A Kitch, empresa tecnológica que pretende ajudar os restaurantes independentes na transição para o digital, captou uma ronda de investimento seed (semente) no valor de 3,25 milhões de euros. A ronda foi liderada pela Atlantic Food Labs e acompanhada pela Market One Capital e pelos dois fundos que tinham investido na empresa em maio do ano passado: o Mustard Seed MAZE, fundo de impacto social criado pela portuguesa Maze e pela britânica Mustard Seed, e os britânicos da Seedcamp, que também são investidores da Revolut.
O conselho de administração da empresa “passa a integrar um sócio da Atlantic Food Labs e os restantes fundos também têm lugar e continuarão a trabalhar connosco”, diz ao Expresso o cofundador e presidente executivo Rui Bento.
O capital vai servir para a empresa fundada por Rui Bento (antigo diretor-geral da Uber em Portugal, na Península Ibérica e, posteriormente, no Sul da Europa) e Nuno Rodrigues (ex-diretor de operações da Uber para o Sul da Europa e em Portugal) apostarem no desenvolvimento do produto e das operações, adianta Rui Bento em conferência de imprensa.
Contabilizando mais de 100 clientes em Lisboa e no Porto, a empresa quer assim “trabalhar com mais restaurantes, independentemente da sua localização geográfica” e potenciar o “net promoter score, ou seja, o nível de satisfação dos restaurantes que trabalham connosco”. 100 Maneiras, Umikai, Boa-Bao, Amélia, Soão e Reco-Reco são alguns desses clientes.
Com esta ronda de financiamento, a Kitch apresenta também ao mercado o seu reposicionamento como marca de tecnologia para ajudar os restaurantes independentes na transição para o digital, dando-lhes “mais autonomia e maior controlo” sobre o negócio digital, diz o presidente executivo da empresa.
A empresa – que foi lançada em março do ano passado, na altura em que a pandemia de covid-19 levava Portugal ao estado de emergência – distancia-se assim da sua proposta de valor inicial, que passava por disponibilizar um mercado virtual dos restaurantes preferidos da cidade (e que normalmente estavam ausentes nas aplicações de entregas existentes), disponibilizando-lhes duas cozinhas virtuais na cidade (as denominadas shadow kitchens), além de tecnologia.
“Com a pandemia, cada vez mais restaurantes começaram a pedir acesso à nossa tecnologia”, explica Rui Bento. “Por isso, resolvemos disponibilizar a Kitch Tech a mais restaurantes e apoiar os restaurantes independentes. Com as aplicações que existem no mercado, os restaurantes têm que pagar, muitas vezes, taxas difíceis de comportar, além de perderem controlo das suas marcas. Com a Kitch, podem fazer entregas digitais sem abdicarem da sua independência.”
A TECNOLOGIA KITCH
“Estamos empenhados em apoiar os restaurantes independentes”, sublinha a empresa em comunicado. “Os restaurantes independentes travam uma batalha constante. Uma batalha contra a pressão de cadeias multinacionais, contra os preços de rendas em constante subida e, agora, contra uma pandemia que lhes retirou a única coisa que tomavam como garantida – os seus clientes, que entravam todos os dias pelas suas portas.”
Como tal, a startup portuguesa disponibiliza aos restaurantes quatro produtos diferentes: Store, Connect, Deliver e Control.
Com o Store, o restaurante tem a possibilidade de criar a sua loja online independente, vendendo os seus pratos para entregas e take-away e recuperando assim a ligação direta com os clientes (que se perde nas aplicações tradicionais como a Uber Eats ou a Glovo). O restaurante é o protagonista na loja online, ficando a cargo da Kitch os pagamentos, as entregas e o apoio ao cliente.
O Connect permite a gestão integrada das vendas online: ou seja, todos os pedidos de entregas e take-away do restaurante são geridos a partir de um único tablet, sejam pedidos da sua loja independente ou de outras aplicações como a Uber Eats, a Glovo ou a Bolt Food.
A Kitch disponibiliza também o Deliver, que liga o restaurante a frotas profissionais de estafetas, permitindo-lhe decidir onde quer entregar as suas refeições – até um raio de sete quilómetros –, ao contrário do que acontece com as apps de entregas em que o raio de abrangência é definido pela própria aplicação. “O restaurante decide onde as suas refeições são entregues na cidade, podendo servir áreas com até quatro vezes mais clientes do que as principais aplicações de entregas – tanto na sua loja online, como nas aplicações de entrega”, diz a empresa em comunicado.
Por fim, o Control reúne toda a informação de vendas, em todos os canais e aplicações, num só sítio, para que o restaurante esteja em controlo, para que consiga “acompanhar com detalhe o seu negócio, as suas vendas, independentemente dos canais de onde estas venham”, explica o presidente executivo da startup.
O serviço disponibilizado pela Kitch assenta num modelo de subscrição – um custo, para o restaurante, de 49 euros por mês –, além de cobrar 5,9% de taxa de processamento de pagamentos, entregas e apoio ao cliente e três euros por cada entrega realizada. Custos que, acredita Rui Bento, “são bastante mais competitivos” do que os das aplicações de entrega no mercado, que cobram “muitas vezes taxas incomportáveis para os restaurantes”.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso