O nacionalista Mário Machado considerou esta sexta-feira ser um “preso político” e anunciou a sua retirada das redes sociais, apontando críticas ao Estado e ao Ministério Público depois de sair em liberdade do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
O antigo líder do movimento Nova Ordem Social defendeu, em declarações a jornalistas, que a apresentação quinzenal às autoridades como única medida de coação decretada pelo juiz de instrução, depois de três dias detido por posse de arma ilegal, é uma “vitória” pessoal, mas, simultaneamente, “uma derrota para a democracia”, vincando estar a ser limitada a sua liberdade de expressão.
“O Ministério Público manteve-me preso durante três dias, queria que eu ficasse preso durante oito anos por alegadamente ter escrito um texto na internet. Nunca em democracia se viu uma coisa destas. É um autêntico absurdo. Continuo a ser um preso político. A magistratura, infelizmente, continua a ter uma forte influência do governo socialista e marxista que governa o país, portanto, não estão reunidas as condições para eu continuar a minha vida política ativa no seio nacionalista”, afirmou.
Mário Machado reforçou ainda não estar disponível para abdicar da liberdade junto da sua família por publicações feitas na Internet.
“Espero que os meus camaradas compreendam isso, portanto, a partir de hoje vou-me retirar, vou deixar de ter redes sociais porque o Estado português assim o quer. Não estou para abdicar de oito anos de liberdade”, explicou.
Sobre a publicação na Internet que esteve na origem deste caso, o ex-dirigente de várias organizações de extrema-direita considerou “vergonhoso” e questionou a orientação do Ministério Público (MP).
“O que o MP alega é que, quando um assassino de um adolescente no Algarve estava em fuga, a Nova Ordem Social escreveu um texto – que nem sequer me pode ser imputado, porque eram 12 as pessoas que podiam ter acesso a esse site – em que dizia que esse assassino devia ser entregue às autoridades, o que aconteceu apenas dois anos mais tarde e foi condenado a 16 anos de prisão. Se em democracia não podemos pedir que os assassinos sejam entregues à polícia, então não sei o que poderemos dizer”, disse, antes de terminar com a saudação nazi.
Mário Machado foi detido na terça-feira em flagrante delito, em casa, por posse ilegal de arma, disse à agência Lusa fonte policial.
A mesma fonte acrescentou que a detenção aconteceu durante uma busca realizada à casa de Mário Machado, em Santo António dos Cavaleiros (Loures), no âmbito de uma investigação da Polícia Judiciária por suspeitas de crimes de ódio e incitamento à violência através de comentários feitos na internet.
Mário Machado, 44 anos, esteve ligado a diversas organizações de extrema-direita, como o Movimento de Ação Nacional, a Irmandade Ariana e o Portugal Hammerskins, a ramificação portuguesa da Hammerskin Nation, um dos principais grupos neonazis e supremacistas brancos dos Estados Unidos da América. Fundou também os movimentos Frente Nacional e Nova Ordem Social (NOS), que liderou de 2014 até 2019.
O nacionalista tem também um registo criminal marcado por várias condenações, entre as quais a sentença, em 1997, a quatro anos e três meses de prisão pelo envolvimento na morte, por um grupo de ‘skinheads’, do português de origem cabo-verdiana Alcino Monteiro na noite de 10 de junho de 1995.
Tem ainda uma outra condenação de 10 anos, fixada em 2012 por cúmulo jurídico na sequência de condenações a prisão efetiva em três processos, que incluíam os crimes de discriminação racial, ofensa à integridade física qualificada, difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República e posse de arma de fogo.