A possível rutura da circulação oceânica no Atlântico Norte tem ganhado destaque no debate climático internacional, transformando esta temática numa preocupação central para governos e especialistas. O enfraquecimento da Circulação Meridional de Capotamento do Atlântico (AMOC), sistema que regula grande parte do clima do hemisfério norte, levanta receios de um arrefecimento significativo na Europa e de impactos sociais e económicos que vão muito além da área ambiental, com uma nova “idade do gelo” à vista.
O primeiro país a classificar oficialmente este risco como ameaça existencial para a sua segurança nacional foi a Islândia. A AMOC funciona como uma enorme transportadora de calor desde os trópicos até ao Atlântico Norte e garante invernos mais amenos no noroeste europeu. Com o degelo acelerado da Gronelândia a reduzir a salinidade das águas, este mecanismo natural tem vindo a perder força.
Estudos recentes, citados pelo jornal digital espanhol Noticias Trabajo, mostram um abrandamento claro desde o final do século XX, ultrapassando aquilo que seria uma variação natural.
Resposta islandesa e os avisos científicos
O ministro do Clima islandês, Jóhann Páll Jóhannsson, explicou que esta fragilidade afeta diretamente a resiliência do país, levando à ativação de planos de emergência que abrangem abastecimento alimentar, infraestruturas e serviços essenciais.
Este alerta é suportado por investigações que identificam alterações profundas no Atlântico equatorial, descritas como a “impressão digital” do enfraquecimento da AMOC. Cientistas como Stefan Rahmstorf avisam que o ponto de não retorno poderá estar mais próximo do que se pensava.
Efeitos previstos na Europa e no mundo
Um colapso total da AMOC provocaria um arrefecimento extremo no norte da Europa, apesar do aquecimento global. Invernos muito mais rigorosos, verões secos e instabilidade climática colocariam setores como a agricultura e a pesca sob forte pressão.
A quebra do sistema afetaria também zonas dependentes de regimes de chuva, como Índia, América do Sul e África Ocidental, e aceleraria o aquecimento no hemisfério sul, de acordo com a mesma fonte, que admite a possibilidade de uma nova “idade do gelo”.
E Portugal?
Portugal não ficaria imune a estas mudanças. Embora mais protegido do frio extremo previsto para o norte da Europa, o país seria altamente vulnerável ao aumento de secas prolongadas, à diminuição de chuva no inverno e à perda de estabilidade das correntes oceânicas que influenciam o clima atlântico.
A agricultura, a disponibilidade de água e as pescas seriam setores particularmente afetados, com impactos diretos na economia e na gestão dos recursos naturais. Além disso, o aumento do nível do mar poderia agravar a erosão costeira, já significativa em várias zonas do litoral português.
Mobilização crescente no norte da Europa
Vários governos nórdicos começaram a integrar este risco nas suas estratégias de segurança. O Conselho Nórdico de Ministros reuniu especialistas para avaliar os impactos sociais de uma alteração brusca na circulação oceânica.
O Reino Unido investe milhões na investigação dos pontos de não retorno climáticos, enquanto a Noruega pondera seguir o exemplo islandês e classificar este fenómeno como ameaça à segurança nacional.
O enfraquecimento da AMOC e uma nova “idade do gelo” já não é visto como uma questão distante ou exclusivamente científica, de acordo com o Noticias Trabajo. A atenção internacional recai agora sobre o Atlântico Norte, onde alterações profundas podem redefinir a estabilidade climática, económica e geopolítica das próximas décadas, obrigando países como Portugal a preparar estratégias de adaptação cada vez mais rigorosas.
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