Oministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, diz não entender a decisão da Comissão Europeia, anunciada a 31 de dezembro, de incluir o gás natural e o nuclear na chamada “taxonomia verde”, como energias de transição a financiar para cumprir a prometida redução de 55% de emissões de gases de efeito de estufa até 2050, em consonância com os objetivos ambientais e climáticos da União Europeia.
Questionado pelo Expresso sobre como olha para o renascer da energia nuclear na Europa, no contexto das alterações climáticas e da atual guerra na Ucrânia, Matos Fernandes descarta a possibilidade de Portugal enveredar por esse caminho: “Não ponho essa possibilidade. Em Portugal não faz sentido”.
O ministro do Ambiente reforça a ideia, lembrando que “Portugal tem água, vento e sol para produzir 100% da eletricidade que é necessária, portanto não faz qualquer sentido haver uma central nuclear em Portugal”.
Em relação à aposta europeia, confessa: “Custa-me a entender esta heteronímia de esta Comissão achar que o nuclear deve estar dentro da taxonomia dos investimentos a ser financiados, quando de forma tão justa e certa se bateu ao lado do Conselho para a aprovação da Lei do Clima”.
Frisando não querer meter-se nas opções de cada país, diz que “o nuclear ajuda a cumprir as metas das emissões se substituir carvão, mas em Portugal a aposta no nuclear significaria deixar de a fazer nas renováveis”. O que, em seu entender, seria “um absurdo completo”. Além de que, acrescenta, “este caminho não aponta soluções a curto prazo”, uma vez que “uma central nuclear pensada hoje não estará pronta em menos de 12 a 15 anos”.
Matos Fernandes não nega que “se Portugal tem importado mais energia de Espanha nos últimos tempos, tendo capacidade para a produzir nas suas centrais de ciclo combinado, que estão longe de estar a produzir no máximo, é porque a eletricidade em Espanha é mais barata, porque aparece o nuclear”. Mas adverte que o preço baixo se deve ao facto de as centrais nucleares de onde vem essa energia já estarem todas elas amortizadas e que “com os preços que se projetam no futuro o nuclear não é sequer rentável”.
No entender do ministro, “teríamos de transferir subsídios aos combustíveis fósseis para subsídios à energia nuclear para ela poder ser rentável”.
Questionado sobre os problemas da segurança de abastecimento, já que as renováveis têm problemas de armazenamento, a começar com o exemplo de a energia solar só produzir de dia, e tornar difícil assegurar 100% da produção energética a partir de renováveis, Matos Fernandes, lembra que, “como disse e bem o Engenheiro Costa e Silva há uns meses, quem descobrir a forma eficiente de armazenar essa energia fará a próxima grande invenção no mundo”.
Apontando o gás como “uma energia de transição para, pelo menos, os próximos 20 anos, diz que “teremos o gás necessário e não precisamos de mais nada além disso”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL