Em várias cidades do mundo, a luta contra a poluição sonora tem ganho novas ferramentas. Entre elas estão os chamados radares de ruído, criados para vigiar o barulho dos veículos em circulação. À primeira vista, parecem pensados apenas para carros a gasolina ou gasóleo, mas até um carro elétrico já acabou envolvido numa situação inesperada.
De acordo com o portal espanhol El Motor, que afirma ter sido a “multa mais absurda do ano”, o episódio envolve um Dodge Charger EV, um carro totalmente elétrico. O condutor partilhou nas redes sociais que foi abordado pela polícia enquanto aguardava num semáforo. O agente acusou-o de perturbar a tranquilidade com um escape ruidoso, apesar do carro não ter sequer escape, por não ser movido a gasolina ou gasóleo.
Segundo o próprio motorista, a patrulha policial acompanhou-o até a uma estação de serviço. Foi aí que lhe foi passada a contraordenação, incluindo três infrações distintas: escape ruidoso, falta de matrícula dianteira e perturbação da ordem pública.
Um carro sem escape pode fazer barulho?
O Dodge Charger EV tem algumas particularidades. Apesar de ser elétrico, consegue emitir sons artificiais que simulam o motor de combustão. Esses efeitos sonoros foram desenhados pelo fabricante para dar mais emoção à condução, sobretudo em modos desportivos. No entanto, o condutor garante que não estava a usar nenhuma dessas funções no momento da abordagem.
Na versão relatada, o carro circulava em modo de condução automática, devido à pouca carga da bateria. Esta configuração mantém os sons no mínimo. O motorista alega ainda que o ruído que motivou a multa foi, na verdade, causado por outro veículo que arrancou em aceleração assim que o semáforo ficou verde.
Apesar das explicações, o agente não retirou as acusações. O caso rapidamente gerou debate online, colocando em cima da mesa a questão: pode um carro elétrico ser multado por excesso de ruído, mesmo sem ter escape?
Radares de ruído: como funcionam
Os chamados radares de ruído, também conhecidos como radares “medusa” pela sua forma peculiar, são compostos por vários microfones capazes de captar o som dos veículos, mesmo em vias com tráfego intenso. Além disso, possuem câmaras que registam a matrícula do infrator.
Estes equipamentos costumam ser instalados em zonas urbanas, sobretudo onde o limite de velocidade é baixo, entre 30 e 50 km/h. O objetivo é controlar escapes alterados ou veículos excessivamente barulhentos, que afetam a qualidade de vida dos moradores.
Nova Iorque foi uma das primeiras cidades a implementar este tipo de tecnologia. Ali, qualquer veículo que ultrapasse os 85 decibéis a mais de 15 metros do radar é automaticamente sancionado.
Multas pesadas para os reincidentes
As penalizações aplicadas nos Estados Unidos são elevadas. A primeira infração pode custar 800 dólares, cerca de 720 euros. Se o mesmo veículo voltar a ser apanhado, a multa sobe para 1.700 dólares (1.530 euros). À terceira vez, o valor já ronda os 2.700 dólares, mais de 2.400 euros.
Segundo o El Motor, estas medidas pretendem servir de dissuasão, mas têm levantado polémica entre automobilistas. Muitos defendem que os radares não conseguem distinguir com precisão a origem do som, sobretudo em cruzamentos ou vias movimentadas.
O futuro das cidades silenciosas
Com o crescimento dos veículos elétricos, pensava-se que o problema do ruído automóvel iria diminuir naturalmente. Mas a realidade mostra que a discussão não desapareceu. Funções artificiais de som, destinadas a segurança ou a recrear a sensação de condução desportiva, podem acabar por colocar os elétricos também debaixo de vigilância.
Na Europa, alguns países já estudam integrar radares de ruído em cidades com tráfego intenso. França e Espanha estão entre os que têm projetos-piloto em marcha. Portugal ainda não avançou com medidas semelhantes, mas acompanha com atenção a evolução.
Enquanto isso, os condutores de carros elétricos começam a perceber que o silêncio não é uma garantia absoluta de evitar multas. O caso do Dodge Charger EV é um exemplo claro de como a transição energética também pode trazer novos dilemas às estradas.
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