Ano novo, vida nova. Assim parece ser para milhões de pessoas em todo o mundo, quando finalmente se vira a página de mais um ano e outra se abre imaculada, uma tela em branco cheia de promessas e possibilidades. Entre a cacofonia dos céus em explosão, beijinhos e tchim-tchins, o protesto de tachos e panelas e as passas engolidas a seco, o leitor enche-se de ânimo e decide que vai mudar. É este o seu ano.
As resoluções de Ano Novo atualmente também são um hashtag, mas estão muito longe de ser uma invenção da modernidade. Diz-se que os antigos Babilónios já tinham este costume há cerca de 4000 anos. A comemoração do novo ano (conhecida como Aquitu) durava 12 dias e era oportunidade para fazer promessas aos deuses, pagar dívidas e devolver objetos que tivessem sido emprestados. Práticas semelhantes são conhecidas na antiga Roma, depois de uma reforma protagonizada pelo próprio Júlio César, e posteriormente entre os primeiros cristãos.
Em diferentes momentos e lugares, a viragem do ano assinala uma transição para um novo ciclo e isso parece despertar um sentimento de renovação e a motivação para fazer um balanço de objetivos e prioridades. O ambiente festivo que se vive nesta época pode trazer o entusiasmo necessário para animar o desejo de mudança. No entanto, mesmo a mais convicta e sincera resolução de Ano Novo pode não resistir à prova do tempo.
Num dos maiores estudos conduzidos até à data sobre o assunto, concluiu-se que, volvidos 3 meses do novo ano, a taxa de sucesso na manutenção das resoluções cai para dois terços. Passados 12 meses, esta percentagem aproxima-se da metade. As estatísticas podem parecer pouco animadoras, no entanto, o fracasso não é uma inevitabilidade: É apenas preciso que nos tornemos melhores a fazer resoluções.
A investigação tem vindo a mostrar que para acontecer mudança de comportamento é necessário alinhar três componentes essenciais, a saber, a capacidade, a oportunidade e a motivação para mudar. Uma das principais vulnerabilidades das resoluções de Ano Novo é basearem-se exclusivamente no desejo de mudança trazido pelo novo ano, ou seja, na motivação.
A perda de peso está entre as resoluções de Ano Novo mais comuns em todo o mundo. Esta mudança pode ser fortemente motivada por preocupações de saúde e de bem-estar. No entanto, a sua implementação pode facilmente fracassar pela ausência de capacidade (e.g., conhecimento sobre hábitos de vida mais saudáveis ou insuficiente competência para preparar refeições equilibradas) ou de oportunidade (e.g., acesso deficitário a alimentação de qualidade ou falta de apoio familiar para mudar hábitos alimentares) para sustentar este comportamento.
É igualmente importante ter em consideração a forma como se formulam os objetivos de mudança. Resoluções generalistas como “ser mais saudável” ou “viver mais feliz” são demasiado vagas para serem monitorizadas e devem ser decompostas em objetivos mais concretos, específicos e, preferivelmente, com uma janela temporal definida. No primeiro caso, pode começar por definir em que consiste um estilo de vida mais saudável e desenhar sub-objetivos a partir daí. Um exemplo de um objetivo mais específico e concreto pode ser aumentar a frequência da prática de exercício físico de 1 para 2 vezes por semana, nos primeiros dois meses do ano. A partir daí é possível definir metas de progresso, assim como outros objetivos complementares, como melhorar a alimentação ou os padrões de sono.
É importante ter em conta que a mudança de comportamento é um processo gradual e, como tal, devemos pensar nela como uma maratona e não como um sprint. As resoluções de Ano Novo são normalmente complexas e podem ser morosas. É nesse sentido que se torna importante estipular as etapas que devem ser alcançadas até alcançar o objetivo final, antecipar barreiras e potenciar fatores facilitadores. Pode parecer moroso e até aborrecido, mas importa lembrar a máxima que nos avisa “falhar em planear é planear falhar”.