Apesar do alívio das restrições a partir do final de março, o Governo decidiu manter o uso obrigatório de máscara nos espaços interiores de acesso ao público, nomeadamente nas salas de aula. Esta deliberação está a merecer críticas por parte dos pais, que não compreendem que o uso de máscara não seja obrigatório em bares e discotecas, mas continue a ser nas escolas.
Em declarações ao Expresso, o epidemiologista Ricardo Mexia confessa ter “alguma dificuldade em perceber esta relutância em proteger os alunos” com o uso obrigatório de máscara, até porque, sublinha, “há vários outros espaços em que se mantém”.
O objetivo do uso da máscara, nota o médico de Saúde Pública, “não é castigar as crianças, é protegê-las”, uma vez que “estão durante um longo período de tempo num espaço fechado”.
Por isso, defende, “é sensato continuar a proteger estes grupos etários” que “neste momento ainda têm uma das incidências mais elevadas”.
Não obstante, Ricardo Mexia admite que “talvez a questão passe menos pela obrigatoriedade e mais pela recomendação” do uso de máscara nas salas de aula, espaços em que advoga ser “necessário melhorar as condições de ventilação para reduzir a potencial transmissão da doença”.
Além disso, observa o especialista, “enquanto não se melhorar substantivamente a cobertura vacinal das crianças, que ainda é baixa, é complicado eliminar completamente o uso da máscara”.
A psicóloga clínica Catarina Mota, também ouvida pelo Expresso, constata que “as crianças estão a começar a relativizar o uso da máscara” e o facto de não ser obrigatório noutros contextos “vai fazer com que se torne um problema” na escola.
“Podemos ter os professores a não permitir que os alunos frequentem a aula sem máscara e os alunos a recusarem-se. Pode fomentar alguma desobediência e criar situações de confronto com os professores”, adverte Catarina Mota, sustentando que os alunos poderão rejeitar a imposição “num ato de rebeldia, no sentido afirmação”.
Catarina Mota frisa que, “após um ano a ter aulas à distância, os jovens não estão a saber lidar socialmente com professores e com regras”. Muitos deles, diz, “adaptaram-se com muita facilidade ao isolamento e começaram a viver ainda mais nas redes sociais”, tanto que “preferem fingir sintomas de infeção só pelo medo que têm de ir para a escola e socializar”. Por outras palavras, as da psicóloga clínica, “os nossos jovens vivem mais com máscaras virtuais do que com máscaras faciais”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL