Um estudo coordenado pela Universidade do Algarve vai definir os contornos do projeto de musealização do património da antiga Tipografia União, em Faro, e da história da cultura escrita no Algarve, foi hoje anunciado.
“A ambição é de criar um núcleo museológico em torno da antiga Tipografia União, mas [este processo] vai muito além disso. O objetivo é termos condições para estabelecer um rumo e uma proposta de uma nova atração cultural e, sobretudo, de um novo pilar cultural e de criação de conhecimento”, explicou Alexandra Gonçalves, coordenadora da equipa encarregue do estudo.
A docente universitária falava aos jornalistas à margem da assinatura do protocolo entre Universidade do Algarve, Câmara Municipal de Faro, que assumirá os encargos com a contratualização do estudo (33.589,81 euros), e a Diocese do Algarve, proprietária do espaço ocupado pela antiga tipografia União, localizada na Vila Adentro e que funcionou entre 1909 e 2013.
A tipografia, criada inicialmente para imprimir o boletim da diocese mas onde chegaram a ser impressos muitos dos jornais da região na primeira metade do século passado, integra máquinas tipográficas e prensas “muito relevantes, com grande valor histórico e únicas”, além de “um enorme acervo documental”.
“A história daquele espaço não é só a história de Faro, é a história de uma região e a história de vários períodos que demonstram que, culturalmente, o Algarve teve uma relevância que é desconhecida da maior parte da população”, referiu, recordando que o primeiro livro impresso em Portugal foi o Pentateuco, na oficina de Samuel Gacon, em Faro (1487).
A equipa multidisciplinar, que integrará especialistas na área da gestão cultural, história, computação e sistemas de informação, design e audiovisuais e comunicação, vai fazer a inventariação do espólio da antiga tipografia, o levantamento de testemunhos em torno do espaço e o estudo documental da imprensa escrita e da cultura impressa em Faro e no Algarve, estando igualmente previstas visitas a outros museus relacionados com a área da imprensa, incluindo no estrangeiro.
“Depois, vamos identificar quais são as narrativas de maior significado e pensar como podem ser contadas ao público. Será feita uma proposta de criação de uma narrativa e dos instrumentos de apoio e interpretação para a apresentação dessas histórias ao público”, sublinhou a responsável, autora da proposta para o desenvolvimento do estudo, que deverá estar concluído até ao início de 2022.
Para a musealização do espaço, Alexandra Gonçalves defendeu uma “proposta inclusiva, multissensorial e de maior interatividade, com uma base tecnológica, ao encontro das tendências da nova museologia”.
O vigário geral da Diocese do Algarve, o cónego César Chantre, alertou para o “avançado estado de degradação” do edifício, sublinhando que o projeto permitirá “enriquecer o núcleo histórico” da cidade.
Na ocasião, o presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, frisou a importância de “preservar o que faz parte da identidade farense”.