“Estarei sempre disponível enquanto militar, mas gostaria de ver a nossa sociedade a andar para a frente de outra forma: sem nenhum Sebastião, porque Sebastião é cada um de nós”, disse o ex-coordenador da “task force”, numa conferência no Dia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
O militar defendeu que o país deve dar espaço às instituições nacionais para solidificarem as suas capacidades, “sob o risco de andarmos sempre de processo excecional em processo excecional”.
“O meu papel enquanto militar foi ajudar a colocar um penso rápido na ferida. A ferida fechou e sarou, agora precisamos de viver sem pensos rápidos”, disse Gouveia e Melo, salientando que o país está noutra fase, mas que existe a “tendência outra vez de dizer ‘tragam o Sebastião’”.
Para o vice-almirante, dizer “’tragam o Sebastião’ é provar que não aprendemos nada enquanto sistema”.
O país precisa, frisou, de conseguir unir “outra vez” a Ordem dos Médicos, dos Enfermeiros e as diversas entidades do Ministério da Saúde e “esse ecossistema resolver este problema da terceira dose e do que vier para a frente”.
Numa conferência em que foi aplaudido de pé, o ex-coordenador disse que, atualmente, é necessário olhar com coragem para os dados dos novos infetados e tomar decisões de forma consciente, sem andar atrás de outros interesses.
“Temos de analisar neste momento quem é que está positivo, é preciso ter números e não entrarmos em pânico. Será que quem está a ficar positivo não são as pessoas que não foram vacinadas e se é isso é a terceira, quarta ou quinta dose que vai ajudar”, questionou.
Gouveia Melo questionou ainda quantas pessoas estão a morrer das que estão vacinadas “e em que condições é que estão a morrer”, frisando que, sem esses dados, “é tudo ruído e em ruído podemos decidir mal”.
Segundo o militar, Portugal tem de olhar para os dados e estabelecer, “de forma inteligente, qual a melhor estratégia e segui-la depois com as nossas capacidades, dando espaço também às instituições nacionais para solidificarem as suas capacidades.
“Vamos tentar, de forma coordenada, atacar o problema de forma racional, olhando para os dados. Quem é que está a ser infetado, ninguém me sabe responder. Quantas pessoas estão a morrer realmente vacinadas? Essas pessoas já tinham 100 anos de vida e 300 complicações? Estão a morrer de infeções respiratórias ou de outras coisas?”, indagou.
Para o ex-coordenador da “task force” do processo de vacinação, sem dados e sem estudo não é possível decidir de forma consciente e “não induzida por mimetização de coisas que se passam noutros sítios”.
“Temos de acreditar em nós, nas nossas instituições e dar forças às nossas instituições, não é trazer para a guerra política que só nos vão destruir capacidades”, sublinhou.