O oásis dos tempos de normalidade já se faz sentir na Madeira, que nesta altura mantém temperaturas de verão, e assiste a uma retoma crescente de turistas de várias nacionalidades, com previsões de aumento até ao final do ano, e que se estendem até 2022.
“As perspetivas para outubro e novembro são fabulosas, e acredito que podemos ter um inverno ainda mais positivo que em 2019”, adianta Nuno Vale, presidente da Associação de Promoção da Madeira (APM), lembrando que a recuperação se sentiu sobretudo desde o segundo semestre e neste verão tardio. “Claro que iremos chegar ao final do ano abaixo de 2019, mas já há valores bastante próximos”.
Apesar de se seguirem todas as regras de prevenção, a região nota que os turistas se sentem cada vez mais à-vontade a usufruir das férias. “Estamos em crer que já passámos para uma fase diferente, em que todos os mercados começam a olhar a pandemia como algo do passado, e esperemos que não haja mais surpresas. Neste momento fala-se de desconfinamentos totais, e acredito que agora já não se deverá andar para trás.”
Os últimos dados oficiais dão conta que a região registou em agosto resultados turísticos já em linha dos obtidos antes da covid-19, totalizando 875,9 mil dormidas, num aumento de mais de 210% face ao período homólogo de 2020, e com um decréscimo de apenas 4,4% em relação a 2019.
LEVADAS E PASSEIOS PARA VER O NASCER DO SOL
“Em agosto estivemos próximos dos níveis de 2019 em dormidas, e até os conseguimos superar em hóspedes”, refere Nuno Vale. “Quando no início da pandemia se falava de uma recuperação só em 2023, estamos a ter na Madeira perspetivas de chegar ao final do ano bastante perto dos valores de 2019”.
Caminhar pelas levadas é uma das experiências que tem tido procura crescente, sobretudo desde a pandemia. Foto D.R. Francisco Correia
Para os hoteleiros, voltaram os tempos de ter as unidades cheias, com as pessoas ávidas por viajar, após um período longo de confinamentos e restrições. “Vamos fechar o mês de outubro com uma média de 93% de ocupação nos sete hotéis que temos na Madeira”, adianta António Trindade, presidente do grupo Porto Bay. “De meados de julho até dezembro, deveremos conseguir taxas de ocupação da ordem dos 90%.”
“Começa-se a sentir este ambiente de recuperação, como eu costumo dizer, é o verão a querer empurrar o inverno para a frente”, destaca António Trindade. “Estamos também muito otimistas em relação ao próximo ano, e a perceber que ganhámos um leque maior de clientela no destino.”
A pandemia também ajudou a trazer ao arquipélago novos turistas, e segundo o hoteleiro “tivemos este ano no nosso grupo, em comparação com 2019, uma descida média etária dos clientes entre seis e 10 anos, o que se liga a uma procura por novas experiências”.
Levadas e outros percursos pedestres, a par de programas para observação de cetáceos, ou mesmo para ver o nascer do sol, têm tido uma procura reforçada, apesar de não haver neste campo dados consolidados.
A oferta turística da Madeira tem-se diversificado também com atividades de mar, destacando-se a observação de baleias e outros cetáceos, com a possibilidade de nadar com golfinhos. Foto D.R. Pedro Ferreira
“Empiricamente constatamos que há uma maior diversidade de aproveitamento das ofertas que existem na região”, salienta o diretor da Associação de Promoção da Madeira.
“O perfil de turistas tem mudado desde a pandemia, tornou-se mais diversificado, com casais jovens e famílias a querer explorar melhor a região e a procurar produtos um pouco diferentes, que podem ser mais radicais ou de contemplação, até desportos de surf ou mergulho. Existe um conjunto muito vasto de experiências, e também há uma grande procura por explorar a ilha em carro próprio”, destaca Nuno Vale.
O REGRESSO “EM FORÇA” DE INGLESES E ALEMÃES
O destaque vai para o regresso dos estrangeiros de várias origens, em particular dos britânicos. “Estamos a ter agora, e até ao final do ano, uma consolidação importante do mercado inglês e do alemão”, frisa o presidente do grupo Porto Bay, enfatizando a relevância do mercado britânico “dadas as relações históricas, e que em muitos hotéis da Madeira pesa 50% ou mais”.
Ver o nascer do sol tornou-se num dos programas mais populares da ilha para os ‘novos turistas’. Foto D.R. Joel Santos
Em agosto, os turistas britânicos na Madeira registaram um crescimento de 492% relativamente ao mês homólogo de 2020, mas no acumulado do ano, desde janeiro, recuaram 2,2%. “Apesar de haver agora crescimento, não nos podemos esquecer que, na análise anual, ingleses, alemães e escandinavos desceram”, faz notar António Trindade.
“Para outubro e novembro temos perspetivas muito positivas em relação ao mercado inglês, as operações estão a ser repostas e as companhias a aumentar a capacidade no inverno face ao que tinham no verão”, avança o diretor da Associação de Promoção da Madeira.
RETOMA DAS OPERAÇÕES NOS MERCADOS NÓRDICOS
“Do lado de Inglaterra, as vendas estão bastante fortes, ainda mais que no verão, e acredito que vamos ter um inverno muito positivo em turistas britânicos, até superior ao que foi em 2019”, frisa Nuno Vale.
