Até 2025, Portugal vai garantir um aumento de 600 Terabits por segundo (Tbps) da largura de banda disponibilizada pelas comunicações com o estrangeiro. À Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) já chegaram quatro processos com vista à instalação de quatro cabos de telecomunicações submarinos.
Com estes quatro cabos, “a largura de banda disponibilizada em Portugal através dos cabos submarinos deverá ser seis a oito vezes maior que aquela que existe na atualidade”, prevê José Carlos Simão, diretor geral dos Recursos Marítimos.
Além de dois projetos liderados por consórcios liderados por Google e Facebook, há mais dois cabos submarinos que estão a ser projetados para amarração em Portugal Continental. José Carlos Simão dá quase como garantida a instalação desses dois cabos até 2025 – mas não revela os nomes de empresas ou consórcios que estão a liderar esses projetos, até ficarem firmados oficialmente, com o pagamento de taxas entre os 2000 e os 5000 euros anuais.
Estes quatro novos cabos já deverão ser de nova geração. O que significa que deverão ser capazes de transmitir dados com velocidades entre 100 e 250 Tbps (larguras de banda que suportam entre 1 milhão e 2,5 milhões de acessos à Internet a 100 Megabits por segundo). No site da DGRM, é possível conhecer mais em detalhe os vários em operações em Portugal
Os novos cabos vão poder funcionar como alternativas às ligações subaquáticas que deverão ultrapassar o período de vida útil nos próximos anos, mas José Carlos Simão recorda também que “têm por objetivo reforçar as ligações à Europa, Mediterrâneo e também a África”.
Atualmente existem 18 cabos submarinos amarrados em território nacional no território continental: cinco em Carcavelos, quatro no Seixal, sete em Sesimbra, um na Costa da Caparica e um em Sines. Além dos quatro processos que já estão mais avançados, a DGRM já recebeu mais duas mostras de interesse que deverão avançar depois de 2025. E nestes projetos a intenção passa “claramente pela instalação de cabos com capacidades de 250 Tbps”, explica o diretor-geral.
Um estudo recente da Copenhagen Economics revela que os cabos submarinos deverão contribuir para um reforço de €500 milhões do PIB português nos próximos anos. Este valor deverá ser potenciado através de atividades que, direta ou indiretamente, tiram partido da conectividade.
A própria legislação internacional em vigor retirou grande parte da capacidade aos diferentes estados para impedir a instalação de cabos que não ameacem reservas naturais marinhas. Apesar do contexto financeiro e legal, a DGRM mantém a convicção de que, além da sofisticação propiciada pelo crescendo de conectividade, as ligações submarinas assumem também contornos soberania nacional.
José Carlos Simão admite que “há uma competição entre países” em torno da amarração de cabos submarinos, mas também recorda que Portugal tem alguns trunfos estratégicos: “O nosso posicionamento geográfico é uma vantagem”, diz numa alusão às ligações com Américas e resto da Europa – e ainda África, que tudo leva a crer que deverá registar “um crescendo de digitalização nos próximos anos”, caso garanta a conectividade desejada.
GOOGLE E FACEBOOK INVESTEM
A instalação de cabos submarinos tem vindo a ser promovida por operadores descritos como neutros pelo facto de prestarem serviços de telecomunicações a qualquer operador que assim o solicite, e também por gigantes tecnológicos que têm maiores necessidades no que toca à conectividade. Neste segundo grupo de empresas destacam-se Google e Facebook.
A Google prevê estrear o cabo Equiano, que liga Sesimbra à Cidade do Cabo, na África do Sul, com uma largura de banda que pode chegar aos 144 Tbps. O consórcio liderado pelo Facebook conta estrear, em 2024, o cabo 2Africa que circunda o continente africano e conta com uma ligação a Portugal, a velocidades que deverão chegar aos 180 Tbps.
“Temos capacidade para nos tornarmos um hub de cabos da transmissão de dados. A estratégia é captar o máximo de cabos submarinos e investimentos que permitam sustentar essa estratégia”, descreve José Carlos Simão. O diretor geral admite que os novos cabos podem vir a ser instalados noutras localidades – mas há projetos previstos para Sines, que poderão tirar partido dos projetos que têm em vista criar um ponto de distribuição de circuitos de telecomunicações e de armazenamento de dados na localidade alentejana.
Além de Sines e dos vários locais nas imediações de Lisboa, Portugal conta ainda com pontos de amarração garantem as comunicações com os arquipélagos de Açores e Madeira.
“Temos capacidade para nos tornarmos um hub de cabos da transmissão de dados. A estratégia é captar o máximo de cabos submarinos e investimentos que permitam sustentar essa estratégia”. diz José Carlos Simão, diretor geral dos Recursos Marítimos.
José Carlos Simão garante que a DGRM está apostada em tentar convencer os operadores a criarem ligações aos Açores e Madeira a partir de projetos que passem na proximidade dos arquipélagos, mas lembra que a decisão final dos percursos e derivações é decidida pelos operadores.
A par das telecomunicações, o potencial das interligações submarinas estende-se à proteção civil e à monitorização dos oceanos, com a instalação de sensores que poderão detetar sismos ou poluição, entre outros incidentes. “A tecnologia tem evoluído muito e começa a haver interesse nos cabos submarinos de potência (que transportam energia)”, refere José Carlos Simão.
O projeto Windfloat, que levou à instalação de turbinas eólicas flutuantes ao largo de Viana do Castelo, é dado como um cenário em que os cabos de potência já são usados com sucesso, mas o diretor geral responsável pelos recursos marinhos recorda ainda que estas ligações já começaram a ser estudadas como potenciais alternativas aos cabos de alta tensão terrestres.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL