Bernardo Viana, Cláudio de Sousa (no tema “Amor Quase Perfeito”) e Pedro Soares (em “Ana”), na viola baixo, por Marino de Freitas, Xico Santos, e Cláudia de Sousa (em “Amor Quase Perfeito”), ao piano, por Tiago Sequeira, na bateria e percussão, por Ivo Martins e Vicky Marques, e, no acordeão, por João Frade.
Todos os temas são composições originais excetuando “Alma por Alma”, de Ricardo Maria Louro, o único gravado numa melodia tradicional, o Fado Cravo, de Alfredo Marceneiro, que, admitiu Matoso à Lusa, pode “ser talvez o mais autobiográfico”. “Este tema foi uma história que contou ao Ricardo Maria Louro”, autor da letra.
César Matoso assume a autoria em três temas: o de abertura, “Como uma Flor”, com letra e música suas em parceria com Gabriel de Rose; “O Português”, letra sua e música em parceria com Tiago Sequeira; e “Amor Quase Perfeito”, uma letra sua com Ricardo Maria Louro, e música de Ricardo Martins.
Cantar temas da sua autoria aconteceu de “forma natural”, disse Matoso, revelando que escreveu “desde sempre”, e foi guardando rascunhos e apontamentos, que vai recuperando e “trabalhando neles”.
Como intérprete defendeu “o mesmo empenho e vontade” tanto nos seus temas, como nos de outros autores.
Do alinhamento do CD, o fadista citou “Cai a Noite” (Cátia OLiveira/Manuel Graça Pereira), ao qual se referiu como “triste, fala na partida e como as pessoas partem da nossa vida, mas perpetuam-se em nós”, e “Canta-me um Fado”, a que se referiu como “o fado sem pranto” com o qual se identifica, pois revela “um outro lado do fado que não tem de ser sempre melancólico, e sim com pessoas a dançar e com alegria”.
Outros temas destacados por César Matoso são “Ideias Loucas” (Isidoro Cavaco/Ricardo Martins), “que fala de amores vividos de forma muito intensa”, tal como “Ana”, “que fala das voltas que a vida dá e como as encaramos”, ou ainda “Duas por Três” (Carlos Paiva/Manuel Graça Pereira), ao qual se referiu como “controverso” e que aborda “as relações amorosas das mais diversas formas, deixando várias coisas em aberto, apresentando diversas perpetivas”.
Sobre os temas do álbum, realçou que “gosta de deixar espaço para quem ouve a continue as hstórias”.
O músico Valter Rosa assina a composição de “Canta-me um Fado”, uma letra de Carlos Matoso. Do repertório de António Mourão (1935-2013), Matoso resgatou “Chiquita Morena”, letra e música de Moreira da Cruz.
“Jardim” é o terceiro álbum de César Matoso, de 30 anos, que canta “desde sempre, mas profissionalmente há 14 anos”.
Em criança, no Algarve, ia a noites de fado, mas não começou pelo fado, sim pela música pop e o rock, que cantou até aos 17, 18 anos.
“Em miúdo cantava sim ‘A Lenda da Fonte’, que ouvia pela voz do Sérgio Nunes, também algarvio, e as pessoas diziam ‘Ah! fadista!'”, recordou à Lusa.
O fado surgiu por acaso quando, num espetáculo, o músico Valentim Filipe, também algarvio, dos Al’Mouraria, “encontrou fado” na sua voz e o desafiou para cantar.
César Matoso cantou e afirmou à Lusa que, ao ouvir os instrumentos, sentiu “algo muito intenso” e optou definitivamente pelo fado, tendo cantado em casas de fado e participando em alguns concursos.
César Matoso vive entre o Algarve e Lisboa, onde cantou em casas de fado no Bairro Alto e em Alfama, e ainda hoje sente necessidade e vontade de respirar o ambiente das casas do fado.
Sobre o CD enfatizou as suas “intenções fadistas”. “É um álbumn sem amarras, com a vobntade de abraçar a liberdade, de alguém com 30 anos”.
Referindo-se à escolha do músico Valter Rosa para produzir o CD, o fadista contou que partiu de um convite seu ao músico para produzir o single de antecipação do álbum, “O Português”.
“Houve uma química musical”, disse o fadista que conversou durante seis meses com Valter Mãe, antes de partirem para “Jardim”.
“Ouvimos as músicas de um e de outro, os trabalhos que o Valter tinha produzido e expliquei-lhe o meu conceito para o álbum, pois para mim um álbum nunca é apenas um álbum, é uma história que acabo por desenvolver no palco, onde o apresento por completo”, disse César Matoso.
Sem adiantar uma data, o fadista disse à Lusa que conta apresentar o álbum, “no final do próximo mês, em Lisboa” e seguirá em digressão nacional, “já com alguns espetáculos agendados”.