“Também acreditamos que este inverno o mercado alemão vai retomar a sua força”, prossegue o responsável da APM, adiantando haver “companhias aéreas novas a iniciar cinco rotas da Alemanha para o Funchal”, designadamente a Coredon Airlines, complementando a oferta da Lufthansa, da Condor ou da Wizzair.
Os turistas alemães na Madeira registaram em agosto um aumento de 93,7% em dormidas comparativamente ao mesmo mês de 2020, mas no acumulado do ano foi o que registou a maior quebra, de 39,7%. Olhando para o agosto antes da pandemia, em 2019, os alemães na região ainda somam uma descida de 43,3%.
A capacidade aérea foi seriamente abalada com a situação da covid-19 “e estamos agora na perspetiva de retomar as operações, também com mercados nórdicos como Dinamarca e Finlândia”, aponta o responsável da APM, enfatizando que a pandemia também abriu novos mercados “que têm estado a funcionar muito bem”, com destaque para a Polónia.
PORTUGUESES ‘NEWCOMERS’ JÁ SE ESTÃO A TORNAR CLIENTES REPETENTES
O principal fenómeno de crescimento na Madeira durante a pandemia foi mesmo o dos turistas nacionais – que em agosto deste ano subiram 88,5% em dormidas face ao mesmo mês de 2020, e com um crescimento assinalável de 66,5% em relação ao homólogo de 2019, antes de haver pandemia. No acumulado de 2021, os portugueses do continente somam na região um crescimento de 117%, numa tendência oposta à queda generalizada que se verificou nos mercados externos.
Os hotéis da região estão a voltar aos tempos de ocupações próximas da capacidade total. Foto D.R. Hotel Porto Mare
O hoteleiro António Trindade enfatiza a importância destes turistas portugueses “newcomers”, que além de terem ajudado a compensar a quebra de outros mercados mais tradicionais, também trouxeram à região uma lufada de ar fresco.
“A Madeira conseguiu ter uma conotação de exotismo suficiente para captar determinados segmentos de turistas nacionais que costumavam ir de férias às Seychelles, às Maldivas ou ao Brasil”, faz notar. “Esta gente descobriu a Madeira, que era a alternativa às viagens de longo curso, e encantou-se com o destino. Estes portugueses que foram à Madeira durante o inverno começaram a querer voltar no verão, sobretudo desde meados de julho quando o mercado abriu.”
“A Madeira tinha naturalmente uma média etária mais elevada de clientes, que eram aqueles que tinham mais receio de viajar”, lembra o presidente do grupo Porto Bay. “Nós assistimos a uma redução drástica dos clientes que eram fiéis, mas que foi muito substituída pela curiosidade gerada em novos segmentos, sobretudo de turistas nacionais.” Estes portugueses do continente referem-se sobretudo “a uma geração nova de executivos que procurou os hotéis de cinco estrelas”.
Os turistas mais tradicionais da Madeira estão de momento a regressar, e “neste fim de verão, e já no outono, estamos a ter taxas de ocupação muito elevadas porque os ‘old repeaters’ se estão a juntar aos ‘new repeaters'”, destaca o hoteleiro, que durante a pandemia avançou com um pacote de 5,5 milhões de euros em remodelações, também a pensar nos novos turistas, e “acreditando que havia um ‘day after'”.
CRUZEIROS A REGRESSAR, TAP AINDA SEM RETOMAR AS LIGAÇÕES QUE TINHA À REGIÃO
Lembrando que a TAP “é um dos grandes fornecedores de turistas para a Madeira”, e que em 2019 representava 25% de todo o tráfego aéreo para a região, António Trindade frisa que a transportadora “baixou drasticamente” as ligações à região.
Turistas de várias origens estão a voltar à região numa fase em que são levantadas as restrições às viagens. Foto D.R. Francisco Correia
“A informação que temos é que os planos da companhia para a Madeira não preveem a retoma no número de frequências que havia anteriormente”, adianta o presidente do grupo hoteleiro, frisando que “a Madeira precisa muito de uma definição estratégica da TAP nas suas ligações diretas e utilização dos hubs de Lisboa e do Porto”, e apelando a que “haja uma política de frequências que proteja melhor os passageiros, criando voos ‘corridos’ das origens mais populares”.
António Trindade lembra ainda que o aeroporto de Lisboa “não serve só Lisboa, mas também o Algarve, a Madeira e os Açores”, e salienta: “com a recuperação de tráfego que está a haver, vamos atingir a curto prazo números na Portela parecidos com 2019, de difícil utilização, o que no caso da Madeira gera alguns receios”.
Também os cruzeiros estão a retomar na região, esperando-se até ao final do ano mais de 100 escalas. Em outubro, os portos da Madeira receberam doze cruzeiros em 13 dias, estando até ao fim do mês previstas mais 29 escalas de navios no Funchal e no Porto Santo, a que se somam 58 em novembro, apesar de não haver certezas quanto à concretização total destas operações.
Segundo o presidente da APM, “não sabemos ainda qual a dimensão desta retoma, mas é muito positivo os cruzeiros estarem a voltar à Madeira”.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso