O Presidente da República homenageou ontem no Algarve o pedagogo João de Deus, afirmando ter andado “uma vida inteira à espera deste momento”, para lhe agradecer tê-lo ensinado “a amar mais Portugal”.
“Com ele comecei a aprender a amar mais Portugal, quando ainda não sabia bem o que era Portugal e duvido que entenderia melhor o que transformaria a minha vida, saber ler e escrever em português. Mas transformou a minha vida e de milhões de portugueses, obrigado João de Deus”, agradeceu Marcelo Rebelo de Sousa.
Na cerimónia de encerramento das comemorações dos 190 anos do nascimento de João de Deus no auditório Francisco Vargas Mogo, em São Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, de onde era natural, o Presidente relembrou que o autor da cartilha maternal “desmentiu duas vezes” a ideia de que “ninguém é profeta na sua terra” e de que “entre nós, ninguém é homenageado em vida”.
“Foi profeta na sua terra em matéria educativa, conhecendo a justíssima celebração em vida, algo muito raro e, no seu caso, acrescido de não ter caído no esquecimento” destacou.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, quando João de Deus “chega à cartilha maternal, levava consigo uma experiência riquíssima de vida”, realçando que o pedagogo” não partiu da cartilha, mas sim “chegou à cartilha maternal”. O presidente acrescentou que esse seu “trabalho único e singular no século XIX” só foi possível “por causa da sua vida“.
“Não tivesse essa vida de conhecimento, como pessoa, de experiência, de conhecimento dos mais simples – aos quais era preciso explicar de forma simples o essencial – e não teria sido o grande formador de inúmeras e consecutivas gerações” apontou.
Na cerimónia foram apresentados duas publicações: o livro infantil “Fábulas de João de Deus”, ilustrado por Marta Jacinto e obra “João de Deus – Imortal e intemporal”, um estudo historiográfico, da autoria de Maria João Raminhos, editado pela autarquia em parceria com a editora Colibri. O programa comemorativo terminou em Silves, com o concerto “Se eu fosse uma Nuvem João de Deus Revisitado” interpretado pela Lisbon Poetry Orchestra.
João de Deus nasceu em São Bartolomeu de Messines a 8 de março de 1830, tendo falecido em Lisboa a 11 de janeiro de 1896 e ao longo da sua vida foi um pedagogo e poeta e proponente de um método de ensino da leitura.
A cartilha maternal por si publicada em 1876 é uma obra de natureza pedagógica destinada a servir de base a um método de ensino da leitura às crianças. É uma das obras mais vezes reimpressas em Portugal, tendo sido extensivamente usada nas escolas portuguesas mantendo, na atualidade, ainda alguns seguidores.