A um mês do Natal, Portugal atravessa a quinta fase da pandemia de covid-19, com um crescimento de infeções, mas a pressão sobre os serviços de saúde é muito menor do que no mesmo período de 2020.
Em vários parâmetros – número de infeções, de óbitos, de internamentos em enfermaria e doentes em cuidados intensivos – os dados entre 01 de outubro e 22 de novembro deste ano, em relação ao período homólogo do ano anterior, indicam que o país está hoje numa situação pandémica mais favorável.
Na comparação entre estes dois períodos, com base nos dados da Direção-Geral da Saúde, verifica-se um ponto comum: os indicadores da pandemia de covid-19 foram-se agravando de uma forma gradual ao longo dos 53 dias analisados, tanto em 2020, como em 2021.
No final de 2020, esta evolução culminou com a pior vaga desde o início da pandemia, que atingiu o seu pico em janeiro e fevereiro de 2021, com o recorde de casos de infeção e uma forte pressão sobre os hospitais portugueses.
Em outubro do ano passado, o país estava em estado de calamidade, passando depois para o estado de emergência, mas agora está num contexto menos restritivo, já que, em 01 de outubro deste ano, o território continental desceu para a situação de alerta, o nível de resposta mais baixo previsto na Lei de Base da Proteção Civil.
O grupo de peritos que aconselha o Governo na gestão da pandemia considera que devem ser tomadas medidas antes do Natal, dado o risco de aumento exponencial do número de casos, que pode duplicar ou triplicar em poucas semanas.
+++ Os números acumulados de casos e óbitos +++
A 22 de novembro de 2020, Portugal registava um total de 260.758 casos de infeção pelo coronavírus e 3.897 mortes associadas à covid-19. Um ano depois, o número de infetados já era de 1.123.758 e tinham morrido 18.339 pessoas.
+++ Menos 70% de infeções +++
Se entre 01 de outubro e 22 de novembro do ano passado, o país somou um total acumulado de 180.841 casos positivos, no mesmo período de 2021 esse número baixou para os 54.429, o que representa menos cerca de 70% de infeções pelo vírus SARS-CoV-2.
No período de 2020, o dia com maior número de infeções foi a 19 de novembro, com 6.994 casos, e em 2021, foi na quarta-feira, com 3.773.
+++ Redução de 81% de mortes +++
Entre os vários parâmetros, a redução mais significativa é a dos óbitos associados a covid-19, que apresenta uma diminuição de 81% na comparação entre os dois períodos: em 2020, morreram 1.926 pessoas por covid-19, mas esse número baixou para os 364 em 2021.
Em 2020, 11 de novembro foi o dia com mais mortes, 82, enquanto, no mesmo período de 2021, foi a 22 de novembro, com 18 óbitos.
+++ Redução de quase 80% dos internamentos +++
Outra diminuição significativa registou-se nos internamentos em enfermaria, que baixaram 79,6% na comparação entre 01 de outubro e 22 de novembro deste ano com o mesmo período de 2020.
Em 2020, a média diária nestes 53 dias foi de 1.795 pessoas internadas em enfermaria, baixando em 2021 para 366 doentes que necessitaram deste tipo de cuidados clínicos.
+++ Redução de 75% de cuidados intensivos +++
Já no que tem a ver com doentes em unidades de cuidados intensivos, a redução da média diária entre os dois períodos foi de 75%.
No ano passado, esta média cifrou-se nos 259 doentes por dia, mas este ano baixou para 64, o que representa 25% do valor crítico definido na análise de risco da pandemia de 255 camas ocupadas. Esta pressão tem vindo a subir nos últimos dias e os 93 doentes que estavam em cuidados intensivos na segunda-feira eleva este limiar para 36%.
A última análise de risco da pandemia alerta que o crescimento da intensidade epidémica em Portugal deverá condicionar uma subida do nível de alerta do sistema de saúde para aumentos de procura de cuidados no próximo mês.
+++ Vacinação acima dos 86% +++
Considerada pela generalidade dos especialistas como o fator determinante para a redução da pressão que se verifica sobre os serviços de saúde, Portugal tem hoje mais de 86% da população totalmente vacinada contra o SARS-CoV-2, o que representa cerca de nove milhões de pessoas.
A vacinação em Portugal arrancou no final de dezembro de 2020, mas só entrou em velocidade de cruzeiro meses depois, com a chegada das doses suficientes ao país para concretizar o plano definido pela `task force´ liderada pelo vice-almirante Gouveia e Melo.
+++ Índice de transmissibilidade (Rt) mais elevado +++
Em 22 de novembro deste ano, o Rt – que estima o número de casos secundários de infeção resultantes de cada pessoa portadora do vírus – está mais elevado (1,19) do que no mesmo dia de novembro de 2020 (1,05).
A taxa de incidência do vírus SARS-CoV-2 a nível nacional também tem registado um aumento significativo nas últimas semanas, atingindo os 251,1 casos por 100 mil habitantes na quarta-feira, quando no início de outubro estava nos 101,7.
O último relatório das “linhas vermelhas” da pandemia, divulgado em 19 de novembro, alerta que a análise dos diferentes indicadores revela uma atividade epidémica de intensidade moderada, com tendência crescente a nível nacional.
+++ As variantes que surgiram em 2021 +++
No final de 2020, as autoridades de saúde nacionais estavam a determinar se a variante do SARS-Cov-2 associada ao Reino Unido, mais tarde denominada de Alpha, estava a circular em Portugal, com as primeiras sequências a serem detetadas logo em janeiro de 2021.
Esta variante ainda ganhou algum terreno no início de 2021, chegando a representar quase 60% dos contágios, mas foi rapidamente superada pela Delta, que, em meados de fevereiro, já era responsável por cerca de metade dos casos de covid-19 em Portugal.
Desde então, a Delta, considerada mais transmissível que o vírus original, passou a ser a variante dominante no país, à semelhança do que se verifica na Europa, atingindo uma prevalência de 100% nos últimos meses.