As amendoeiras em flor que Damien Hirst (n.1965) não pintou, mas mandou pintar, aos funcionários do seu atelier, como se tornou público e polémico, causaram impressão. As telas, em grande dimensão, expostas nas Fundação Cartier, em Paris, criaram uma experiência estética interessante para quem a visitou.
Num ato de repetição e obsessão, e numa escala gigante, Damien Hirst reinterpretou em “Cherry Blossoms” a paisagem do século XIX tendo em mente os movimentos artísticos do século XX, do Impressionismo à Action Painting, sobrepondo as cores vívidas das cerejeiras em flor.
Joe Machine (n.1973) que agora o acusa de plágio, explicou agora ao jornal inglês “The Observer”, depois da exposição de Hirst ter terminado, em Paris, (encerrou no dia 2 de janeiro), que descobriu nela “as suas” amendoeiras em flor: “Por um momento pensei que estava a olhar para as minhas amendoeiras em flor. O trabalho dele é muito parecido com o meu. Mas eu comecei a fazer as minhas amendoeiras muitos anos antes deles.”
Apesar de algumas diferenças, Machine destaca as cores usadas, nomeadamente no céu e nos ramos das árvores. As cores psicadélicas são muito semelhantes às que Machine usa, como já foi reconhecido pelo especialista, Charles Thompson. Olhando as duas obras, torna-se mais evidente uma apropriação do que uma coincidência.
Hirst, que ganhou o prémio Turner em 1995, tem uma longa história de acusações de plágio. Negou-o sempre, mas há quatro anos admitiu que roubava ideias. Disse-o, em 2018, à revista “Frieze” a propósito de um trabalho em que já usava pequenos círculos (inspirados, segundo ele, na obra do artista norte-americano Larry Poons). Hist afirmou que foi ensinado por Michael Craig-Martin a não pedir ideia emprestadas, mas a roubá-las. Desta vez avança que a inspiração vem de uma memória familiar, a de ter visto a mãe a pintar uma amendoeira em flor, quando tinha três ou quatro anos.
Segundo o jornal “The Guardian” é a décima sexta vez que Hirst é acusado de plágio, e Charles Thompson que publicou, em 2014, um artigo onde enumerava os vários plágios de Hirst, também já reconheceu as semelhanças entre o trabalho de Machine e o de Hirst. Thompson fala num tipo de plágio “que na ciência ou na literatura seria aceitável.”
Em 2020 a fortuna de Hirst, segundo a Sunday Times List, era de 384 milhões de dólares. Hirst tornou-se famoso quando começou a expôr cabeças de animais mortos em formol (“The Physical Impossibility of Death in the Mind of Someone Living”).
Enquanto uma obra de Hirst pode valer mais de 2,5 milhões de libras, Machine vende um quadro por dez mil libras.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL