Émais uma iniciativa de apoio ao povo ucraniano, que desde 24 de fevereiro assiste a uma guerra pesada no seu território, movida pela Rússia. A cerveja Putin Que O Pariu, lançada em 3 de junho no Hopen Braga Beer Festival, nasceu para ser mais uma forma de alertar para este “conflito paleolítico em pleno século XXI”, como se pode ler no site da marca. Os lucros da venda revertem integralmente para apoiar a Ucrânia, para uma instituição ainda a decidir.
A ideia juntou a agência de publicidade Out of the bottle, especializada na criação de marcas e embalagens para o sector das bebidas, à Cerveja Letra – a “cerveja artesanal minhota” criada em Vila Verde, nos arredores de Braga -, à agência de conteúdos audiovisuais Creative Lemons e à empresa de gestão estratégica Sr Luís Pedro.
“As primeiras 1000 garrafas já foram todas vendidas e em breve teremos mais 900 unidades para vender”, disse ao Expresso Luís Pedro, que faz a comunicação do projeto.
Os promotores desta iniciativa justificam-na com o facto de considerarem que “ficar no conforto do sofá e assistir à guerra pela televisão, ver um país ser destruído e um genocídio a acontecer, seria mesmo um grande ato de covardia”. Daí a decisão de criar um produto que pede o fim deste conflito. “Todos movidos pela mesma vontade de não deixar adormecer o assunto, de sermos mais uma gota no oceano, de sermos uma voz, um basta!”.
Não foi fácil montar o projeto e houve mesmo algumas abordagens que não tiveram recetividade. “Como o projeto não é politicamente correto, tivemos de lidar com muitas respostas negativas, até que finalmente um grupo de trabalho foi constituído, numa verdadeira luta contra o tempo”, explica Luís Pedro.

Recorrendo à ideia de que a Putin Que O Pariu é a “cerveja que faz da palavra uma arma”, a comunicação da marca alude ao cocktail Molotov, uma arma artesanal e de fabrico caseiro. “A missão é que cada garrafa de Putin Que O Pariu erguida sirva para fazer barulho e dar voz ao drama que a Ucrânia está a viver. Os ucranianos também merecem beber cerveja em paz”.
Apesar das dificuldades iniciais, cedo se percebeu que a ideia ia ter recetividade. No seu lançamento em Braga no início de junho, “deu para perceber que a reação das pessoas era a melhor”, com a cerveja a concentrar as atenções perante “uma plateia atenta”, dando origem a “palmas, perguntas, felicitações… e, a cerveja disponível para venda, esgotou em 10 minutos após a nossa apresentação. Sempre deixamos bem claro que o projeto não está contra ninguém, contra nenhum povo… apenas pela paz”.
Luís Pedro relata mesmo o caso de um “casal sénior que se deixou ficar para o fim, de forma muito discreta e tímida. Quando toda a plateia já tinha dispersado, abordaram-me. Queriam saber mais do projeto. Fotografaram-no. Compraram. Pela pronúncia, percebi que não eram portugueses. Apresentaram-se como cidadãos russos a viver em Braga”. A cerveja pode ser comprada nos espaços físicos que a Cerveja Letra – as ‘letrarias’ – tem em Braga, Porto, Vila Verde e Ponte de Lima e também pode ser encomendada no site, em www.putinqueopariu.com, para qualquer ponto do planeta, garantem os seus promotores.

LUCRO DE 80 CÊNTIMOS
Cada garrafa está à venda por 3,5 euros e gera um lucro de 80 cêntimos, que reverte na totalidade para esta causa, segundo a Cerveja Letra. Se a compra for feita em pacotes de 6 ou 12 garrafas há um desconto – cada modalidade destas custa 20 euros e 40 euros, respetivamente. Os promotores prometem entregas em 72 horas.
Esta cerveja é do tipo “American India Pale Ale”, com 6,5% de teor alcoólico, e os seus criadores explicam que “combina a doçura do malte com o amargo dos lúpulos americanos CASCADE, CITRA e MOSAIC adicionados ao longo do processo, resultando em sabores e aromas tropicais e cítricos”. Não se trata de uma receita exclusiva – é antes uma das cervejas que a Letra tem à venda e à qual deu agora este rótulo solidário.
“Não seríamos o primeiro projeto solidário a dar prejuízo, portanto tudo está a ser feito com cautela e com o suporte de uma estratégia de marketing digital”, diz Luís Pedro, referindo que a forma como o dinheiro vai chegar ao povo ucraniano ainda está a ser estudada. “Não estamos articulados com ninguém. Apenas nos cansámos de ver as notícias da guerra como se de um reality show se tratasse… confortavelmente sentados no sofá das nossas casas seguras. E ter uma bandeirinha da Ucrânia nos perfis das nossas redes sociais, não era o bastante”.
Deixando claro que “o projeto não quer financiar a guerra, mas sim a paz”, os promotores, que também esclarecem que não querem “ganhar dinheiro com a guerra” explicam que “depois de montado o coletivo de trabalho que permitiu concretizar o projeto, avançámos o mais rapidamente possível para o engarrafamento, rotulagem e lançamento do produto (de forma analógica e digital) mesmo sem termos concluído o processo de identificação da instituição a quem vamos entregar os lucros do projeto. É por essa razão que o rótulo não refere nomes”. Neste momento há contactos com algumas instituições de apoio à Ucrânia que poderão vir a associar-se à iniciativa e receber os lucros da venda das garrafas.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL