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Doutoranda em Comunicação e Valorização do Património, Universidade Mohamed I de Oujda; Mestre em Turismo Responsável e Desenvolvimento Humano; Gestora cultural
“Marrocos possui um património cultural excepcional, rico e diversificado, ocorrências naturais e históricas muito importantes, que constituem recursos atractivos para os turistas”.
No extremo este de Marrocos, situado no conjunto montanhoso do Alto Atlas Oriental, a norte do Saara, esconde-se uma das mais antigas cidades marroquinas: Figuig.
Um oásis de paisagens maravilhosas que reivindicam aura planetária: a inscrição como Património Mundial. Encontra-se mesmo às portas do deserto, nas proximidades da fronteira marroquina-argelina, cercada de colinas e montanhas que representam a continuidade do grande Atlas saariano.
O clima predominante na província de Figuig é semiárido, caracterizado pelo frio no Inverno e o calor prolongado no Verão com ventos ao longo de todo o ano. Ao mesmo tempo, ocorrem fracas precipitações geralmente mal repartidas no tempo e no espaço.
A cidade de Figuig compõe-se de sete Ksours (castelos ou fortificações). Esta característica pela qual Figuig se distingue, coloca-a como uma das que melhor conservaram a sua herança histórica no que se refere às construções antigas. As construções dos Ksours ou Ksar não fazem já parte dos nossos dias e raras são as cidades marroquinas que as conservam, desta forma toda a cidade é um património nacional no que se refere ao perfil “ksariano”.
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Figuig conta com diversos ksours, mas na actualidade somente sete se mantêm conservados tal como na origem, os ksar Hammam Foukani, ksar Hammam Tahtani, ksar Laabidate, ksar Lamiz, ksar Loudaghir, ksar Oulad Slimane e o ksar Zenaga.
A organização tradicional dos Ksours está mais ligada a factores socioeconómicos e de instabilidade política, do que propriamente às condições climáticas. A sua leitura espacial, revela-nos a unidade elementar, a casa, e os equipamentos estruturantes que permitem compreender os modelos da organização social tradicional.
Figuig é detentora de um património histórico-arquitectónico e arqueológico de grande valor cultural. Herança da longa tradição urbanística e arquitectónica, do uso de materiais e técnicas locais como a tijolo em terra seca, a madeira de palmeira e a cal, é uma síntese de contributos de diversas origens.
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Assim, os conjuntos constituídos pelos Ksours, os jardins com as suas plataformas de palmeiras e os sistemas de irrigação, as práticas sociais e culturais particulares, mostram-nos a implantação e culturas saharianas, tanto pela sua unidade como pelo rigor da sua organização. Os sete Ksours do oásis e os seus lugares, apesar da dispersão espacial, são um conjunto homogéneo. Identificam a marca, à entrada do deserto, de uma civilização sedentária-urbana e a expressão de uma cultura original que soube, graças ao seu posicionamento geográfico distante do modernos centros urbanos, preservar a coesão.
Ao longo de séculos, a população de Figuig criou, com materiais locais, uma arquitectura e urbanismo vernaculares perfeitamente a adaptados ao ecossistema oasiano.
Se por um lado, a simplicidade e pureza das suas formas neste tipo de arquitectura é uma qualidade formal inspiradora para a arquitectura moderna, por outro, os princípios de adaptação ao meio geográfico constituem um valor exemplar para a investigação e transmissão de conhecimentos sobre a cidade contemporânea, assente nos princípios do desenvolvimento sustentável.
(Artigo publicado no Caderno de Artes Cultura.Sul)