A Ilha da Culatra, situada na Ria Formosa, é um destino de grande beleza natural e com um passado histórico marcante. Entre os seus encantos, destaca-se a ligação a um dos acontecimentos mais importantes do século XX, a Primeira Guerra Mundial, também conhecida como Grande Guerra ou Guerra das Guerras. Apesar da sua pequena dimensão, esta ilha teve um papel estratégico durante o conflito.
A Ria Formosa é uma sapal localizado no Algarve, estendendo-se ao longo de vários concelhos, como Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António. Com uma extensão de cerca de 60 quilómetros e uma área aproximada de 18.400 hectares, este ecossistema é protegido pelo Parque Natural da Ria Formosa. Entre as suas cinco ilhas-barreira encontra-se a Ilha da Culatra, acessível apenas por barco.
Além da Culatra, na Ria Formosa situam-se as ilhas da Barreta, Armona, Tavira e Cabanas. Todas elas oferecem paisagens deslumbrantes e experiências únicas aos visitantes. A Ilha da Culatra, em particular, é um importante refúgio para a comunidade piscatória, que mantém tradições enraizadas e uma gastronomia de excelência.
A importância estratégica da ilha e a formação de Hangares
Segundo o Ncultura, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Ilha da Culatra foi escolhida como base para hidroaviões utilizados na vigilância e combate a submarinos. Em 1917, quando o conflito já se aproximava do fim, as autoridades francesas construíram um centro de aviação naval na ilha, aproveitando as condições ideais do local, como o extenso areal e a ausência de habitações.
Para dar suporte às operações aéreas, foram erguidos dois hangares de alvenaria voltados para a Ria Formosa. Estes hangares, ao longo do tempo, acabaram por dar nome a uma das povoações da ilha. Apesar de, atualmente, já não existirem hidroaviões na Culatra, a memória desta época permanece viva através da designação “Hangares”. “Onde mora o Algarve autêntico”, com uma comunidade maioritariamente composta por pescadores e suas famílias, segundo o portal Odissey Tours.
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Após o fim da guerra, em 1918, um pescador conhecido como Manuel “Lobisomem” estabeleceu-se na ilha, montando uma barraca de apoio à pesca. Com o passar dos anos, a presença humana foi crescendo, e outros pescadores e familiares fixaram-se na zona, dando origem a uma comunidade.
Em 1938, as instalações que haviam servido como base de hidroaviões foram reutilizadas pela Junta Autónoma de Portos do Sotavento do Algarve. O espaço passou a ser um centro de armazenamento de carvão, essencial para as operações de drenagem de águas.
Mais tarde, a Guarda Fiscal instalou-se na ilha com o objetivo de controlar o contrabando proveniente do sul. Os guardas e as suas famílias passaram a viver nas habitações da zona, muitas das quais hoje se encontram em ruínas, mas que ainda recordam esse período da história da Culatra.
Nos anos 1960, o Ministério da Marinha estabeleceu um campo de treino na ilha, onde eram realizadas demolições e exercícios de inativação de explosivos. Conhecido como o polígono de tiro da Culatra, este espaço funcionou durante décadas e foi desativado em 1998. Atualmente, apenas o arame farpado e as memórias dos habitantes testemunham essa época.
A história da ilha inspirou a publicação do livro Hangares. O Esforço de Guerra, de Rosa Neves, lançado em 2017. A autora, habitante dos Hangares, investigou a presença de pilotos franceses na Culatra, embora não tenha encontrado referências bibliográficas sobre o tema. Contudo, documentos oficiais confirmam que a construção do Centro de Aviação Marítima do Algarve foi supervisionada por um oficial da Marinha Portuguesa.
O jornal Sul Informação referiu que Rosa Neves encontrou registos de voos de pilotos portugueses mencionando a ilha da Culatra. A sua investigação revelou que já existiam ocupações humanas na ilha desde o século XIX, contrariando a ideia de que a Culatra só começou a ser povoada no século XX.
Em 2017, para assinalar o centenário da participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, foi inaugurado um monumento nos Hangares. A cerimónia contou com a assinatura de um protocolo entre a associação de moradores e a Marinha Portuguesa, reforçando a importância histórica da ilha.
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A Ilha da Culatra
Administrativamente, a Ilha da Culatra pertence ao concelho de Faro, embora esteja situada em frente a Olhão. Com cerca de sete quilómetros de praia, a ilha abriga uma comunidade de aproximadamente 750 habitantes, composta maioritariamente por pescadores, viveiristas e mariscadores.
As habitações da ilha são todas térreas, muitas delas decoradas com elementos ligados à pesca. Não há estradas, e as ruas são cobertas por lajes de cimento para facilitar a circulação. Além dos Hangares, existem mais duas povoações: a Culatra e o Farol.
Os habitantes referem-se à Culatra e ao Farol como se fossem ilhas distintas, embora façam parte da mesma ilha-barreira. A Culatra destaca-se pelas suas belas praias de areia fina e águas cristalinas, sendo um destino turístico muito procurado.
A localidade do Farol, situada na parte oeste da ilha, é conhecida pelo Farol do Cabo de Santa Maria, construído em 1851. Com 50 metros de altura, esta estrutura é um ponto de referência visível a longa distância.
Ao longo dos anos, a Culatra preservou as suas tradições e o seu equilíbrio com a natureza. A ilha continua a ser um local de grande valor histórico e ambiental, proporcionando uma experiência única a quem a visita.
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