Dois recintos de fossos pré-históricos foram descobertos durante trabalhos arqueológicos no concelho de Serpa (Beja), em áreas que vão ficar inacessíveis devido a “culturas superintensivas”, revelou esta sexta-feira o responsável pela investigação, António Carlos Valera.
“Um deles, muito grande, com cerca de 25 hectares, é mesmo um dos maiores [recintos deste tipo] conhecidos em território nacional”, destacou o arqueólogo António Carlos Valera, em declarações à agência Lusa.
O trabalho de geofísica desenvolvido serviu para “obter uma planta” do subsolo destes locais, disse o investigador do Centro Interdisciplinar de Arqueologia e Evolução do Comportamento Humano (ICArEHB) da Universidade do Algarve e do Núcleo de Investigação Arqueológica (NIA) da ERA Arqueologia.
O que permitiu “perceber” que os locais fazem parte de “um grande recinto de fossos” naquela região.
Segundo a Câmara de Serpa, os trabalhos agora desenvolvidos dão “continuidade [a] ações anteriores, desenvolvidas em 2019”, que foram agora retomadas no âmbito de uma exposição, que vai ter lugar no próximo ano, sobre o “importante conjunto de sítios arqueológicos desde tipo identificados em Serpa”.
O concelho de Serpa, segundo o investigador responsável pelo projeto, “é, neste momento, a região da península ibérica com maior concentração deste tipo de recintos, completamente desconhecidos [pelos investigadores] há 25 anos atrás”.
“São sítios das mesmas pessoas que construíram as antas do megalítico alentejano. Alguns podem ser maiores do que os canais da revolução industrial”, destacou António Carlos Valera.
Investigações têm vindo a “densificar o mapa” destes recintos pré-históricos no Alentejo
O arqueólogo indicou tratar-se de “locais onde se juntava muita gente, a começar pela sua construção, escavados na rocha, o que envolveu um trabalho coletivo de grande monumentalidade”.
As investigações têm vindo a “densificar o mapa” destes recintos pré-históricos no Alentejo e permitiram perceber que o concelho de Serpa “é, dentro dessa mancha densa”, aquele que “mais recintos de fossos tem vindo a evidenciar”.
“E isso levanta uma série de questões interessantes sobre a funcionalidade destes recintos e porque estarão tão próximos uns dos outros”, disse o investigador.
A geofísica, “uma espécie de radiografia que se faz à terra, para ver o que está por baixo”, foi da responsabilidade técnica de Tiago do Pereiro e permitiu identificar os fossos em sítios que “vão ficar inacessíveis” devido à plantação de uma vinha e de um olival.
Neste caso, a técnica utilizada foi a magnetometria, que utiliza “um equipamento que mede a diferença magnética” no subsolo e torna possível “saber o que está lá por baixo”, o que não será possível após serem plantadas as culturas previstas.
“A cultura intensiva tem sido responsável por muitos sítios arqueológicos ficarem inacessíveis e acontece com todo o tipo de património imenso que o Alentejo tem, incluindo antas e vilas romanas”, lamentou o investigador.