O setor agrícola é responsável por 75% do total de água utilizada em Portugal, acima da média da União Europeia (24%) e mundial (69%), devido às culturas de regadio, segundo um estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.
“Em Portugal, o setor agrícola é responsável por 75% do total de água utilizada, um número que contrasta com a média da União Europeia (24%) e chega a ser superior à média mundial (69%)”, revelou o estudo “O uso da água em Portugal – olhar, compreender e atuar com os protagonistas chave”, encomendado pela fundação ao C-Lab – The Consumer Intelligence Lab.
Porém, esta percentagem está em linha com o que se verifica nos países mediterrâneos, como Espanha (79%) e Grécia (81%), o que acontece devido à existência de regadio.
Nestas culturas, a rega vai substituir a falta de chuva e compensar o calor verificado nas estações quentes.
Em 2016, a área agrícola regada no país “correspondia aproximadamente à região do Algarve”, o equivalente a 5% do território nacional.
Contudo, a “agricultura de sequeiro ainda define a maioria da superfície utilizada para a agricultura em Portugal”.
Segundo a mesma análise, 71% dos agricultores não tem contador de água, sendo este recurso, sobretudo, retirado a partir de furos, charcas, poços e outras estruturas (56%).
Segue-se ao acesso público (35%), através de barragens e outras infraestruturas de rega), e por coletivo privado (9%), ou seja, partilhado com outros agricultores ou sociedades.
As barragens públicas servem um terço da área regada, porém, “a barragem do Alqueva constituiu um grande contributo para a evolução do regadio nos últimos anos, correspondendo o Alentejo a cerca de metade da área regada do país”, indicou.
No que concerne à escassez de água, o estudo revelou, tendo por base o ‘Water Exploitation Index’ da ONU, que, de um modo geral, a situação em Portugal “não é problemática”, embora este indicador não incorpore o impacto das alterações climáticas e as projeções de consumo.
No sentido oposto, a análise do World Resources Institute para 2040, que integra as hipóteses em causa, aponta que 33 países vão enfrentar “riscos extremamente elevados de stress hídrico”, que ocorrem quando a captação de água para consumo é superior a 80% das disponibilidades médias anuais do país.
Destacam-se neste alerta o Norte de África e o Médio Oriente.
Com um “risco elevado”, ou seja, quando o consumo de água está entre 40% e 80% das disponibilidades, são identificados 26 países, incluindo Portugal.
Por região, a zona abaixo do Tejo apresenta o nível máximo de risco “e é precisamente no Alentejo e no Algarve onde se registaram mais secas de maior dimensão e gravidade ao longo de todo o século XX”.
Já no que concerne à transição para uma agricultura mais sustentável ao nível da poupança de água, 65% dos agricultores referiram utilizar um sistema de rega gota-a-gota, mas só 3% dos inquiridos adotaram medidas mais avançadas para a gestão da água.
Dos que adotaram novas tecnologias, a grande maioria (85%) garantiu poupar água, “uma evidência que se torna ainda mais significativa para quem usa aspersores”.
No mesmo sentido, também 85% dos agricultores afirmaram gastar menor energia pela otimização da rega, enquanto 66% gastam menos fertilizantes e 77% ganham tempo utilizando o controlo pelo computador ou telemóvel.
“Mobilizar para uma mudança que tem uma forte componente tecnológica exige partilha de conhecimento e 86% dos agricultores concordam que hoje há mais partilha de informação do que há 10 anos”, notou.
Em Portugal, o número de explorações agrícolas passou de 416 mil em 1999 para 259 mil em 2016, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), citados no estudo.
Por sua vez, a dimensão média das explorações fixava-se em 9,3 hectares em 1999, número que passou a 14,1 hectares em 2016.
Para a elaboração deste estudo foram realizadas 52 entrevistas, que resultaram em mais de 100 horas de conversas.
Adicionalmente, o estudo qualitativo contou com uma amostra de 15 agricultores a residir em Portugal continental, que regam as suas culturas e vendem a produção no mercado nacional ou internacional.
Já o estudo quantitativo abrangeu uma amostra de 335 indivíduos (amostra nacional) e mais 155 (para garantir “relevância estatística e uma análise ais aprofundada das regiões Centro, Alentejo e Algarve”).