O príncipe André do Reino Unido perdeu esta sexta-feira todos os galões militares e cargos civis que ocupava enquanto membro da família real, anunciou a rainha Isabel II nas redes sociais. O também duque de Iorque sofrera na véspera uma derrota judicial, quando um juiz de Nova Iorque admitiu o processo que lhe foi instaurado pela americana Virginia Roberts Giuffre. Esta garante que foi obrigada a ter relações sexuais com André em 2001, quando tinha apenas 17 anos.
“Com a aprovação e o acordo da rainha, as afiliações militares e patronatos reais do duque de Iorque foram devolvidos à rainha. O duque de Iorque continuará a não cumprir funções públicas e está a defender-se no seu caso enquanto cidadão particular”, lê-se no comunicado emitido pelo palácio de Buckingham. O texto não explicita de quem partiu a iniciativa, mas a vontade da soberana fica claramente expressa.
No mesmo dia, um grupo de mais de 150 veteranos escreveu à rainha a exigir que esta retirasse honras militares a André, dizendo-se “inquietos e irados”. “Se fosse qualquer outro alto oficial militar, seria inconcebível que ainda estivesse no posto”, argumentavam.
O diário “The Telegraph”, tido como próximo da monarquia, escreve que André deixará de utilizar o título Sua Alteza Real. A decisão terá sido tomada após discussões aprofundadas na família. Sabe-se há muito que o príncipe Carlos, irmão mais velho de André e herdeiro do trono, receia o efeito deste escândalo na popularidade da Coroa. André foi visto na manhã de sexta-feira a sair de carro da sua residência, em Windsor, para ir ter uma audiência com a chefe de Estado.
A menos de um mês de cumprir 70 anos de reinado, Isabel II separa, assim, a instituição que chefia dos dilemas jurídicos do filho. Este é acusado no âmbito da rede pedófila montada pelo milionário americano Jeffrey Epstein, seu amigom, que se suicidou em 2019 numa cadeia nova-iorquina. André desmente ter sequer conhecido a sua acusadora, embora haja uma foto sua a abraçá-la pela cintura. Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, foi condenada como sua cúmplice e recrutadora de menores, algumas com apenas 14 anos. Também aparece na foto de André e Virginia.
Acusadora não quer acordo extrajudicial
O jornal “The Guardian” cita o advogado de Giuffre, que afirma que esta não está interessada num acordo extrajudicial que lhe valha uma indemnização paga pelo príncipe. Este tentou evitar o processo com alegações técnicas, questionando primeiro o local de residência de Giuffre e, em seguida, tentando fazer-se valer de um acordo entre esta e Epstein.
Salvo recurso, Giuffre e André serão interrogados sob juramento nos próximos meses. A exposição pública adivinha-se inconveniente para a monarquia britânica, logo no ano em que Isabel II cumpre 70 anos de reinado, no próximo dia 6 de fevereiro. Os festejos oficiais estão marcados para junho.
André defendeu-se numa entrevista à BBC, em 2019, que gerou reações tão negativas que o levaram a abandonar a vida pública. Nela, afirmou que sofre de uma “condição médica peculiar” que o impede de suar, o que, a seu ver, desmente a descrição de Giuffre dos seus presumíveis encontros sexuais, em que ele “suava abundantemente” em cima dela. Não tem, porém, provas dessa incapacidade.
Combatente na guerra das Malvinas em 1982, André esperava ser promovido a almirante ao fazer 60 anos, em 2020, mas o escândalo impediu-o. No funeral do pai, Filipe, em abril, Isabel II impôs que toda a família trajasse à civil.
Coronel de oito regimentos, o duque de Iorque era ainda comodoro honorário da base da Força Aérea em Lossiemouth; coronel-chefe do regimento real irlandês; coronel-chefe do Small Arms School Corps; comodoro-chefe da Fleet Air Arm; coronel real dos Fuzileiros Reais das Highlands (Escócia); vice-coronel-chefe dos Lanceiros Reais da Rainha Isabel e coronel real do regimento real da Escócia.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL