Cientistas, empresários e decisores de 12 países vão participar numa conferência em Tavira que aborda a inteligência e o bem-estar dos peixes e outros animais aquáticos, assim como as questões éticas em torno da sua captura.

As implicações da inteligência e consciência destes animais no futuro da aquacultura e das pescas é um dos temas em foco no encontro, que acontece até esta sexta-feira, em Pedras d’el Rei, Tavira, disse à Lusa João Saraiva, investigador e organizador do encontro.
Um dos investigadores, Culum Brown, de uma universidade australiana, estará pela primeira vez em Portugal para apresentar um trabalho sobre a consciência e emoções dos peixes e explicar como o seu cérebro lhes permite ter uma mente, o que tem “implicações éticas” na pesca e a aquacultura.
No encontro estará também Becca Franks, de uma universidade norte-americana, responsável por um manifesto contra a aquacultura de polvo, em que explica que estes animais são capazes de sentir e sofrer de forma semelhante aos humanos e que “sofrem horrores quando estão em ambientes confinados”, afirmou o responsável pelo evento.
“À medida que nos vamos apercebendo que peixes e moluscos possuem inteligência, consciência e até emoções, começamos a ter de os tratar da maneira como já são consagrados legalmente” ressalvou João Saraiva, investigador responsável pela criação de um grupo de investigação sobre ética e comportamento animal sediado na Universidade do Algarve.
Conferência aborda o abate de peixes na pesca
Outro dos trabalhos a apresentar na conferência “Summer shoal on fish ethology and welfare” aborda o abate de peixes na pesca, “que conta já com uma forte pressão da indústria da aquacultura”, para que os dois setores tenham o mesmo tipo de regulamentação, privilegiando “um abate por atordoamento”, para provocar “uma morte sem dor”, adiantou João Saraiva.
Representantes dos três setores que influenciam a aquacultura e pescas, entre investigadores, empresários e Organizações Não Governamentais, vão também marcar presença neste encontro.
Trata-se de um grupo “restrito” mas de onde poderão sair decisões importantes a nível europeu: “se a sustentabilidade esteve na ordem do dia, a próxima grande causa a travar na nossa relação com o mar é a ética”, destacou o investigador.
Sendo o mar, as pescas e a aquacultura de “interesse nacional”, João Saraiva defende que se comece a integrar a ética animal nestes setores, porque “quando as diretrizes e regulamentos vieram da Europa, e isso é certo que vai acontecer, a indústria não vai estar preparada”.
O evento é organizado pelo grupo de bem-estar e etologia dos peixes do Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve, em Faro, que se dedica ao estudo e divulgação do comportamento e bem estar de animais aquáticos.
(CM)