“O ano de 2022 pode ser problemático no que diz respeito a incêndios”, o alerta é de Gonçalo Alves, sócio da GKAPITAL, uma empresa de consultoria de gestão de recursos naturais e investimento florestal.
O engenheiro florestal foi um dos convidados dos dois workshops que decorreram esta segunda-feira em Querença, no Auditório da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, entidade que juntamente com a Câmara Municipal de Loulé, organizou este evento duplo.
Durante a sua intervenção, intitulada “O papel da floresta no combate às alterações climáticas”, Gonçalo Alves lembrou que o ciclo entre períodos de grandes fogos florestais tem vindo a diminuir. Se antes os grandes incêndios aconteciam, em média, de dez em dez anos, atualmente acontecem de cinco em cinco.

“Os incêndios em 2017 foram os mais extremos registados em Portugal. Com as alterações climáticas, o nível de precipitação tenderá a ser cada vez menor, proporcionando as condições ideais à ocorrência de incêndios e ao aumento de emissões de carbono”, referiu, acrescentado que “nas últimas duas décadas houve um decréscimo do nível de precipitação de 20 a 40% no nosso país”.
Esta é uma preocupação partilhada por Pedro Curto, coordenador regional da Agência de Gestão Integrada dos Fogos Rurais (AGIF), que no primeiro workshop da tarde abordou o tema ‘Algarve protegido dos incêndios rurais graves: Fatores críticos para atingir visão’.
Na sua apresentação, o responsável pela AGIF no Algarve explicou o papel e o funcionamento desta Agência, criada após os grandes incêndios de 2017, na sequência dos quais foi elaborado, por uma comissão técnica independente, um relatório que identificou diversos problemas e pontos críticos na gestão do fogo.

“A grande missão que temos pela frente é passar do antigo sistema de defesa da floresta para um novo sistema de gestão integrada de fogos florestais. A Agência aparece, assim, como um elemento agregador, colocando várias entidades no âmbito dos incêndios rurais a trabalhar com um objetivo comum, sobretudo no que diz respeito à prevenção e sensibilização”, explicou, realçando a importância de estarem “a ser criadas políticas públicas duráveis, estáveis e multissetoriais”.
Neste momento, para testar e avaliar este modelo de atuação, estão em curso projetos-piloto em três regiões distintas do país. O Algarve é uma delas, mais propriamente a zona do barlavento, com poucos, mas grandes e intensos incêndios, em zonas com baixa densidade populacional e abandono agrícola.
Já Gonçalo Alves apontou a desertificação, o abandono e a falta de produtividade da floresta nacional como alguns dos maiores problemas a combater.

“Em Portugal 98% da área florestal pertence a privados e para que esses privados invistam na floresta, não a deixando ao abandono e sujeita a arder, é preciso criar condições e mecanismos para que esta se torne rentável. Ou seja, precisamos de uma estratégia nacional para o setor, mais eficaz.”, explanou, afirmando que o potencial da floresta portuguesa não tem sido aproveitado, o que também nos fragiliza perante o cenário das alterações climáticas.
O conjunto de dois workshops aconteceu no âmbito do projeto ‘Valorização e Aproveitamento da Floresta Mediterrânica, o caso do Concelho de Loulé’, resultante de uma candidatura conjunta entre a Fundação Manuel Viegas Guerreiro e a Câmara Municipal de Loulé, ao abrigo do Plano de Ação de Desenvolvimento de Recursos Endógenos (PADRE).