O Município de Portimão vai restaurar a traineira “Portugal Primeiro”, visando salvaguardar e valorizar uma das mais carismáticas embarcações do género ligadas ao cerco que operou neste porto de pesca.
Segundo explica a autarquia em comunicado, “face à escassez de mão de obra especializada para a recuperação de embarcações tradicionais em madeira, o Museu de Portimão encontra-se neste momento a realizar esforços e diligências a nível regional e nacional, de modo a garantir a correta e atempada execução dos trabalhos destinados à recuperação que a embarcação “Portugal Primeiro” merece e necessita”.
Através do Museu de Portimão, o projeto “Portugal Primeiro – Uma Traineira com História” foi candidatado ao Programa Operacional Mar 2020, contemplando o restauro do antigo galeão transformado em traineira, com um investimento elegível total de 621.150 euros e a atribuição de um financiamentode424.969,09 euros.
Primeiro de um conjunto de nove galeões
A traineira “Portugal Primeiro” começou por ser um galeão a vapor para a pesca da sardinha. Mandado construir pelo industrial conserveiro e armador Júdice Fialho, em 1911, num estaleiro em Vigo, na Galiza, esta embarcação foi a primeira de uma frota de nove galeões, do “Portugal Primeiro” ao “Portugal Nono”.
Em 1948, a embarcação foi adaptada ao motor a diesel, transformando-se em traineira, mas manteve a sua popa em leque, característica distintiva, continuando no ativo até à década de 1980.
Por volta de 1990, depois de ter estado parada alguns anos no cais de Portimão, foi comprada pela empresa Ribeiro & Quintas, que a recuperou nos estaleiros da Portinave e esteve em funcionamento pelo Algarve, até 2008.
Por essa altura, houve a intenção de ser dada para abate, travado pela câmara local, que comprou a embarcação com o objetivo de a restaurar e musealizar na zona ribeirinha, junto ao edifício do Museu de Portimão, integrando-a no discurso expositivo que este equipamento cultural dedica à vocação marítima do município.
Testemunho do património marítimo de Portimão
É assinalável a sua importância para a história de Portimão e suas gentes, enquanto testemunho singular do património marítimo local e de várias atividades com que esteve relacionada, desde a pesca à construção naval e indústria conserveira, lotas e comercialização de pescado, responsáveis pelo crescimento económico e social durante o século XX.
Nesse sentido, o projeto museográfico do “Portimão Primeiro” pretende que a traineira seja pretexto para ponto de reflexão sobre a própria atualidade do contexto marítimo e as questões que levanta aos profissionais nos dias que correm (apoios à pesca, defeso e restrições de pesca, dos saberes fazer às atuais inovações tecnológicas, lota e comercialização do pescado), bem como à sociedade em geral.
Faz parte dos objetivos do projeto recriar um ambiente de trabalho de reparação da antiga traineira “Portugal Primeiro” em estaleiro, incluindo toda a parte de carpintaria, calafetagem, ferragens e respetivo apetrechamento com equipamentos de bordo, como os acessórios da embarcação – a cordoaria e as redes.
Adequadas condições de conservação
Esse restauro passa pela musealização e exibição da embarcação junto ao Museu de Portimão, numa estrutura especialmente construída para o efeito, a qual remeterá para uma cenografia de ambiente de estaleiros navais que outrora marcavam a paisagem da zona ribeirinha de Portimão.
A estrutura será concebida de modo a garantir as boas condições de conservação da traineira, nomeadamente protegendo-a da luz solar e de intempéries, sendo incluído o imprescindível sistema de rega da embarcação com água salgada bombeada diretamente do rio, além de instalação de um sistema de iluminação cénica que possibilite a sua visualização e valorização noturna.
A recuperação e musealização da embarcação tem na sua base um trabalho de investigação, salvaguarda e divulgação através de ações culturais e educativas, levadas a cabo pela equipa do Museu de Portimão, reforçadas e valorizadas com a participação da comunidade piscatória antiga e presente, com trabalhadores de construção naval, antigos operários e vendedores de lota, de forma a reforçar os laços de identificação da comunidade, sobretudo os jovens, com a realidade cultural marítima da cidade.