Por ano, são extraídos pelo Homem 50 mil milhões de toneladas de areia e gravilha, o que daria para construir um muro de 27 metros de altura por 27 metros de largura capaz de contornar o planeta Terra. Os cálculos constam do relatório “Sand and Sustainability: 10 strategic recommendations to avert a crisis”, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (conhecido pela sigla UNEP), esta terça-feira, em Genebra.
O estudo – elaborado por uma equipa de 20 cientistas do GRID-Geneva (Global Resource Information Database) — entidade que junta em parceria a UNEP, a agência federal suíça para o Ambiente e a Universidade de Genebra) — alerta para a necessidade estratégica do recurso sólido mais extraído pelo Homem, e a importância de se adotar uma gestão mais cuidadosa.
MUDAR A FORMA DE CONSUMIR E PRODUZIR
“Para se atingir um desenvolvimento sustentável temos de mudar radicalmente a forma como produzimos, construímos e consumimos produtos e infraestruturas”, frisa Pascal Peduzzi, diretor do GRID-Geneva da UNEP em comunicado. Peduzzi lembra ainda que “os recursos de sedimentos ou areias não são infinitos e precisamos de usá-los sabiamente” e que “podemos evitar uma crise mundial adotando uma economia circular”.
Em muitos casos, lembram os cientistas, as areias podem ser substituídas por resíduos de construção reciclados, rochas partidas ou por outras areias resultantes de processos de mineração.
A extração excessiva de areia tem efeitos nefastos em rios, praias e arribas, e em ecossistemas marinhos e ribeirinhos, tendo como consequências, por exemplo, a erosão costeira, a salinização de aquíferos, a afetação da produção agrícola, e a proteção da linha de costa, assim como impactos na biodiversidade.
Os cientistas lembram que este é um recurso que presta vários serviços ao homem: da matéria-prima para fazer cimento ou vidro para construção, à sua função natural de proteção contra intempéries, inundações e subida do nível médio do mar, passando pela função de purificador de água ou de ‘habitat’ para plantas sequestradoras de carbono, entre outras funções.
Entre as recomendações feitas pelos cientistas para salvaguardar este recurso estratégico consta o seguinte: o aumento do seu custo, de modo a valorizar as suas múltiplas funções; a regulamentação internacional de regras para a sua extração e dragagem; e a proibição de extração de areia das praias para salvaguardar a sua função de reforço de adaptação às alterações climáticas.
Até agora têm-se extraído este tipo de sedimentos mais rapidamente do que o tempo que estes levam a reproduzir-se com a ação do vento e da água sobre as rochas. Para os cientistas é necessário mapear estes recursos, monitorizá-los e reportar o que se extrai.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL