Ksenia Ashrafullina, ativista russa de 36 anos que vive em Portugal há uma década, pede à Justiça e polícias portuguesas que investiguem a fundo as ligações económicas de oligarcas russos com Portugal, na sequência das sanções da União Europeia aplicadas a milionários daquele país após a invasão das tropas de Vladimir Putin na Ucrânia.
A ativista chama a atenção em particular para o processo de concessão de nacionalidade atribuída a Roman Abramovich, dono do Chelsea, ao qual o Ministério Público abriu já um inquérito. “Abramovich obteve a nacionalidade portuguesa em seis meses. Isto nunca aconteceu com qualquer outro russo em Portugal. É impossível sem haver algum tipo de corrupção. Trata-se de um processo que costuma ser muito burocrático e pode levar anos, como foi o meu caso.”
Ksenia Ashrafullina, que se tornou conhecida há um ano com a polémica dos dados sobre manifestantes enviados pela Câmara de Lisboa à embaixada da Rússia em Portugal, aponta o dedo a outros casos que também considera suspeitos. Um deles é o de outro multimilionário russo, Mikhail Fridman, que controla o grupo de distribuição alimentar DIA (dono da cadeia de supermercados Minipreço em Portugal). “É preciso que as autoridades vejam com atenção os seus negócios em Portugal.”
Mikhail Fridman é um dos oligarcas russos que foi alvo de sanções por parte da União Europeia na última semana.
A ativista russa, muito crítica do regime de Vladimir Putin, faz coro às vozes que como a ex-eurodeputada Ana Gomes querem que o Governo português torne pública a lista de vistos gold russos em Portugal. “É uma questão de transparência. Em Malta a lista foi aberta a todos e conseguiu-se descobrir negócios suspeitos de um oligarca russo ligado àquele país.”
Recorde-se que na sequência da invasão da Rússia na Ucrânia o Governo português suspendeu a concessão de vistos gold a cidadãos russos.
Para Ksenia Ashrafullina, é necessário que a Justiça portuguesa olhe também com atenção para as sociedades de advogados que têm tornado possível a concessão de vistos gold a milionários russos. “Algumas fazem-no de forma legal, outras de forma ilegal.”
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL