A revista Time elegeu o empresário Elon Musk como “Pessoa do Ano” na semana passada, mas a figura que teve o maior número de votos dos leitores foi outra: Jair Bolsonaro. O Presidente do Brasil amealhou um quarto do total de nove milhões de votos – o dobro do segundo classificado, Donald Trump – e essa vitória só foi possível devido a uma forte mobilização dos seus apoiantes na rede social Telegram.
Nas últimas semanas, Bolsonaro tem encorajado as pessoas a usar este serviço de mensagens, que em agosto já estava em mais de metade dos telemóveis brasileiros, segundo o jornal “Washington Post”, e isso é preocupante para o futuro da democracia no país.
“O Telegram não está tão interessado em monitorizar conteúdo como o Facebook ou o Twitter. Se um político quer dizer que as eleições foram fraudulentas, não vai fazê-lo no Twitter, porque a publicação será removida. Mas vai fazê-lo no Telegram”, explicou ao jornal norte-americano Sérgio Spagnuolo, fundador do “Núcleo Jornalismo”.
“Logicamente que ampliamos a nossa rede com o Telegram. Não tem censura. E tem que ser assim. Se hoje você posta uma matéria apontando um problema com a vacina, você é taxado de terraplanista, de negacionista, propagador de fake news. Pessoal, Telegram é uma alternativa”, garantiu Bolsonaro em outubro, que já tem mais de um milhão de seguidores neste serviço de mensagens.
Segundo o grupo de investigação Netlab, que analisa a atividade da extrema-direita nas redes sociais, os apelos ao voto em Bolsonaro na eleição da Time chegaram a mais de 100 grupos do Telegram, muitos deles com vários milhares de membros. Em cada um desses grupos, o survey para a votação de “Pessoa do Ano” foi partilhado entre 20 a 80 vezes em média.
Assim, o Telegram oferece todas as condições para Bolsonaro e os seus apoiantes disseminarem a mensagem de que o sistema eleitoral do Brasil está comprometido e que as eleições presidenciais do próximo ano serão manipuladas – apesar de não haver quaisquer provas de que isso seja verdade.
Segundo o “Washington Post”, o Telegram é diferente de outras redes sociais e serviços de mensagens porque não tem representantes no Brasil, e portanto, no limite, a plataforma não pode ser responsabilizada judicialmente pelos conteúdos que divulga – ao contrário do Facebook e do Twitter, por exemplo, que nos últimos tempos têm removido várias publicações e vídeos de Bolsonaro onde são proferidas informações falsas.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL