O escaravelho predador cavernícola aquático português (Iberoporus pluto) representa o Animal Cavernícola de 2021 em Portugal. Esta iniciativa é dinamizada desde 2009 com o objetivo de sensibilizar para a importância da vida animal das cavernas e para a sua proteção. Serão dinamizadas várias iniciativas nos próximos meses.
O escaravelho predador cavernícola aquático português é o único escaravelho adaptado às cavernas de Portugal que evoluiu para viver nas águas subterrâneas. Foi descrito em 2019, por Ana Sofia Reboleira (cE3c, Ciências ULisboa) e Ignacio Ribera (Conselho Superior de Investigação Científica de Espanha), e foi descoberto numa gruta do concelho de Penela, na zona cársica de Sicó, o único local onde é conhecido. Esta espécie respira ar e por isso precisa de vir à superfície da água a cada 30 a 60 minutos.
“Os escaravelhos cavernícolas de Portugal são todos terrestres, o Iberoporus plutoé a única espécie que evoluí e se especializou a viver em águas subterrâneas. Vive apenas na água subterrânea do rio Dueça, e é uma espécie que é só nossa, não existe em nenhuma outra parte do mundo. Estudos moleculares permitiram-nos estimar que esta espécie tenha colonizado as águas subterrâneas há cerca de 10 milhões de anos. Este animal é uma verdadeira pérola da nossa biodiversidade nacional, que enfrenta graves problemas de conservação”, explica Ana Sofia Reboleira, professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e especialista em fauna cavernícola.
Esta é uma das nove espécies de escaravelhos adaptados às cavernas em Portugal continental, às que se juntam três espécies existentes na Madeira e oito nos Açores.
Os escaravelhos das cavernas foram selecionados mundialmente como grupo-alvo para este ano da iniciativa Animal Internacional Cavernícola do Ano: uma iniciativa que se assinala desde 2009 e que alerta para a pouco conhecida diversidade animal em habitats subterrâneos. Os escaravelhos são o grupo de animais mais diversificado do nosso planeta, representando cerca de um quarto de toda a diversidade animal. São artrópodes (ordem Coleoptera), possuem um exoesqueleto rígido, seis patas e duas antenas, e desempenham um papel importante nos ecossistemas terrestres, contribuindo para o ciclo do carbono e para manter o equilíbrio ecológico da vida no nosso planeta.
Este ano, a iniciativa Animal Cavernícola do Ano está inserida nas celebrações do Ano Internacional das Grutas e Carso 2021, organizada pela União Internacional de Espeleologia. Em Portugal, a iniciativa do Animal Cavernícola do Ano é promovida pelo Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Universidade dos Açores. Tem como parceiros o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade, o Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, o Agrupamento de Escolas Gil Eanes através do seu projeto de Clubes de Ciência Viva “Biodiversidade Subterrânea do Algarve”, e a Ordem dos Biólogos.
No âmbito desta iniciativa, as entidades parceiras em Portugal estão a preparar para os próximos meses atividades dirigidas à sociedade, que serão divulgadas brevemente.
“É fundamental que a sociedade tenha conhecimento que debaixo dos nossos pés estão 97% dos recursos totais de água subterrânea disponível para o consumo humano imediato, e são estas comunidades de organismos subterrâneos que purificam a água e garantem a integridade ecológica destas reservas estratégicas. Isto é fundamental para a sobrevivência dos humanos e dos ecossistemas. Toda a contaminação que ocorre à superfície infiltra-se em profundidade e compromete integralmente o legado mais precioso que podemos deixar às gerações vindouras: as nossas reservas de água potável”, explica Ana Sofia Reboleira.
Proteger e conservar esta biodiversidade escondida é um grande desafio que a sociedade tem que assumir como seu. A iniciativa do Animal Cavernícola do ano tem a função de educar e promover esta consciencialização para que possamos cumprir com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
(Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c)